Clima e exportações afetam expectativas para a safra de soja e milho no Brasil

Cenário climático e demanda chinesa influenciam comportamento do mercado para a safra 2024/2025

23.09.2024 | 17:22 (UTC -3)
Ana Paula Cherin, edição Revista Cultivar
Foto: divulgação
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O boletim Grão Direto desta semana destaca a influência de diversos fatores sobre as expectativas do mercado de soja e milho no Brasil. O comportamento das cotações, clima, exportações e demanda internacional são os principais elementos analisados.

Soja: como o mercado se comportou? 

Safra brasileira - atualmente, o clima é fator central para o levantamento de projeções sobre a próxima safra aqui no Brasil. O cenário é de expectativa de chuvas consistentes apenas em outubro, conforme apontam mapas meteorológicos.

Movimento dos preços - após recorrentes baixas, Chicago indica a região dos U$10,00 o bushel como importante suporte para as cotações de soja.

Taxa de juros - a última semana foi marcada pelo corte da taxa de juros norte-americana em 0,50%, no mesmo dia em que a nossa taxa de juros subiu 0,25%. Resultado disso, o dólar recuou seguindo o esperado.

Em Chicago, o contrato de soja para novembro de 2024 encerrou a U$10,13 o bushel (+0,70%). No mercado físico brasileiro tivemos movimentos mistos em função da baixa volatilidade, com o dólar encerrando com 0,90% de baixa, a R$5,52. O contrato com vencimento em março de 2025 também subiu, a U$10,45 o bushel, representando 0,58% de alta.

O que esperar do mercado? 

Safra na Argentina - a Argentina projetou safra de 55 milhões de toneladas para 2025 através da Bolsa de Cereales, com total de 40 milhões de toneladas em farelo produzidos. Esse cenário pressiona os prêmios da nova safra brasileira, visto que com essa expectativa de produção, junto ao Brasil, Paraguai e EUA, serão colocadas 30 milhões de toneladas de soja a mais nas Américas.

Projeções climáticas - o EC (Euro-Cordex), modelo climático europeu, apontou grandes chances de chuvas para o norte e centro-oeste do Brasil nas próximas semanas. O atraso nas chuvas acarretará em atraso no plantio, tirando a soja da janela ideal. Esse risco está sendo precificado pelo mercado. Caso as chuvas apareçam a partir da semana que vem, os produtores irão para o plantio, e nesse momento o mercado ficará alerta para as necessidades de replantio, caso aconteçam.

Demanda Chinesa - a demanda por ração na China está abaixo dos níveis quando comparado ao ano passado. Isso é reflexo do menor crescimento do número de matrizes e leitões. O rebanho suíno chinês é o maior consumidor de farelo de soja, logo, uma redução significativa nessa base de consumo irá colocar pressão de baixa nos prêmios para a nova safra.

Portanto, observando as tendências apontadas anteriormente, poderemos ter uma semana de baixa volatilidade, com direcionamentos mistos das cotações nas diversas regiões.

Milho: como o mercado se comportou na última semana?

Exportações norte-americanas - o ritmo das exportações segue lento para o milho, pressionando as cotações em Chicago. Em contrapartida, isso abre oportunidades para vendas a preços mais atrativos.

Exportações brasileiras - segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o volume embarcado de milho até a última semana foi de apenas 35,16% do volume embarcado em todo o mês de setembro do ano passado.

Safras brasileiras - a colheita da safrinha foi oficialmente concluída na última semana, segundo a Conab. No foco agora, a safra desponta com 12% de avanço, principalmente pelo sul do país, 3 pontos percentuais abaixo do mesmo período do ano passado pela falta de chuvas.

As cotações de Chicago finalizaram a semana cotadas a U$4,01 o bushel (-3,14%), para o contrato com vencimento em dezembro/24. Na B3, o milho subiu apenas 0,07%, valendo R$67,85. No mercado físico, o movimento foi misto, com algumas regiões positivas e outras negativas.

O que esperar do mercado?

Cotações no Brasil - o mercado de boi gordo e a indústria de etanol de milho apresentam sinais de fortalecimento. A arroba do boi gordo, negociada na B3, registrou alta de 3,06% na última semana, marcando o quinto aumento consecutivo. Conforme observado em análises anteriores, a dinâmica dos preços do milho brasileiro tem sido impactada pelo crescimento da indústria de etanol de milho no Centro-Oeste. Com as recentes queimadas nos canaviais, espera-se um aumento nos preços do etanol, favorecendo ainda mais a produção a partir do milho. Esse cenário, aliado à alta na arroba do boi gordo, está gerando melhores margens para os pecuaristas, sobretudo com os preços atuais do milho, o que deve continuar sustentando os preços, especialmente na região Centro-Oeste.

Milho segunda safra - de acordo com o Imea (Instituto Mato Grossense de Estudos Avançados), considerando os atuais preços dos fertilizantes e do milho futuro segunda safra, as margens dos produtores estão negativas. Isso leva o mercado a acreditar em uma redução da área plantada. Ainda é cedo para afirmar reduções, mas estima-se que ainda está em aberto cerca de 55% dos fertilizantes necessários para o milho segunda safra.

Safra recorde na China - impulsionada pela safra recorde de milho de 2024/25, a quarta consecutiva, a China enfrenta pressão nos preços dos futuros de milho em Dalian. O contrato de milho com vencimento mais próximo na DCE registrou queda em 13 das últimas 16 sessões, atingindo seu menor nível desde julho de 2020 na semana passada. Esse cenário reflete os baixos níveis de importação de milho pelo país asiático. O USDA projetou que a China importaria cerca de 21 milhões de toneladas na temporada 24/25, mas, até o momento, o país adquiriu apenas 13 mil toneladas. A fraca demanda chinesa deve seguir pressionando as cotações do milho na bolsa de Chicago.

Diante de uma demanda internacional incerta, podemos ter mais uma semana negativa em Chicago, mas não acompanhada pelo mercado interno brasileiro, que poderá subir seguindo a demanda interna.

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