Seca deste ano é a maior da história, aponta o Cemaden

De acordo com Nota Técnica, a seca afeta 59% do território nacional, castigando sobretudo o Pantanal

11.12.2024 | 16:07 (UTC -3)
João Prestes

A seca iniciada em 2023 e que ainda persiste – com índices de chuvas abaixo da média histórica – abrange cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a 59% do território nacional. Os dados estão na Nota Técnica do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) elaborada no início do mês, que traça um panorama das condições climáticas dos últimos 75 anos e confirma que os biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal atravessam a pior seca desde 1950.

O Cemtec/MS (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), tem analisado os dados climáticos dos últimos anos e emitido reiterados alertas para anomalias tanto nos baixos índices de chuvas, que provocam a redução do volume dos rios, como para a elevação das temperaturas, o que agrava a situação e exige cuidados especiais e medidas para adaptação à nova realidade.

Os registros em azul apontam temperaturas abaixo da média histórica e os em vermelho, acima.
Os registros em azul apontam temperaturas abaixo da média histórica e os em vermelho, acima.

Antes dessa seca, a pior verificada até então foi a de 2015-2016 que afetou cerca de 4,6 milhões de quilômetros quadrados (aproximadamente 54% do país). O registro anterior de maior gravidade foi a seca de 1997-1998, com abrangência de cerca de 3,6 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a 42% do território nacional.

Até setembro de 2024, aproximadamente 1.200 municípios no Brasil enfrentaram condições de seca severa. No mês de julho, dos 45 municípios sul-mato-grossenses analisados pelo Cemtec-MS, 31 municípios tiveram chuvas muito abaixo da média histórica. A região do Pantanal tem experimentado secas severas e prolongadas desde 2019, com os anos de 2019-2022 marcados por eventos climáticos extremos, incluindo três episódios consecutivos de El Niño, que consiste no aquecimento das águas do Oceano Pacífico, fenômeno que provoca alterações climáticas em todo planeta.

“A precipitação abaixo da média, as altas temperaturas, somado aos níveis críticos dos rios, indicam uma situação de escassez hídrica extrema e crescente vulnerabilidade ambiental. Esta combinação de fatores cria um ambiente propício à propagação de incêndios florestais no Pantanal, que já têm sido uma preocupação recorrente no Pantanal durante os períodos de seca. Além disso, a escassez dos recursos hídricos agrava os desafios relacionados ao abastecimento de água, à agricultura e à pecuária, e compromete o funcionamento de serviços ecossistêmicos vitais, como a regulação do clima e a manutenção da biodiversidade”, prossegue o estudo do Cemaden.

No dia 18 de outubro passado o rio Paraguai atingiu o menor nível histórico registrado na estação fluviométrica de Ladário, -69 centímetros. A situação crítica não se limitou à região de Ladário, já que em Porto Murtinho foi batido outro recorde mínimo de apenas 53 centímetros em 24 de outubro. Diante disso, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) emitiu alerta para riscos ambientais e operacionais associados ao evento extremo.

Prognóstico feito pelos técnicos do Cemtec/MS com base em diferentes modelos climatológicos conclui que as chuvas devem ficar dentro ou próximo da média histórica em Mato Grosso do Sul, durante a Primavera que termina agora em dezembro. Já as temperaturas tendem a fechar o período acima da média histórica, o que reforça o alerta para risco de ocorrência de incêndios florestais, sobretudo nas regiões Pantanal e Sudoeste.

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