Ex-pesquisador da Embrapa deixa legado científico e social

Um homem que viveu intensamente para a Embrapa, empresa que o acolheu há mais de 30 anos. Antonio Pereira de Novaes, 70 anos, médico veterinário, pesquisador, violonista, mestre de banda, compositor de dobrados, entre outras atividades sociais que desenvolvia dentro e fora da cidade, faleceu perto do meio-dia desta sexta-feira (18), na Santa Casa de Misericórdia de São Carlos, ao lado da mulher, da filha e amigos.

 

Dr. Novaes, como era carinhosamente chamado por todos, foi um homem de sabedoria nata. Fez de tudo na vida. Ex-ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde ocupava o cargo de controlador de movimento, o pesquisador entrou na Embrapa em 1976, atuando primeiro na Embrapa Pecuária Sudeste. Depois se transferiu para a Embrapa Instrumentação, onde permaneceu até 21 de maio 2001, quando encerrou suas atividades na Empresa como empregado. Porém, continuou a prestar serviços à Embrapa como consultor até maio de 2008.

 

O nome Novaes é quase uma marca, por estar associado às suas invenções, de grande importância social e ambiental para a sociedade, como a Fossa Séptica Biodigestora e Clorador Embrapa, tecnologias que ganharam o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2003.

 

A Fossa Biodigestora é um sistema simples e barato de tratar o esgoto na zona rural, onde falta saneamento básico. Nesse sistema, a tubulação do vaso sanitário é desviada para caixas de fibrocimento, nos quais os coliformes fecais são transformados em adubo orgânico, pelo processo de biodigestão. Estima-se que atualmente já foram instaladas mais de cinco mil unidades da Fossa Séptica Biodigestora em todo o país.

 

“Uma demonstração clara de que as instituições brasileiras são capazes de, com criatividade e eficiência, fazer frente aos inúmeros desafios sociais existentes, e que, com sua atuação, estão contribuindo para melhorar a realidade social em nosso País”, assim manifestou o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Penna, à época.

 

Amigos, colaboradores e empregados da Embrapa Instrumentação ficaram consternados com o falecimento do colega. O pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva, que está dando continuidade ao trabalho do pesquisador Antonio Pereira de Novaes, sobre o processo de saneamento básico na zona rural, disse: “O Dr. Novaes era uma pessoa aguerrida, aplicada e boa gente. Sempre corria atrás dos seus objetivos. A Fossa Séptica é um projeto que fica pro futuro e todo trabalho humanitário com o pequeno agricultor. Com certeza deixará saudade!”.

 

O coordenador do Laboratório Virtual da Embrapa nos Estados Unidos (Labex), Ladislau Martin Neto, que acompanhou a invenção da Fossa Séptica Biodigestora e toda a história de sucesso da tecnologia, enviou uma mensagem, do estado do Colorado, ressaltando a importância do pesquisador como ser humano e profissional. “O que dizer do Novaes. Primeiro ser humano maravilhoso e grande amigo. Através do desenvolvimento da Fossa Séptica Biodigestora ajudou a inserir a Embrapa Instrumentação á nova área de pesquisa de imensa importância, ligando agricultura ao saneamento rural e saúde pública. Com isso, nos levou a vencer em 2003 o importante Prêmio Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil. Poderia mencionar outras contribuições incluindo o aparelho de ultrassom para detecção de prenhez para grandes e pequenos animais, mas o mais relevante era sua postura de visionário, baseado em ciência e sua motivação e energia positiva e contagiante”.

 

Para o chefe geral da Embrapa Instrumentação, Luiz Henrique Capparelli Mattoso, “o Dr. Novaes, sem dúvida nenhuma, deixou uma contribuição valiosíssima para um setor importante, a Agricultura Familiar Brasileira, com o desenvolvimento de tecnologias extremamente úteis para o pequeno produtor rural. Além de seu legado científico o Dr. Novaes deixa o exemplo de sua simplicidade, humildade e preocupação com o homem do campo."

 

"A morte de Antonio Pereira de Novaes é uma perda irreparável para a comunidade científica e para a sociedade são-carlense, principalmente para a comunidade rural e ambientalista, já que ele foi o responsável pelo desenvolvimento da Fossa Séptica, uma grande tecnologia para minimizar os problemas ambientais", disse o prefeito de São Carlos, Oswaldo Barba.

 

“Lamento a morte do Dr. Novaes. Quando fui prefeito de São Carlos ele ajudou a cidade a melhorar os indicadores de saúde da população rural coordenando o projeto que resultou na instalação de fossas sépticas biodigestoras nas propriedades rurais. Era um pesquisador com uma grande sensibilidade social”, declarou o deputado federal Newton Lima Neto.

 

O ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana, lamentou a morte do colega. “Conheci Dr. Novaes na Embrapa Pecuária Sudeste em 1984, quando o Dr. Paulo Cruvinel e eu ingressamos na instituição. Sempre me impressionou a dimensão humana que ele demonstrava em suas relações, sempre preocupado em transferir o conhecimento para a sociedade. Criatividade era o seu ponto forte, chamava-o de “professor pardal”, era curioso, persistente e objetivo. Lidava com contenção de animal, ministrava cursos para os bombeiros e a defesa civil. Suas três características eram interesse humano, difusão do conhecimento e iniciativa em pesquisas. Tenho ótimas lembranças do Dr. Novaes nos seus exemplos de ser humano, colega e cientista.”

 

Joana Silva

Embrapa Instrumentação

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