Bayer tem novo diretor de Negócios de Soja e Algodão no Brasil
Divisão será liderada pelo engenheiro agrônomo Fernando Prudente
O avanço da soja na Metade Sul do Rio Grande do Sul chegou a 64% na última década, formando novos arranjos produtivos com o arroz irrigado e a pecuária. É neste cenário que cereais como trigo, aveia e triticale começam a ganhar espaço no melhor aproveitamento das áreas no inverno. Um grupo formado por profissionais da Embrapa, Farsul e Senar/RS visitou produtores, assistência técnica e entidades em seis municípios da Metade Sul, na primeira semana de agosto. A ação faz parte do projeto Duas Safras, que visa aumentar a renda na agropecuária gaúcha.
O Rio Grande do Sul possui cerca de 4 milhões de hectares em terras baixas, o que representa 15% do território gaúcho. Típico da Metade Sul do Estado, esse tipo de solo apresenta características diferenciadas em profundidade e porosidade, que dificultam a drenagem ou mesmo o armazenamento da água.
Desafiando o ambiente, metade da área de cultivo com soja na última safra gaúcha foi registrado na Metade Sul do Estado (números da Emater/RS). De acordo com o IRGA, somente em solos de terras baixas, na safra 2018/2019, foram colhidos 312 mil hectares de soja.
Na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas/RS, estão sendo desenvolvidas pesquisas capazes de integrar a soja com cultivos tradicionais na região, como o arroz irrigado, e novos arranjos com os cereais de inverno. Um dos trabalhos em andamento é a implantação de sulco-camalhão tanto para fazer a irrigação quanto a drenagem da lavoura. Com resultados positivos na soja, a tecnologia começou a ser avaliada para cultivo de trigo e triticale: “Os resultados, ainda preliminares, mostram que o triticale parece ter boa capacidade de tolerar as condições hídricas que ocorrem nas terras baixas”, ponderou o pesquisador José Maria Parfitt.
O estresse hídrico por excesso é uma característica das terras baixas do Rio Grande do Sul durante o período de inverno-primavera. O sistema sulco-camalhão apresenta no camalhão uma zona bem drenada e no sulco, que é a zona de escoamento da água tanto de drenagem como de irrigação, é mais úmida. “As plantas de triticale estão com desenvolvimento uniforme em ambas as zonas. Os resultados serão melhor conhecidos após a colheita, pois a cultura será avaliada de forma independente, em ambas as zonas, principalmente no que diz respeito ao rendimento de grãos”, explica o pesquisador José Maria Parfitt, da Embrapa Clima Temperado.
No Centro Tecnológico do Chasqueiro, em Arroio Grande/RS, estão sendo avaliadas, em área de terras baixas, cultivares de trigo, aveia e triticale para grãos e forragem. Para o engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Marcelo Klein, os experimentos mostram bom desenvolvimento vegetativo, com destaque para a sanidade. “Estamos avaliando o potencial de rendimento de forragem e de grãos para ajustar a melhor época de cultivo em função do risco de geada” explica Klein, lembrando que, até o momento, os resultados têm sido positivos, indicando uma lavoura de elevado potencial produtivo. “Vamos repetir o experimento para avaliar anos mais chuvosos, já que terras baixas são mais sujeitas ao encharcamento, o que pode favorecer a incidência de doenças nos cereais de inverno”.
O cultivo do trigo no Brasil começou na Metade Sul, em 1929, com a instalação da Estação Experimental Fitotécnica da Fronteira sob comando do geneticista Iwar Beckman, conhecido como o “pai do trigo”. Contudo, a introdução das primeiras cultivares de trigo foram acometidas pela epidemia de ferrugem linear, que dizimou os trigais na Argentina e Uruguai até chegar ao Brasil, desestimulando os produtores que tiveram grandes perdas. Várias outras tentativas foram frustradas por doenças nos anos seguintes.
