Cascudinho preocupa no Centro-Oeste

Na última safra, as perdas relatadas chegaram a 30% em áreas infestadas

28.12.2024 | 05:55 (UTC -3)
Revista Cultivar
<i>Myochrous armatus</i>&nbsp;- Foto:&nbsp;Andressa Lima de Brida
Myochrous armatus - Foto: Andressa Lima de Brida

O cascudinho-da-soja (Myochrous armatus), inseto polífago pertencente à família Chrysomelidae, tem causado prejuízos sucessivos às lavouras do Centro-Oeste brasileiro. Casos mais críticos ocorrem no norte e centro-oeste de Mato Grosso do Sul e nas regiões sul e leste de Mato Grosso.

Na última safra, as perdas relatadas chegaram a 30% em áreas infestadas.

O aumento da população da praga preocupa os produtores e exige ações integradas e assertivas para manejo e controle, explica a pós-doutora em entomologia Andressa Lima de Brida, pesquisadora da Fundação MS.

Biologia e comportamento

Os adultos de M. armatus medem cerca de 5 mm de comprimento por 3 mm de largura e apresentam coloração preto-fosca, com variações de marrom a acinzentado devido à adesão de partículas de solo ao corpo.

Com pouca capacidade de voo, exibem comportamento defensivo peculiar, conhecido como tanatose: quando ameaçados, jogam-se ao chão e permanecem imóveis ou enterram-se no solo.

As larvas vivem no solo, onde se alimentam de matéria orgânica e raízes de diversas plantas hospedeiras, incluindo braquiárias, milho, feijão e amendoim-bravo.

Os adultos atacam as plântulas de soja, causando danos severos, como ponteiros cortados, folhas enroladas e hastes principais danificadas.

<i>Myochrous armatus</i>&nbsp;- Foto:&nbsp;Andressa Lima de Brida
Myochrous armatus - Foto: Andressa Lima de Brida

Perdas na lavoura

Os prejuízos causados pelo M. armatus são maiores nas fases iniciais do desenvolvimento da soja, desde a emergência até o estágio fenológico V5 (25 dias), ensina Andressa.

A praga reduz o vigor das plantas jovens, ocasionando amarelecimento, murcha e morte. Em casos severos, os danos geram falhas no estande e demandam replantio, impactando diretamente na produtividade e nos custos de produção.

Andressa Lima de Brida
Andressa Lima de Brida

O ataque intenso forma reboleiras, que se distribuem de forma irregular nas lavouras, dificultando o controle. Os insetos escondem-se durante o dia sob torrões ou na palhada, evitando o contato com pesticidas e tornando pulverizações convencionais menos eficazes.

Em áreas sem palhada, muitas vezes nos horários mais quentes do dia, os adultos de M. armatus acabam alojando-se no trifólio da planta, fato que pode contribuir na tecnologia de aplicação. Porém, o horário não é adequado para as aplicações dos inseticidas.

Manejo e controle

O manejo de M. armatus exige estratégias integradas. Entre as mais promissoras estão:

  • Tratamento de sementes: protege as plântulas durante a fase inicial, considerada a mais crítica.
  • Pulverizações iniciais: aplicações noturnas, quando o inseto está mais exposto, aumentam a eficácia.
  • Uso de produtos químicos e biológicos: princípios ativos como fipronil, clorpirifós e thiametoxam e acefato têm mostrado bons resultados no controle da praga. Estudos recentes também indicam a eficácia de óleos essenciais -- como os de laranja, alho e os à base de óleo citronela -- que agem como repelentes, neurotóxicos e potencializadores de inseticidas.
  • Monitoramento constante: ferramentas como o pano de batida ajudam na detecção precoce e na avaliação do nível de infestação, permitindo decisões rápidas sobre manejo.
  • Rotação de princípios ativos: evita resistência e resiliência populacional do inseto.

Desafios e perspectivas

Embora as estratégias atuais apresentem bons resultados, o manejo de M. armatus ainda enfrenta desafios devido ao hábito do inseto de se esconder na palhada e sob o solo.

Isso reforça a necessidade de integrar técnicas como monitoramento, manejo químico e biológico e desenvolvimento de novas soluções para aumentar a eficácia do controle.

<i>Myochrous armatus</i> no solo - Foto:&nbsp;Andressa Lima de Brida
Myochrous armatus no solo - Foto: Andressa Lima de Brida

Além disso, a abordagem deve considerar o manejo do sistema agrícola como um todo, já que o cascudinho-da-soja é polífago e encontra abrigo em plantas hospedeiras como milho e tigueras, conta Andressa.

A rotação de culturas e a adoção de práticas que reduzam populações nas entressafras são fundamentais.

A entomologista explica ainda que a Fundação MS, em sua unidade em São Gabriel do Oeste (MS), tem intensificado pesquisas visando o controle desta praga.

Novos ensaios estão em desenvolvimento com novas tecnologias e associações de estratégias de controle para levar soluções ao produtor rural.

<i>Myochrous armatus</i> - Foto:&nbsp;Andressa Lima de Brida
Myochrous armatus - Foto: Andressa Lima de Brida

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