Dois peptídeos regulam envelhecimento das folhas de plantas

Pesquisa revela como moléculas podem retardar ou acelerar a senescência

31.10.2024 | 15:48 (UTC -3)
Revista Cultivar
Nora Gigli-Bisceglia, bióloga da Universidade de Utrecht
Nora Gigli-Bisceglia, bióloga da Universidade de Utrecht

Estudo trouxe perspectivas sobre o controle da senescência foliar em plantas. A pesquisa revelou que duas pequenas moléculas produzidas pela planta Arabidopsis thaliana têm efeitos opostos sobre o envelhecimento das folhas. Enquanto o peptídeo SCOOP10 acelera o envelhecimento, o SCOOP12 suprime-o. Essas descobertas podem oferecer novas soluções para retardar o envelhecimento indesejado em plantas de cultivo.

A senescência é o processo natural em que as folhas das plantas quebram seus componentes internos e se tornam amarelas. Esse fenômeno é fundamental para o ciclo de vida da planta, pois permite a reciclagem de nutrientes para a produção de sementes e frutos.

Todavia, o envelhecimento precoce, desencadeado por estresses ambientais, é desafio crescente na agricultura. Entre os fatores que aceleram a senescência estão seca, altas temperaturas e salinidade elevada do solo. São condições cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas.

Nora Gigli-Bisceglia, uma das autoras do estudo e bióloga da Universidade de Utrecht, explica que a senescência é usada pelas plantas como um mecanismo de escape para reciclar nutrientes sob condições de estresse.

Contudo, a exposição prolongada ao estresse leva à senescência excessiva e, eventualmente, à morte da planta. Dessa forma, entender os mecanismos de regulação da senescência é essencial para aprimorar o manejo de culturas em condições adversas.

Regulação do processo

Os cientistas descobriram que o receptor MIK2, uma proteína presente na superfície das células vegetais, desempenha um papel crucial na regulação desse processo.

Ao aplicar diferentes peptídeos da família SCOOP em folhas destacadas de Arabidopsis, eles observaram que o peptídeo SCOOP10 acelerava o amarelecimento das folhas, enquanto o SCOOP12 retardava o processo. Essa dinâmica sugere que os peptídeos competem pelo receptor MIK2, resultando em respostas opostas.

A pesquisa também mostrou que plantas incapazes de produzir SCOOP10 apresentavam envelhecimento retardado, mantendo-se verdes por até 40 dias, enquanto plantas sem SCOOP12 envelheciam mais rapidamente. Gigli-Bisceglia destaca que essa competição entre os peptídeos pode ser um mecanismo para assegurar que o envelhecimento das folhas ocorra de forma controlada, evitando que seja rápido demais e comprometa a saúde da planta.

Aplicação na agricultura

Em termos de aplicação na agricultura, os cientistas sugerem que seria teoricamente possível pulverizar o peptídeo SCOOP12 nos campos para retardar o envelhecimento das plantas. Essa solução poderia ser particularmente útil para plantas da família Brassicaceae, como repolho, couve e couve-flor.

No entanto, a prática de pulverização de peptídeos ainda não é comum na agricultura devido ao alto custo dessas moléculas. Gigli-Bisceglia acredita que, com a popularização desse tipo de tratamento, os custos poderiam diminuir, tornando-o uma alternativa viável para melhorar a produtividade agrícola de maneira mais sustentável.

Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1016/j.molp.2024.10.010

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