Atraso de navios gera acúmulo de 1,9 mi de sacas de café não embarcadas em agosto

A não realização desses embarques impediu a entrada de R$ 2,651 bilhões em divisas ao Brasil

24.09.2024 | 16:55 (UTC -3)
Paulo André C. Kawasaki
Foto: divulgação
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A continuidade dos elevados índices de atrasos ou alterações de escala dos navios para exportar café levaram o Brasil a acumular 1,861 milhão de sacas de 60 kg do produto não embarcadas em agosto, conforme aponta levantamento realizado pelo Conselho dos Exportadores de Café do País (Cecafé), com associados que respondem por 77% dos embarques totais.

No mês passado, o Brasil conseguiu realizar o envio de 3,774 milhões de sacas ao exterior, a um preço médio de US$ 256,55 por saca. Dessa forma, o não embarque de café, devido aos gargalos logísticos em agosto, implica que o país deixou de receber US$ 477,41 milhões, ou R$ 2,651 bilhões (dólar médio de R$ 5,552), como receita cambial.

Além disso, também conforme o levantamento do Cecafé, esses exportadores associados tiveram custos extras e imprevistos de R$ 5,364 milhões somente no mês passado devido a despesas com armazenagens adicionais, pré-stackings, detentions e gates antecipados.

Cenário dos atrasos

De acordo com o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 69% dos navios, ou 197 de um total de 287 embarcações, tiveram alteração de escalas ou atraso para exportar café nos principais portos do Brasil. O maior prazo de espera foi de 29 dias entre a abertura do primeiro e do último deadline, registrado no Porto de Santos (SP).

O documento revela que o terminal santista, principal escoador dos cafés brasileiros ao exterior, com representatividade de 67,9% no acumulado dos oito primeiros meses de 2024, registrou o seu maior índice de atrasos de porta-contêineres desde janeiro do ano passado, chegando a 86%, o que envolveu 110 do total de 128 embarcações.

No mês passado, somente 10% dos procedimentos de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por navios no Porto de Santos. Outros 39% possuíram entre três e quatro dias e 51% tiveram menos de dois dias.

No complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com representatividade de 29% entre janeiro e agosto deste ano, o índice de atrasos das embarcações foi de 66% no mês passado, o que envolveu 47 dos 71 navios destinados às remessas do produto.

Também de janeiro ao fim de agosto de 2024, 11% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 34% registraram entre três e quatro dias; e 55% possuíram menos de dois dias.

Diante da criticidade na logística para exportação de café, o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, recorda que a entidade vem buscando diálogo com as autoridades públicas e privadas para encontrar um caminho que, ao menos, mitigue esses prejuízos ao comércio exportador.

“Esse cenário é reflexo dos congestionamentos portuários e da falta de infraestrutura adequada nos portos brasileiros para atender às demandas crescentes das cargas conteinerizadas destinadas à exportação. É importante que as autoridades públicas promovam o debate, por meio de audiências, com todos os elos do comércio exterior, na expectativa de encontrar medidas que reduzam os impactos desses gargalos logísticos e dos prejuízos aos exportadores”, indica.

“Nesse sentido – completa Heron –, são necessárias a ampliação de investimentos e maior celeridade, urgência, na execução dos projetos existentes e na adoção de novas medidas, pois, apesar dos recordes que o café vem registrando, o potencial dos embarques já está reduzido, como demonstramos com o 1,9 milhão de sacas que estão acumuladas, sem embarque, em agosto”, explica.

De acordo com o diretor técnico do Cecafé, os principais desafios que as empresas que embarcam o produto enfrentam estão relacionados à falta de estruturas adequadas para as cargas conteinerizadas, o que revela o esgotamento da infraestrutura nos portos brasileiros e a necessidade de ampliar a capacidade de pátio e berço, assim como o aprofundamento de calado para o recebimento das grandes embarcações.

“As cargas continuam chegando do interior, mas impedidas de entrar porque os pátios estão abarrotados. Se nada for feito, esse panorama só piorará com o acúmulo de carga não embarcada e não haverá eficiência de produtor e exportador que garantam que o Brasil continue alcançando níveis significativos em exportação e receita cambial, como os recordes em volume, de 31,9 milhões de sacas, e valor, de US$ 7,2 bilhões, obtidos com os embarques de café no acumulado de 2024 até agosto”, conclui Heron.

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