O produtor Gerhard Martens, de Aceguá/RS, acompanhou uma destas frustrações na safra de trigo de 1959 e abandonou a cultura. Com a visita do engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Giovani Faé, no começo deste ano o produtor resolveu retomar o cultivo de trigo para forrageamento de novilhos. “Um dos desafios na pecuária da região é a escassez de pasto durante o período de inverno”, avalia o produtor, contando que na lotação da área, o número de animais passou de 1 cabeça/ha para 5 cabeças/ha, devido à grande oferta de forragens. Além da genética de qualidade - com trigo melhorado para atender essa demanda – o produtor também foi convencido a fazer o plantio direto e investir na adubação nitrogenada.
Com o avanço da soja na Metade Sul, levada principalmente por produtores do norte do RS, volta a crescer o interesse pelo trigo na região. É o caso do produtor Valdemir João Simão, de Dom Pedrito/RS, produtor de sementes de arroz e de soja, que está avaliando o potencial de crescimento do mercado de cereais de inverno na região. Ele destacou a importância dos cultivos de inverno para o melhor desempenho da soja no verão, como o palhada do trigo para controle do azevém e de outras plantas daninhas, além de promover a estruturação do solo e melhorar a plantabilidade da soja. Segundo ele, a produção de grãos no inverno também pode ajudar a diluir os custos e aumentar a rentabilidade da propriedade.
A área de cultivo de grãos de verão do produtor Fábio Eckert, em Tapes/RS, chega aos 4 mil hectares, enquanto no inverno são utilizadas apenas plantas de cobertura e forrageiras. Avaliando trigo pela primeira vez, foram implantados 20 hectares da cultivar BRS Reponte numa área de coxilha, seguindo estratégias de manejo eficiente orientado para maximizar a rentabilidade.
Conforme o Chefe-Geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Flores Cardoso, a intensificação da pecuária é alternativa para o desenvolvimento da Metade Sul. “É no verão, quando a maior parte da área é destinada para a soja, que falta espaço para a pecuária, então a intensificação sustentável é a solução. E isso se consegue com boas pastagens, como a cultivar de capim-sudão BRS Estribo, por exemplo, e estratégias como o Pasto sobre Pasto. Isso permite uma lotação muito maior por hectare para que, no inverno, quando há maior oferta de pastagens, tenhamos animais suficientes nessas áreas”, destacou.
Em busca de alternativas visando o equilíbrio econômico, social e ambiental na Metade Sul, o Presidente da Farsul, o produtor Gedeão Pereira, está experimentando o trigo pela primeira vez, em Bagé/RS. O trigo foi implantado em mais de 200 hectares para a produção de grãos ao lado da aveia, compondo o sistema com azevém, soja e arroz. “Ainda é cedo para avaliar o trigo num contexto isolado, mas acredito que esta parceria com a indústria, através da ABPA, a pesquisa, com a Embrapa, e a capilaridade do Senar/RS para levar o conhecimento até o produtor vai conseguir liquidez aos cereais de inverno, numa colheita de qualidade que se traduz em renda na propriedade”, avalia Gedeão, e complementa: “Não tem nada que entusiasma mais o produtor do que o preço, então não basta pensar apenas na lavoura, nas práticas agronômicas, mas também nas estratégias de mercado. Essa é a importância do projeto Duas Safras que estamos construindo a várias mãos”.
Dedicado à integração lavoura-pecuária-floresta em Bagé/RS, o produtor Eduardo Condorelli, atual superintendente do Senar/RS, também voltou à triticultura neste ano, com a implantação de 100 hectares. “O saldo negativo com o trigo no passado, sempre criou barreiras para voltar a investir na cultura, mas nesta parceria Embrapa, Farsul e Senar/RS estamos avaliando de perto todos os possíveis entraves que limitam a rentabilidade do trigo na região”, conta Condorelli.
Em Aceguá/RS, o produtor de sementes Felipe Dias está avaliando novas possibilidades de integrar lavoura-pecuária, com o cultivo de trigo em consórcio com cornichão. Na produção de grãos, ele aposta no trigo pela primeira vez, com 20 hectares de trigo BRS Belajoia. “Estamos investindo na diversificação para aumentar o retorno da propriedade, avaliando o potencial do trigo para rentabilizar o inverno”, diz Felipe.
