Erik Fyrwald: “orgânico prejudica o clima”

Em entrevista ao jornal suíço NZZ, CEO da Syngenta explica a situação atual da agricultura e desafios enfrentados

09.05.2022 | 17:12 (UTC -3)
Cultivar

Dependendo do produto, os rendimentos na agricultura orgânica podem ser até 50% menores. E, enquanto o consumo de orgânicos cresce na Europa, sua produção crescente resulta em menor produtividade, afetando a exportação e a oferta de alimentos para outras regiões, como a África. A consequência indireta é que os africanos estão passando fome porque os europeus comem cada vez mais produtos orgânicos. A situação, quase paradoxal, é explicada pelo CEO da Syngenta, Erik Fyrwald, em entrevista concedida ao jornal suíço Neue Zürcher Zeitung (link ao final). O equilíbrio viria, na sua opinião, por uma reorientação global da agricultura.

A questão se torna urgente e crucial, na opinião de Fyrwald, devido à invasão na Ucrânia. No próximo outono europeu a colheita da Ucrânia pode ficar retida no país porque os portos ucranianos estão sendo atacados e ocupados pelos russos. Isso impedirá o escoamento da produção de grãos do país, que alimenta 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Um grave problema a ser resolvido agora, ou a carência por alimentos se estenderá a outras regiões. As sanções econômicas à Rússia e o bloqueio da Ucrânia são preocupantes.

Fyrwald diz que a Europa, por sua vez, não consegue aumentar a produção devido às leis restritivas para o uso de tecnologias avançadas. A agricultura orgânica produz 50% a menos no momento, resultado da proibição do uso de muitos defensivos, quando já é possível tornar as variedades que existem mais resistentes contra o calor, fungos ou pragas. A médio e longo prazo o problema só será resolvido com a adoção de novas tecnologias.

Não se trata mais de tecnologia genética clássica, mas de edição de genoma, tornando as variedades mais resistentes usando métodos já conhecidos, semelhantes ao processo evolutivo natural. O CEO da Syngenta diz que o apoio necessário aos agricultores de todo o mundo passa pela adição de genoma capaz de aumentar a resistência das plantas aos extremos climáticos e melhora do rendimento do produtor. Não se trata mais de pensar a longo prazo, explica Fyrwald, porque o problema é urgente e agudo. Quase como o esforço feito para a contenção do Covid-19, quando a pesquisa rápida capacitou a obtenção de vacinas eficazes, desenvolvidas e aprovadas rapidamente.

Fyrwald também diz que a festejada produção de orgânicos na verdade também prejudica o clima e promove o uso da terra. A agricultura orgânica requer áreas maiores e os campos geralmente precisam ser arados, o que aumenta as emissões de CO2. Os defensivos também são usados em larga escala na agricultura orgânica. No entanto, eles são menos eficientes. E o interessante é que ao contrário do que se pensa, os orgânicos também são lucrativos para as indústrias, pois os preços praticados são bem maiores.

A matéria original pode ser lida aqui (em alemão).

Repercussões podem ser vistas aqui (inglês) e aqui (italiano).

O Wall Street Journal publicou artigo contendo ideias semelhantes. Foi escrito por Bjorn Lomborg. Pode ser lido aqui.

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