Trigo: a autossuficiência necessária e possível

01.04.2014 | 20:59 (UTC -3)
Claudio Spadotto

A balança comercial do agronegócio brasileiro em 2013 foi positiva em US$ 82,9 bilhões. Se por um lado exportamos soja, milho, arroz, entre outros produtos agropecuários, por outro, historicamente importamos trigo. E não é pouco: por volta de seis milhões de toneladas a cada ano, o que representou US$ 2,1 bilhões com a compra de trigo no exterior em 2012. Isso ocorre porque a nossa produção de trigo tem girado em torno de 40-50% das aproximadamente 10 milhões de toneladas que consumimos anualmente.

Em 2012, somente da Argentina importamos mais de cinco milhões de toneladas. Como em 2013 houve quebra da safra de trigo no país vizinho, a quantidade exportada para o Brasil foi reduzida pela metade, o que foi compensado pelo grande aumento da importação do cereal americano. Ou seja, para garantir o pãozinho nosso de cada dia e tantos outros produtos feitos a partir do trigo, nossos moinhos têm que buscar vendedores mundo afora.

Trabalho que vem sendo realizado pela Embrapa Gestão Territorial e que foi divulgado recentemente (www.sgte.embrapa.br) apresenta dados interessantes sobre esse assunto. Podemos produzir a quantidade necessária de trigo para suprir com folga a nossa demanda interna, promovendo nossa autossuficiência nesse cereal. Existem regiões do país que podem ser priorizadas na busca por maior produção, conjugando os esforços de aumento da área plantada com trigo e de incremento na produtividade das lavouras. Importante dizer que aumentar a área com trigo não significa necessariamente abertura de novas áreas, mas sim a conversão de áreas ocupadas com outras culturas agrícolas (milho segunda safra, por exemplo) para produzir trigo, sem desmatamento.

Como temos condições aptas de solo e clima, além de tecnologias apropriadas, para a produção de trigo no Brasil, não precisamos permanecer na dependência da importação desse cereal. Políticas públicas adequadas podem alavancar a produção e garantir a qualidade do trigo nacional. Melhor ainda se os mecanismos de garantia e incentivo forem planejados, implementados e acompanhados em base territorial, considerando as especificidades de cada região.

Além da implantação de incentivos e políticas públicas para a produção e do contínuo desenvolvimento da qualidade do trigo para as diferentes regiões do país, estão entre as conclusões do VIII Fórum Nacional de Trigo 2013: a necessidade de expansão da cultura para novas áreas agrícolas no Brasil Central e no Nordeste e a integração coordenada entre os agentes desse complexo agroindustrial.

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