Mais uma planta daninha resiste ao glifosato no Brasil
Planta daninha conhecida como leiteiro é a décima infestante nas lavouras a adquirir resistência ao glifosato
A Embrapa Arroz e Feijão recebeu produtores e membros da indústria do arroz, de Goiás e do interior de São Paulo, para a Visita Técnica “Compartilhando Experiências e Construindo Conhecimentos”, que ocorreu na manhã do dia 29 de fevereiro, nos campos experimentais das Fazendas Capivara (Stº Antônio de Goiás) e Palmital (Goianira). O evento, organizado pela equipe de Transferência de Tecnologia (TT) do centro de pesquisa, contou com palestras de pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético de Arroz Irrigado e de Terras Altas da Unidade (MelhorArroz). Estiveram presentes integrantes do Sindicato da Indústria do Arroz, as Cerealistas Ipanema e Alnutri, Arroz Cristal, Feijão e Arroz Barão, Arroz Douradão, Sementes Marambaia, todos de Goiás, e Arroz Ruzene, de Pindamonhangaba-São Paulo.
A Visita Técnica apresentou os avanços da pesquisa da Embrapa em arroz de terras altas, lavoura irrigada e com os grãos especiais. Os visitantes foram recebidos na sede da Unidade pelo coordenador do encontro, o analista de TT Rodrigo Sérgio, e pelo chefe-geral da Unidade, Elcio Guimarães, e se dirigiram para a primeira estação: campo experimental de arroz de terras altas, na Fazenda Capivara. Sob a condução do pesquisador Flávio Breseghello, foram abordadas informações de campo, como manejo e produtividade, e do processo de industrialização, como perda e quebra do grão, além de questões técnicas das cultivares desenvolvidas pela Empresa.
Em especial, foi destacada a BRS A502, cultivar de arroz de Terras Altas desenvolvida pela pesquisa da Embrapa, com previsão de lançamento para abril próximo, durante a ExpoTec, mas que já chegou à mesa do consumidor, inserida no mercado pelo licenciado Sementes Grande, em uma das marcas da Cristal Alimentos. Segundo Rodrigo Sérgio, a produtividade foi excelente: “106 sacos por hectare, muito bom para Terras Altas, parecido com patamares de arroz irrigado”. Ainda segundo ele, o custo de produção esteve abaixo de R$3mil, 30% menor, também se comparado aos parâmetros de arroz irrigado. “Isso projeta uma rentabilidade de cerca de R$4mil/ha e a qualidade do grão esteve dentro dos melhores padrões, por isso foi aproveitado pela Arroz Cristal”, afirma Rodrigo.
Segundo Garibaldi Devoti, consultor que forneceu o arroz para a indústria, nessa lavoura especificamente, muitas dificuldades se apresentaram e diminuíram o potencial produtivo. “Se tudo tivesse ocorrido em condições normais, imagino que essa cultivar atingiria produtividade de 140 sacos por hectare, o que corresponde às altas produtividades do arroz irrigado”, disse ele.
A indústria arrozeira goiana enfrenta problemas de logística. Cerca de 80% do que é beneficiado aqui são produzidos em outros estados brasileiros, trafegando trechos de muito longa distância, e algo em torno de 30% do que chega são descartados como impurezas. Segundo Rodrigo, a BRS A502 pode marcar o início de um novo momento dessa cultura em Goiás, não ainda ao ponto da autossuficiência para atender à demanda de mercado em horizonte muito próximo, mas, com o potencial a ser explorado após esses trabalhos de pesquisa da Embrapa, o Estado pode conseguir ampliar consideravelmente a área destinada à produção de arroz, aumentando a produção atual em até 300%. Para o analista de TT da Embrapa, adotando o arroz na condição de integrante de sistemas, passando a ser uma ferramenta dentro da estrutura de produção anual, inserido em rotação de cultura, a produção pode atingir 70 mil, dos 250 mil hectares de área de pivô existentes em Goiás. Na safra de 2019, foram cerca de 20 mil hectares somente, sendo que apenas seis foram com arroz de Terras Altas. “Isso irá elevar a produção a uma condição de relevância e de defesa da própria Indústria, que diminuiria custo com logística. O material vai deixar de andar 2.000 km, com 30 % de perda, para rodar 300km, da lavoura à indústria”, diz Rodrigo.
A segunda estação, com o tema Arroz Irrigado e Grãos Especiais, aconteceu na Fazenda Palmital, campo experimental da Embrapa Arroz e Feijão, no município de Goianira-Goiás, com 3.789 materiais plantados para estudos. Ali, o programa MelhorArroz tem trabalhado com o desafio de lançar cultivares que consigam aumentar a produtividade, em relação às existentes no mercado, mas agregando ainda componentes como: resistência a doenças, principalmente a brusone; tolerância ao acamamento, por meio de estrutura de planta e presença de staygreen; e grãos de qualidade premium, com baixa porcentagem de área gessada, alta estabilidade e rendimento de grãos inteiros, melhorando o aspecto e a textura após a cocção. Em Arroz Irrigado, o Programa tem trabalho com a preocupação de ampliar a base genética, afim de evitar vulnerabilidade da cultura aos estresses bióticos e abióticos.
O MelhorArroz tem trabalhado na conversão das suas melhores cultivares, para que tenham tolerância a herbicidas do grupo das imidazolinonas, característica que tem ajudado os produtores no controle total de plantas daninhas. Nesse evento, foi apresentada uma cultivar com esse potencial, derivada da BRS Catiana, que tem lançamento previsto para 2021. Com esse objetivo, já foram lançadas a BRS A701 CL, a BRS A702 CL (2018), e a BRS Pampa CL (2019).
Conduzidos por Colombari, os visitantes fizeram um tour no telado dedicado aos experimentos de Grãos Especiais. O objetivo desse trabalho é o desenvolvimento de cultivares brasileiras que permitam a diversificação e a agregação de valor ao arroz, em seus aspectos sensoriais, nutricionais e funcionais, para gerar oportunidades ao Brasil de explorar nichos dos mercados interno e externo. Para isto, tem explorado os recursos genéticos disponíveis no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Embrapa Arroz e Feijão, com cerca de 30 mil materiais disponíveis, com foco em grãos coloridos; aromáticos (Basmati e Jasmine); culinárias Italiana, Japonesa e Espanhola; e inovações para alta gastronomia.
Como consequência dos diálogos ocorridos no evento, no dia 3 de março, a Embrapa e a Arroz Ruzene assinaram contrato de cooperação para desenvolvimento de mercado e exploração comercial de produtos derivados de grãos das cultivares especiais BRS 358 (arroz para culinária japonesa) e BRS 902 (arroz vermelho). Além desse acordo, a Ruzene é, agora, também, licenciada para uso da marca ‘Tecnologia Embrapa’.
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