Chuvas escassas e conflitos globais elevam riscos para a safra de grãos

A combinação de seca no Brasil e a escalada do conflito no Oriente Médio agrava as preocupações sobre a oferta de soja e milho, alerta o Grão Direto

07.10.2024 | 15:31 (UTC -3)
Ana Paula Cherin, edição Revista Cultivar
Foto: divulgação
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Na análise mais recente do Grão Direto, divulgada hoje (7/10), são destacados os desafios enfrentados pela soja e milho, com fatores climáticos, geopolíticos e econômicos ditando as oscilações nas cotações. A última semana apresentou movimentos distintos nos mercados, com a soja enfrentando incertezas relacionadas ao plantio no Brasil e o milho lidando com os impactos de uma safra norte-americana dentro das expectativas, além de exportações brasileiras em ritmo lento.

Soja: como o mercado se comportou?

Safra 2025 - enquanto o plantio avança de forma tímida no Brasil, em função das poucas chuvas, mapas climáticos divergiram sobre o início efetivos dessas chuvas no país, trazendo preocupações.

Greve nos portos - na última semana, teve início a greve nos portos norte-americanos, com previsões de graves impactos. Entretanto, com pressões da Casa Branca e nova oferta salarial, encerrou sem maiores prejuízos.

Conflito no Oriente Médio - com novos ataques no Oriente Médio, o preço do petróleo reagiu positivamente, o que reflete em toda a cadeia de commodities. O óleo de soja acompanhou esse movimento.

Em Chicago, o contrato de soja para novembro de 2024 encerrou a U$10,38 o bushel (-2,63%). Em contrapartida, no mercado físico brasileiro, os movimentos foram majoritariamente positivos, seguindo a alta de apenas 0,37% do dólar, que encerrou a R$5,46. O contrato com vencimento em março de 2025 também fechou em queda de 2,28%, fechando a U$10,71 o bushel.

O que esperar do mercado?

Condições climáticas brasileiras - o clima seco e quente tem se estendido pela primeira semana de outubro, com previsões de chuvas para o Sudeste e Centro-Oeste a partir do final da primeira quinzena do mês. Na última safra, atrasos relevantes no plantio aconteceram pelo atraso nas chuvas, o que resultou em replantios e quebras significativas. O mercado começa a se preparar para um cenário parecido ao se observar a curva dos prêmios futuros, que sobe conforme os dias de atraso vão se alongando. Na última semana, inclusive, os prêmios sustentaram preços positivos no Brasil enquanto Chicago recuou.

Conflito no Oriente Médio - a escalada na guerra que tem de um lado Israel e do outro Hezbolah, Hamas e agora o Irã, traz forte insegurança quanto a oferta e logística de petróleo no mundo. Israel pode atacar estruturas de refinarias no Irã e, além disso, o Irã já impôs limitações ao escoamento de cargas no estreito de Ormuz, trecho por onde passam cerca de 20% do petróleo mundial. Para a soja, os impactos podem ser dois: aumento nas cotações do óleo de soja em Chicago, por conta do biodiesel, e aumento no custo logístico.

Economia chinesa - o Governo Chinês agendou para a próxima terça-feira uma coletiva de imprensa para explicar todos os estímulos econômicos que anunciou há duas semanas. O mercado ficará atento ao pronunciamento, pois tende a medir a demanda potencial para todas as commodities. É possível que haja volatilidade pela manhã, no horário do evento.

Com base nesses fundamentos apresentados e observando as tendências do preço, as cotações da soja brasileira poderão ter uma semana positiva diante de cenário adverso.

Milho: como o mercado se comportou na última semana?

Exportações brasileiras - a Anec projetou exportações para milho em ritmo abaixo dos números de 2023. Os resultados atuais já apontavam para essa realidade, mas essa projeção aponta para uma continuidade desse cenário.

Estoques trimestrais - na mesma linha, as exportações mais lentas são corroboradas por estoques atuais acima dos observados em 2023.

Safra norte-americana - a colheita do milho norte-americano segue sem tropeços e sustentando desempenho satisfatório da safra, tudo dentro das expectativas.

O milho encerrou a semana cotado a U$4,25 o bushel (+1,92%) em Chicago, para o contrato com vencimento em dezembro de 2024. No Brasil, na B3, o milho recuou 1%, fechando a semana a R$68,01 por saca. No mercado físico, os preços seguiram uma tendência de alta, acompanhando o movimento observado na maior parte das regiões.

O que esperar do mercado?

Pecuária e a demanda de milho - como destacado em análises anteriores, o boi gordo é um dos maiores demandantes de milho, mantendo correlação direta entre os preços da arroba e da saca do cereal. Nas últimas semanas, a arroba registrou valorização de cerca de 30%, contribuindo para a alta nas cotações do milho. Apesar da melhora nas margens do pecuarista não indicar uma explosão imediata de demanda, o cenário abre novas perspectivas para a próxima safra de inverno. A expectativa de uma redução significativa na área plantada para a próxima safrinha começa a pesar na balança entre oferta e demanda do milho.

Oferta de milho - com a safra praticamente encerrada e foco na oferta do próximo ciclo, o atraso no plantio da safra pode comprometer janela do milho safrinha, olhando para a possível necessidade de replantio. Essa situação deverá causar atrasos em cadeia significativos, em especial pensando em milho safrinha, afastando os produtores da janela ideal de cultivo. Como consequência, é esperada uma redução expressiva na área plantada do cereal, impactando diretamente a oferta de milho no Brasil, o que já está no radar de precificação.

Safra norte-americana - a colheita satisfatória deverá continuar pressionando os preços contra altas mais significativas, considerando que na última semana o milho fechou positivo. Esse é o fator de maior influência no curto prazo que se tem no radar do mercado mundial.

Em vista da baixa demanda pelo cereal, olhando para números históricos, o cenário pessimista permanece para o milho. Impactos passíveis de elevar as cotações do grão de forma mais acelerada normalmente são projetados para o próximo ano. Em função disso, podemos ter mais uma semana negativa.

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