Apenas 69% das lavouras de café no Brasil têm acesso a internet

Paraná, Espírito Santo e São Paulo lideram cobertura; Minas Gerais, maior produtor, enfrenta desafios de acesso

11.09.2025 | 15:46 (UTC -3)
Larissa Martins, edição Revista Cultivar

O café, um dos pilares do agronegócio brasileiro, ainda enfrenta limitações no acesso à internet no campo. Segundo levantamento realizado pela ConectarAgro em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), apenas 69% das lavouras de café no Brasil possuem cobertura de redes móveis 4G e 5G. O estudo, inédito, cruzou dados de produção com cobertura digital e revelou contrastes significativos entre os estados.

Paraná (81,8%), Espírito Santo (79,5%) e São Paulo (76,3%) lideram em conectividade, posicionando-se à frente na adoção de tecnologias como agricultura de precisão, monitoramento remoto e ferramentas de rastreabilidade. No Espírito Santo, por exemplo, a combinação entre elevada cobertura digital e forte produção de conilon e arábica garante o maior índice de produtividade média entre os principais estados produtores: 32,03 sacas por hectare.

Minas Gerais, responsável por mais da metade da safra nacional, apresenta 67,8% das áreas conectadas. Apesar do índice, a cobertura digital ainda não chega de forma uniforme às diferentes regiões. “O dado, que à primeira vista parece robusto, esconde desafios marcados pela topografia montanhosa, grande dispersão territorial e predominância de pequenas propriedades”, explicou Paola Campiello, presidente da ConectarAgro.

Nos extremos, Bahia (40,7%) e Goiás (10,5%) registram os piores índices de acesso. O cenário preocupa, pois limita a inserção dessas lavouras na chamada agricultura 4.0, onde ferramentas digitais já são consideradas essenciais para ganhos em eficiência, sustentabilidade e qualidade.

Disparidades municipais

O levantamento também analisou os dez municípios com maiores áreas cultivadas de café, todos em Minas Gerais. Patrocínio, no Cerrado Mineiro, aparece com a maior área (44,5 mil hectares), mas apenas 57,9% de conectividade. Já Monte Carmelo, também no Cerrado, alcança 81,9% de cobertura e produtividade média de 42 sacas por hectare. Em contraste, Serra do Salitre conecta somente 23% de suas lavouras, mostrando como a ausência de infraestrutura digital pode limitar o potencial produtivo.

Conectividade como condição estratégica

A pesquisa reforça que o acesso à internet no campo deixou de ser diferencial competitivo e passou a ser condição estratégica para o futuro da cafeicultura. Entre as aplicações possíveis estão o uso de sensores de monitoramento climático, sistemas de irrigação inteligentes e plataformas de rastreabilidade e certificação de origem, cada vez mais exigidas por mercados internacionais.

“A conectividade representa inclusão social, segurança alimentar e soberania tecnológica. Garantir acesso digital nas lavouras é assegurar que o café brasileiro continue sendo referência mundial em qualidade, inovação e sustentabilidade”, afirmou Campiello.

De acordo com a Conab, a safra 2025 de café deve alcançar 55,7 milhões de sacas de 60 quilos, um aumento de 2,7% frente ao ano anterior. Com esse crescimento, especialistas apontam que reduzir a desigualdade digital será fundamental para que a produção nacional mantenha sua competitividade global.

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