Em Cerrito/RS, o casal Ivandro e Maristela Koetz está avaliando o triticale para fazer silagem. O plantel, com 30 vacas em lactação produzindo 700 litros de leite/dia, deverá ser acompanhado pela Embrapa e Senar/RS no forrageamento com silagem de triticale. A cultivar semeada foi o triticale BRS Saturno, implantado em quatro hectares da propriedade.
Outro parceiro da pesquisa é o produtor João Carlos de Oliveira Tunes, que na propriedade que conduz junto com o irmão Waldenei de Oliveira Tunes, em Piratini/RS, está avaliando a melhor época para o cultivo de trigo de pastejo na região, considerando a integração com a soja, a aveia e a pecuária. O acompanhamento técnico é do engenheiro agrônomo Marcos Muller, da Semensul.
O avanço das lavouras na Metade Sul impõe diversos desafios à pesquisa, exigindo conhecimentos capazes de sustentar novos modelos de produção integrando vários sistemas. “Precisamos aprofundar pesquisas sobre manejo de solo e arranjo de espécies. A variabilidade de tipos de solos que existe na região exige um manejo da fertilidade considerando aspectos químicos e físicos numa lógica diferente da que estamos atuando na Metade Norte”, explica o Chefe de Pesquisa da Embrapa Trigo, José Eloir Denardin.
Para integrar a lavoura com a pecuária também foram apontadas práticas de manejo durante as visitas: “Deixar o gado consumir a forragem até expor o solo, sem deixar resíduo para a formação da palhada, pode prejudicar o rendimento na produção de grãos. Durante as visitas buscamos orientar o setor produtivo para as melhores práticas de manejo, abrindo trincheiras para mostrar como está o solo e discutindo como podemos extrair o máximo potencial produtivo em grãos e na pecuária”, conta o engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Giovani Faé.
Nesta primeira rodada de visitas, de 04 a 07/08, o objetivo foi ampliar o nível de conhecimento e interação entre profissionais de transferência de tecnologia da Embrapa - das unidades de Trigo, Clima Temperado e Pecuária Sul – com produtores e assistência técnica na Metade Sul. A próxima etapa prevê a visita de um grupo de pesquisadores, de diversas áreas de conhecimento, para levantar demandas e direcionar as respostas da pesquisa na otimização das áreas de cultivo no inverno na Metade Sul. “Vamos unir assistência técnica, produtores e pesquisa na construção de conhecimentos capazes de reduzir riscos e aproveitar melhor o ambiente na região, gerando renda a partir de boas práticas agrícolas”, conclui o Chefe-Geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski.
O projeto Duas Safras visa aumentar o número de safras no Rio Grande do Sul, diminuindo o déficit de grãos para ração e ampliando a geração de renda. A iniciativa é da Farsul e Senar/RS, em parceria com a ABPA e a Embrapa, além de outras empresas e instituições.
O ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra, presidente do Conselho Consultivo da ABPA, salienta que pela primeira vez há convergência de todos setores por um melhor aproveitamento do potencial produtivo e econômico do Estado. “Há coalizão entre indústria (ABPA), produtores (Farsul) e pesquisa (Embrapa). Isso permite que exista efetividade. Precisamos construir essas parcerias para que o nosso negócio tenha um futuro rentável,” destacou Turra.
Turra lembra que a ideia inicial era buscar alternativas para o momento “delicado” que vive o setor produtivo no País. “A alta histórica dos custos de produção se soma aos custos de manter o abastecimento em meio à pandemia, impactando os preços dos produtos para o consumidor. Por isso, este trabalho de busca por insumos alternativos, como o trigo, a aveia e o triticale, para a cadeia produtiva de proteína animal é fundamental e estratégico para a produção de alimentos e uma oportunidade única para agregar valor e renda para os produtores e para a economia do Estado”, finalizou o ex-ministro.
Durante o mês de agosto, o Presidente da Farsul, Gedeão Pereira, cumpre agenda de visitas aos Sindicatos Rurais em 13 regionais do RS para apresentar o projeto Duas Safras e coletar sugestões.
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