Estudo revela poder de hibridização da lagarta-do-cartucho

Estudo revela que a “raça arroz” de Spodoptera frugiperda possui metabolismo mais versátil e capacidade de hibridização

06.10.2025 | 13:19 (UTC -3)
Revista Cultivar
Foto: Russ Ottens, University of Georgia
Foto: Russ Ottens, University of Georgia

Pesquisadores identificaram que a linhagem conhecida como “raça arroz” (rice strain - RS) da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) possui maior capacidade de adaptação a diferentes plantas hospedeiras. E vantagens genéticas que podem aumentar sua agressividade em ambientes agrícolas diversos.

O estudo foi conduzido por equipes da Central China Normal University e da Lancaster University, em parceria com centros de pesquisa na China e Reino Unido.

Mais adaptável, mais perigosa

Spodoptera frugiperda divide-se em dois biótipos geneticamente distintos: um associado ao milho (corn strain - CS) e outro ao arroz (rice strain - RS). Ambos compartilham aparência semelhante, mas reagem de forma diferente ao tipo de planta disponível.

Os testes revelaram que a linhagem RS cresce com eficiência em plantas como arroz, azevém, milho e dietas artificiais. Já a linhagem CS mostrou desempenho significativamente inferior quando alimentada com arroz ou azevém. No milho, seu desenvolvimento foi superior. Isso sugere especialização de CS e versatilidade de RS.

Nos experimentos, larvas do RS alimentadas com azevém atingiram peso médio de 0,0208 gramas após sete dias. No mesmo período, larvas do CS atingiram 0,0285 gramas no milho, mas apenas 0,0005 gramas no arroz, evidenciando seu desempenho limitado fora do hospedeiro preferido.

Hibridização amplia risco de dispersão

Os dois biótipos são capazes de cruzamento. O estudo confirmou que, em condições laboratoriais, o cruzamento entre RS e CS resulta em descendentes viáveis. Esses híbridos demonstraram não apenas sobrevivência, mas também características dominantes da linhagem RS, especialmente em capacidade de adaptação alimentar.

Os híbridos cresceram bem em arroz e azevém, igualando ou superando o desempenho do próprio RS. Essa herança sugere padrão genético dominante associado ao metabolismo de desintoxicação do RS. O metabolismo eficiente permite neutralizar compostos tóxicos presentes nas plantas, favorecendo a alimentação em múltiplos hospedeiros.

Um dos cruzamentos (fêmea CS com macho RS) produziu larvas com ganho de peso superior ao dos pais. Isso indica possível ocorrência de heterose (vigor híbrido) e vantagens herdadas da linhagem materna.

Barreiras reprodutivas

Embora estudos anteriores tenham relatado dificuldades na reprodução entre os dois biótipos em campo, as barreiras comportamentais e químicas observadas na natureza não impediram o cruzamento em laboratório. Isso levanta preocupações sobre a possibilidade de hibridização natural em áreas onde as duas linhagens coexistem.

No experimento, cruzamentos entre indivíduos da mesma linhagem apresentaram taxas de postura acima de 75%, com hibridação interbiótipo alcançando 57% a 71%, dependendo da combinação.

Genética favorece a linhagem arroz

O estudo reforça que o RS possui características genéticas que favorecem sua sobrevivência em ambientes variados. Isso pode explicar sua presença em pastagens, arrozais e até plantações de milho. Ao contrário, o CS raramente é encontrado em plantas que não o milho.

Os pesquisadores apontam que o desempenho superior do RS pode estar associado à expressão aumentada de enzimas de desintoxicação, já identificadas em estudos genéticos anteriores. Essas enzimas permitem que a praga neutralize substâncias defensivas das plantas com mais eficiência.

Implicações para a agricultura e manejo

A combinação de alta adaptabilidade, herança genética dominante e capacidade de hibridização coloca a linhagem RS como uma ameaça crescente, especialmente para sistemas agrícolas que cultivam arroz, pastagens ou gramíneas forrageiras.

A possibilidade de surgimento de populações híbridas com características vantajosas representa um desafio extra para programas de manejo integrado. A introdução do RS em novas regiões ou sua hibridização com populações locais pode resultar em pragas com maior resistência a defensivos ou tolerância a novos hospedeiros.

Outras informações em doi.org/10.3390/insects16101029

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