Estudo revela concentração da produção agrícola no Brasil

Análise da Embrapa Territorial revela como a produção de grãos, fibras e frutas se distribui pelo País

23.09.2025 | 14:05 (UTC -3)
Vivian Chies, edição Revista Cultivar
Foto: Edna Santos
Foto: Edna Santos

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de algodão, laranja, soja e milho, mas a distribuição dessas cadeias produtivas pelo território nacional não é uniforme. Grande parte da produção está concentrada em algumas áreas específicas, segundo dados do Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária (Site-MLog), plataforma online da Embrapa Territorial (SP). O estudo revela como os dez principais produtos agropecuários destinados à exportação estão distribuídos pelo País.

No caso do algodão, por exemplo, metade da produção nacional em 2023 se concentrou em apenas três microrregiões: Parecis e Alto Teles Pires, no Mato Grosso, e Barreiras, na Bahia. Já a laranja permanece fortemente centralizada em São Paulo, estado responsável historicamente pela cultura. Dentro do próprio território paulista, poucas regiões respondem por fatia expressiva da colheita: Avaré, Bauru, Botucatu e São João da Boa Vista concentraram um quarto da produção no último ano.

De acordo com André Rodrigo Farias, analista da Embrapa Territorial, a concentração de atividades agropecuárias decorre de fatores diversos, como exigências técnicas e condições históricas de produção. “A cultura do algodão, por exemplo, demanda maquinário e estruturas de beneficiamento específicas, com investimentos de longo prazo. Isso restringe a expansão para novas áreas e favorece a consolidação em regiões já competitivas”, explica.

Café e eucalipto

Culturas perenes como café e eucalipto também tendem a formar polos produtivos, em função da necessidade de condições específicas de solo e clima, além dos altos custos de implantação. No caso do eucalipto, embora os plantios estejam espalhados por dez estados, três microrregiões — Três Lagoas (MS), Bauru (SP) e Porto Seguro (BA) — respondem por um quarto da produção nacional de madeira para celulose e papel.

O café mantém Minas Gerais como maior produtor do País, mas outros polos relevantes aparecem em estados como Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Rondônia. “Por serem perenes e exigentes em condições edafoclimáticas específicas, essas culturas demandam investimentos concentrados em locais com maior aptidão ambiental, social e econômica. Isso contrasta com grãos como soja e milho, que têm ciclo curto e maior flexibilidade de cultivo em diferentes regiões”, avalia Farias.

Cana e grãos

A produção de cana-de-açúcar, embora historicamente vinculada a São Paulo, expandiu-se para estados vizinhos. Em 2023, metade da colheita brasileira, próxima a 400 milhões de toneladas, foi obtida em 20 microrregiões que incluem também áreas de Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

Já soja e milho apresentam ampla presença nacional, mas a maior parte da produção segue concentrada no Centro-Oeste. No ano passado, um quarto do milho saiu de apenas quatro microrregiões: Alto Teles Pires (MT), Dourados (MS), Sinop (MT) e Sudoeste de Goiás (GO). No caso da soja, seis microrregiões responderam por um quarto do total colhido.

Impactos na logística

A concentração produtiva tem efeito direto sobre a logística do agronegócio, tema central do Site-MLog. Regiões altamente especializadas, como as de café e laranja, utilizam majoritariamente rotas já consolidadas, como o Porto de Santos (SP). Já cadeias mais pulverizadas, como soja e milho, geram disputa constante entre diferentes alternativas de transporte — rodoviário, ferroviário ou hidroviário —, bem como entre portos e estruturas de armazenagem.

“A análise de concentração também orienta estratégias de incremento de produtividade e adoção de tecnologias, já que os esforços podem ser priorizados nas regiões que concentram maiores volumes, aumentando a eficácia das políticas e investimentos”, acrescenta Farias.

Sobre a plataforma

Lançado em 2018 e atualizado em 2024, o Site-MLog oferece painéis dinâmicos sobre produção, exportação e infraestrutura logística de dez cadeias do agronegócio brasileiro: algodão, bovinos, café, cana-de-açúcar, galináceos, laranja, madeira para papel e celulose, milho, soja e suínos.

O sistema é gratuito e acessível no portal da Embrapa, permitindo consultas por todo o território nacional ou por estados e regiões. A ferramenta disponibiliza mapas e gráficos com base em dados oficiais, apoiando decisões tanto do setor público quanto da iniciativa privada.

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