Encontro discute substâncias húmicas

27.10.2009 | 21:59 (UTC -3)

“A agricultura está prestando duplamente um serviço à humanidade”, falou o pesquisador Silvio Crestana, e ex-diretor da Embrapa ao abrir o VIII Encontro de Substâncias Húmicas, nesta segunda-feira (26/10).

Crestana realizou a conferência de abertura “Brasil líder mundial em alimentos, energia renovável e sustentabilidade?”, que enalteceu a posição do Brasil como fonte de suprimento dos estoques mundiais de alimentação, detentor de uma das principais matrizes energéticas e possuidor de experiências que contribuem para a preservação da matéria orgânica dos solos. O evento prestigiado por especialistas de outros países e de outros estados brasileiros discute como a ciência pode investigar cada vez mais para contribuir com o desenvolvimento dos agroecossistemas e biomas de maneira sustentável.

Silvio Crestana refletiu sobre a capacidade do Brasil, que não supre mais somente seu país na produção de alimentos, mas o mundo. “O país está gerando excedentes”, ressaltou o conferencista. Além disso destacou que 46% da matriz energética brasileira é a mais limpa e renovável do mundo. “Somos um dos maiores detentores da biodiversidade do planeta”, confirmou Crestana. Em sua fala também provocou a platéia dizendo: “é possível produzir e conservar ao mesmo tempo?” Crestana respondeu a todos que só é possível conciliar as atividades de produzir e conservar, através da ciência. Para ele, sem conhecimento não é possível resolver essas questões, e indica, como exemplo, a realização do encontro sobre substâncias húmicas, cujas temáticas abordadas relacionam a matéria orgânica ambiental à sustentabilidade dos biomas.

O conferencista enfatizou os desafios da ciência em como estabilizar a matéria orgânica do solo de forma que ela permaneça por muitos anos, citando as atividades realizadas pelas comunidades indígenas, desde a época da descoberta das Américas, que embora tenham alterado as florestas, conseguiram manter o estado da matéria orgânica dos solos até os dias de hoje. “Essas são experiências que estamos procurando entender melhor e nos servem como referência”, finalizou Crestana.

O VIII Encontro das Substâncias Húmicas deu início aos debates com o painel sobre a matéria orgânica dos solos e sua relação com as mudanças climáticas globais, focalizando o papel da agricultura neste processo.

Palestras

Entre as palestras do segundo dia do evento está a do professor da Universidade Federal de São Paulo (USP), Carlos Eduardo Cerri, sobre “Agricultura como atenuadora do aquecimento global”. Segundo ele existem técnicas que vem sendo utilizadas, não só para emitir menos gás para a atmosfera, mas também para retirar gases já presentes. “Só liberar menos não resolve o problema, a agricultura tem o potencial de retirar parte desses gases, ao que se dá o nome de sequestro de carbono”, explica Cerri.

Algumas das técnicas utilizadas podem ser: plantio direto e aproveitamento dos biocombustíveis no lugar dos combustíveis fósseis. “A alternativa é não queimar a cana, da qual é feita o biocombustível etanol, mas cortá-la mecanicamente deixando a palha, que antes era queimada, ser lentamente consumida pelo solo”, diz Cerri.

O pesquisador da Embrapa Solos, Etelvino Novotny, apresentou a palestra “Aprendendo com as terras pretas de índios: estudo da matéria orgânica do solo visando o estabelecimento de um modelo”. Segundo ele, antes de colonizadas, algumas tribos utilizavam técnicas de manejo do solo que não só aumentavam a produtividade dos solos da Amazônia, que é baixa, como também ofereciam uma grande resistência de degradação. “Estamos fazendo um estudo para trazer as antigas técnicas, feitas por essas comunidades indígenas que já não existem mais, para aplicar na agricultura hoje”, diz ele.

Segundo o pesquisador, os indígenas tinham por hábito, produzir carvão de todos os resíduos que tinham e retorná-lo ao solo. Esse acúmulo de material ao longo do tempo, tornou o solo extremamente fértil. “Essa é uma das práticas que pode ser adotada pelos agricultores hoje, mas que leva tempo para se ter o resultado. Por isso, estamos tentando reproduzir este processo de uma forma mais rápida e econômica, misturando o tradicional, que havia sido esquecido com a tecnologia moderna”, finaliza o pesquisador.

Segundo o Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado e coordenador do evento, Clenio Pillon, diz que sediar este evento é uma forma de mostrar o que vem sendo desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado, em Pelotas. “Trabalhamos com linhas de pesquisa que focam o potencial dos sistemas de manejo que contribuem com a diminuição do efeito estufa. Outra linha, é a de projetos que valorizam resíduos de processos agroindustriais para o desenvolvimento de novos insumos agrícolas, especialmente fertilizantes, como é o caso do Xisto Agrícola”, explica Pillon.

Nesta quarta-feira há continuidade das atividades, abordando os desafios e oportunidades para o desenvolvimento de novos insumos, onde será abordado o case Projeto Xisto Agrícola, uma parceria da Embrapa Clima Temperado e Petrobrás. Esse evento é uma realização em conjunto da Embrapa Clima Temperado e Embrapa Instrumentação Agropecuária, além do Grupo Brasileiro de Substâncias Húmicas e conta com o patrocínio da Máster da Microxisto.

Cristiane Betemps

Embrapa Clima Temperado

(53) 3275-8211 /

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