Brumadinho investe em tecnologia para combater estigma de contaminação

A rastreabilidade oferece informações detalhadas sobre o produto que está sendo comercializado

22.06.2022 | 18:03 (UTC -3)
Marina Rattes

A temporada da mexerica chegou e, com isso, o maior fornecedor da Ceasa de Minas Gerais já trabalha para abastecer a central de Contagem, na Grande BH. No ano passado, Brumadinho entregou 5 mil toneladas na unidade. Este ano, apesar da expectativa de queda significativa na safra estadual devido a eventos climáticos, o município deve manter sua posição de liderança. A novidade é que alguns produtores estão utilizando a tecnologia de rastreabilidade para derrubar o estigma de contaminação de seus produtos e ingressar em mercados mais potentes e rigorosos.

Marcelo Gustavo de Oliveira e seu pai são responsáveis pela gestão da maior fazenda de mexerica de Brumadinho. São 35 mil pés da fruta espalhados por 70 hectares de terra e uma produção média anual de mil toneladas. Recentemente, a propriedade concluiu o processo de rastreabilidade de seus produtos. Agora, tudo que sai de lá leva uma etiqueta com código de barras e QR Code. “Com a rastreabilidade, transmitimos mais confiança para quem está comprando”, explica Oliveira. Para implantar a tecnologia, ele contou com o apoio de um programa de fomento à agricultura desenvolvido pela Vale com a empresa contratada NMC Projetos e Consultoria e que, desde 2020, atende 300 produtores rurais de Brumadinho e Mário Campos.

Com cerca de 970 hectares de lavouras de mexerica atualmente, Brumadinho chegou, na década de 90, à posição de principal produtor da fruta no estado. Após o rompimento da barragem B1, produtores locais de todos os perfis passaram a sofrer com o estigma de contaminação de seus produtos e tiveram uma retração significativa no escoamento da produção agrícola. Ivan Bosio, gestor do programa pela Vale, esclarece que, para além de um atendimento à legislação, a iniciativa da rastreabilidade veio justamente para oferecer mais confiança ao consumidor. “A rastreabilidade funciona como um selo de garantia de qualidade. Por meio do QR Code é possível ter informações detalhadas sobre o produto que está sendo comercializado, como origem, produtor responsável, data do plantio e da colheita”, detalha.  

João Carlos Monteiro Maciel é produtor agrícola há mais de 27 anos. Começou plantando bucha vegetal, agora tem a mexerica e a lichia como principais cultivos. Ele conta que, em 2019, perdeu praticamente todos os mercados com os quais comercializava. “As pessoas simplesmente assumiram que tudo o que era produzido aqui estava contaminado”, lembra. João Carlos defende que a rastreabilidade é um importante aliado do produtor rural. “Tem mercado que só compra assim”.

Segundo Bosio, o produto rastreado gera benefícios tanto para o comprador como para o produtor. “Por um lado, a tecnologia garante ao consumidor final transparência em relação ao que está sendo consumido; por outro, incentiva o produtor a seguir as melhores práticas de cultivo e facilita sua entrada nos mercados mais exigentes”. A expectativa, revela, é que até o fim do ano, todos os agricultores de produtores vegetais apoiados pelo Programa tenham concluído a implantação da rastreabilidade.

Além do cadastro das informações no sistema, a equipe de técnicos e agrônomos do programa oferece assistência técnica completa para todas as etapas de plantio e manejo. Durante o processo, os produtos passam por estudos de tecido vegetal. São realizados três tipos de análises e, mediante qualquer inconformidade, é feita a correção do manejo. A análise microbiológica indica se há micro-organismos; a química aponta se o tipo e a dosagem dos defensivos utilizados no plantio estão adequados; e a de metais pesados identifica qualquer indício de contaminação por esses materiais nas plantações. “Foram realizadas 309 análises desde o início do programa e, nunca foi encontrado nenhum vestígio de metais pesados nos produtos agrícolas de Brumadinho”, afirma o gestor do Programa.

Os produtores recebem ainda apoio nas áreas de licenciamento e documentação, manejo, comunicação, escoamento e comercialização. “As assistências técnicas são fundamentais para a profissionalização e melhora da produtividade no campo. Dados do IBGE mostram que produtores que recebem assistência técnica geram uma renda três vezes maior do que aqueles que não contam com apoio especializado”, analisa.

Diversificação para aumento da renda

Mesmo com a força e a tradição da Mexerica na agricultura de Brumadinho, produtores estão apostando na diversificação do cultivo como forma de garantir seu sustento e ampliar a renda. A recomendação vem dos agrônomos do programa da Vale, que além de incentivarem diferentes cultivos nas propriedades atendidas, apoiam na escolha dos produtos e no estudo de viabilidade. “Os produtores normalmente já chegam com uma ideia. Nós estudamos a viabilidade daquilo de acordo com as características da propriedade e o perfil do produtor, fazemos um estudo de mercado e orientamos todo o processo de migração para o novo cultivo. Ter um plano B é muito importante na agricultura”, explica Bosio.

João Carlos Maciel já está se preparando para voltar a cultivar bucha vegetal. Com o apoio do programa ele vai construir um estaleiro - estrutura necessária para começar a produzir. “O mercado está muito bom e serei o único do município a oferecer esse produto”. Já Marcelo Gustavo de Oliveira vai apostar no milho e no abacate como alternativas à mexerica. “Não podemos depender somente de um produto. Se diversificamos a produção, garantimos outra fonte de renda caso haja algum problema com a safra principal”, justifica.  

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