Adubação racional é destaque nas técnicas de manejo de solo
Fator importante e que merece a devida atenção é a ciclagem nutriente
O Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) somam esforços para combater as principais doenças da citricultura, como a CVC (amarelinho), a morte súbita dos citros e em especial o greening, com incidência de 44% nos pomares paulistas em 2024. Para reforçar essas ações, as três instituições criam o Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA), lançado em 12/12 em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, pelo governador Tarcísio de Freitas.
O Centro contará com investimento total de R$ 200 milhões nos próximos cinco anos, renováveis por mais cinco. Deste total, R$ 90 milhões serão aportados pelo Fundecitrus e FAPESP e os demais recursos correspondem a contrapartida não financeira, na forma de investimentos em infraestrutura, salários de técnicos, dentre outros itens. O Centro terá como missão desenvolver pesquisa, difundir conhecimento e transferir tecnologia para o setor, que é responsável por 8,2% das exportações paulistas e por 45 mil empregos no Estado.
“A parceria entre Fapesp e Fundecitrus é histórica. Juntos conseguimos importantes resultados em pesquisa, ao longo de quase 20 anos, para estabelecermos estratégias eficazes para mitigação e a compreensão do greening. Agora, demos um passo muito importante que vai transformar a citricultura no estado de São Paulo”, explica Márcio de Castro Silva e Filho, diretor-científico da Fapesp. As duas instituições foram parceiras no Projeto Genoma, que, em 2000, sequenciou pela primeira vez o genoma de uma bactéria de interesse econômico, a Xylella fastidiosa – causadora do amarelinho, fazendo avançar a pesquisa em biotecnologia no país.
A principal linha de trabalho do CPA será promover a formação de novos grupos de pesquisa e consolidar outros já estabelecidos, visando o controle do greening, particularmente nas áreas de conhecimento ainda não cobertas atualmente. Para o diretor-executivo do Fundecitrus, Juliano Ayres, a construção conjunta do CPA é uma conquista de uma frente ampla de trabalho comprometida com o setor. “Estamos no momento de realização de um sonho! O CPA representa a construção conjunta de um projeto que tem um objetivo muito claro, que é promover a sustentabilidade fitossanitária e econômica da citricultura, tão importante para a economia do estado de São Paulo. Com ele, renovamos, uma vez mais, o compromisso público e privado com o setor diante do sério desafio de mitigar a incidência do greening e, quem sabe, no futuro, encontrar um caminho sustentável para a prevenção da doença e/ou a sua cura”, diz.
Atualmente, o número total de propriedades onde se cultiva citros é quase metade do que havia no período pré-greening. A área de produção de laranja caiu 36,5% e as frutas são produzidas a custos cerca de 20% mais elevados. Levantamentos anuais têm mostrado um aumento dramático nas árvores afetadas pelo greening, de 0,6% em 2008 para 44,4% em 2024, em média. Em algumas regiões tradicionais de cultivo de citros, a incidência da doença ultrapassa 60%. Só em 2024, a incidência de greening é equivalente a 90,7 milhões de árvores que estão irremediavelmente condenadas, tal como as mais de 64 milhões de árvores adicionais eliminadas desde 2004 na tentativa de controlar a doença.
“A doença chama muito atenção pela sua capacidade de impactar, negativamente, a produtividade dos pomares, colocando em risco a sustentabilidade de uma cadeia produtiva. O CPA foi concebido para descobrir caminhos e, muito em breve, oferecer respostas ao manejo mais eficaz da doença. Nosso trabalho terá o foco de atender essa demanda tão importante e minimizar o impacto nas safras”, reforça a pesquisadora Lilian Amorim, pesquisadora da Esalq/USP e diretora do CPA.
Nas últimas cinco safras de laranja, o greening causou queda prematura de frutos equivalente a 97,2 milhões de caixas, levando a uma perda estimada de US$ 972 milhões de receita. Esse cenário se torna ainda mais grave devido ao crescente aumento da população do inseto vetor nos últimos anos, resultando no incremento de mais de dez vezes de 2019 a 2024, decorrente, entre outros fatores, da seleção de indivíduos resistentes aos inseticidas, antevendo o progresso da disseminação da doença nos próximos anos.
As principais linhas de pesquisa acadêmica do CPA envolvem o entendimento das interações patógeno-planta-vetor, com ênfase na histopatologia, fisiologia e metabolismo do hospedeiro (citros), genética da interação planta-patógeno hospedeiro e consequências das mudanças climáticas. As pesquisas de cunho aplicado englobam o manejo do greening, com ênfase em resistência genética do hospedeiro e em medidas de controle químico, biológico, físico e cultural da bactéria e de seu vetor.
Outra linha aplicada de pesquisa, voltada à mitigação de danos e aumento da produção, dará ênfase ao sistema de produção, nutrição das plantas e redução dos danos, avaliação de perdas, risco de ocorrência da doença e análise econômica das medidas de manejo e seus impactos. No entanto, pesquisas com outros aspectos da cultura poderão ser desenvolvidas no futuro.
Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Guilherme Piai, a citricultura paulista é vitrine para o mundo, com impactos importantíssimos na socioeconomia. “Estamos falando de um setor que ocupa o posto de maior exportador no seu segmento no planeta. O estado de São Paulo quer que a citricultura seja cada vez mais forte para enfrentar essa doença desafiadora. E isso só é possível com a construção de parcerias que fomentem o desenvolvimento de pesquisas. O CPA conta com o que há de melhor no nosso estado no que diz respeito à linha de investimentos e pesquisadores. Estamos muito otimistas para colhermos resultados e disseminar conhecimento”, revela.
Para além da pesquisa, o CPA terá forte atuação no ensino, na difusão de conhecimento e na transferência de tecnologia. No ensino, o centro atuará nas ações de formação de recursos humanos já desenvolvidas pelas instituições parceiras, como programas de pós-graduação strictu e lato sensu, mas também no oferecimento de cursos à distância, online, visando alcançar público mais amplo e diverso. A transferência de tecnologia será realizada tanto por pesquisadores do CPA quanto por técnicos da Cati e da Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
O CPA será sediado na Esalq/USP, em Piracicaba (SP). Além do Fundecitrus, o centro contará com pesquisadores de outras unidades da USP (Cena, FZEA, FCFRP), UFSCar, Unicamp, Instituto Biológico, Unesp, IAC e Embrapa. Pesquisadores de instituições estrangeiras, como Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento - Cirad (França), Conselho Superior de Pesquisas Científicas-CSIC (Espanha), Instituto Andaluz de Pesquisa e Formação Agrária, Pesqueira, Alimentar e da Produção Ecológica-Ifapa (Espanha), Universidade da Flórida (EUA), Universidade da Califórnia (EUA), Departamento de Agricultura e Pesca, Governo de Queensland (Austrália), Universidade de Durham (Inglaterra), Universidade de Cambridge (Inglaterra), Universidade de Warwick (Inglaterra) e Universidade do Algarve (Portugal) também atuarão como colaboradores.
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