Cuidados na pulverização
Pesquisas apontam falhas que afetam aplicações de defensivos e conclui que muitas delas poderiam ser evitadas com ações simples adotadas pelos operadores
O uso correto da tecnologia de aplicação, conhecendo o alvo a ser controlado, a ação do produto utilizado e a adequada regulagem e calibração do pulverizador, permite tratamentos com volume próximo do ideal. Assim, a atividade passa a ser mais sustentável, com menor custo econômico e ambiental e mais eficaz.
Problemas fitossanitários são comuns quando se pratica agricultura de maneira intensiva em locais com clima tropical, como é o caso da maior parte do Brasil. A manifestação de doenças, os insetos tornando-se pragas e as plantas daninhas competindo com as culturas, em estágios fenológicos diversos, podem comprometer, no todo ou em parte, a produção esperada e, em consequência, os investimentos e lucros do agricultor.
O controle de problemas fitossanitários é majoritariamente feito com o uso de produtos aplicados na forma líquida e distribuídos, por meio de um equipamento pulverizador, no local em que se encontra o problema. Os produtos fitossanitários são vendidos em recipientes contendo o ingrediente ativo concentrado, o que implica na necessidade de sua diluição em alguma outra substância que serve como veículo e facilita a distribuição homogênea do produto na área.
No Brasil, o veículo usado nos tanques dos pulverizadores é quase exclusivamente representado pela água, em função de ser solvente universal, de existir em quantidade suficiente e ter custo relativamente baixo. Quanto mais diluído estiver o produto em água, maior é o volume de calda pulverizado para que a quantidade recomendada do ingrediente ativo seja distribuída por área.
Grandes volumes de água misturados aos produtos são argumento de defesa de agricultores e dos operadores que realizam aplicações, de modo a acreditarem que o sucesso da aplicação depende de quão molhada fica a folhagem das plantas ou o solo. Entretanto, há diversos trabalhos apontando que o volume de aplicação não é o responsável pelo controle do problema fitossanitário e que o molhamento excessivo durante as pulverizações promove perdas por escorrimento e por meio da deriva.
Um bom controle fitossanitário deve promover a aplicação da quantidade correta do ingrediente ativo do produto no alvo desejado, usando não mais que o volume de veículo suficiente para que haja uma distribuição homogênea na área, evitando maiores perdas para o solo e por deriva.
Para que não haja erros na dosagem do produto e no volume ideal de aplicação, o produtor deve se atentar primeiramente para a correta regulagem e calibração do pulverizador. Uma vez determinados a velocidade de pulverização e o caminhamento do pulverizador no local a ser tratado, optamos pelo volume de aplicação.
Tratamentos realizados em culturas arbóreas devem considerar a largura do dossel e a quantidade de folhas. Consultores de citros têm considerado um volume de aplicação ótimo correspondendo a 100ml/m2 de copa de cada planta, de modo a adequar a pulverização ao porte da planta e ao espaçamento na área. Outros parâmetros podem ser empregados para outras culturas arbóreas, arbustivas como café e herbáceas como soja, amendoim, feijão etc, a fim de que o volume seja escolhido com critério. Trabalhos em andamento mostram igualdade ou até mesmo melhoria na qualidade da pulverização em citros, por meio da análise do depósito de calda, usando-se volumes reduzidos (Box).
A forma visual de avaliar se o volume de aplicação está correto é ainda a mais adotada no campo e pode ser feita por meio do uso de tiras de papel sensível fixadas em partes diversas da planta. Esse papel é facilmente encontrado em lojas de produtos fitossanitários, tem coloração amarela e muda para a cor azul quando em contato com as gotas pulverizadas, o que demonstra ao produtor se o volume de calda está chegando corretamente às plantas. Se houver escorrimento de calda das folhas ou os papéis sensíveis ficarem inteiramente azuis, é indicativo de que o volume aplicado pode estar acima do necessário. Além disso, os papéis também informam com certa confiança a quantidade de gotas por cm2 de área foliar, desde que não estejam totalmente azuis.
O controle de doenças e algumas pragas como ácaros e larvas minadoras necessita que um número entre 50 e 70 gotas com diâmetro de 100µm a 200µm atinjam cada cm2 da folhagem a ser tratada, quando do uso de produtos que atuam por ação de contato. Para produtos com ação sistêmica na planta, a quantidade recomendada de gotas com diâmetro entre 200µm e 300µm é de 30 a 40 por cm2.
Conhecer o alvo é fundamental para saber se o tratamento necessita de mais ou menos volume aplicado. O controle de doenças, por exemplo, requer cobertura foliar maior em relação ao controle de insetos e plantas daninhas, a fim de que o alvo, representado pelo patógeno seja atingido com o produto. Isso se deve ao fato de que, muitas vezes, mesmo que a recomendação inclua o uso de gotas pequenas (100µm a 200µm), a aplicação poderá exigir gotas de diâmetro maior em função das condições meteorológicas desfavoráveis no momento da aplicação. Tais condições são temperatura acima de 30ºC, umidade relativa do ar abaixo de 55% e velocidade do vento acima de 10km/h.
O uso de adjuvantes com ação antievaporante, como óleo mineral ou vegetal, desde que na concentração adequada, pode diminuir o risco da deriva em condições meteorológicas desfavoráveis, permitindo o uso de gotas menores, além de facilitar o espalhamento destas, resultando em maior cobertura de superfície vegetal. Com isso, há a possibilidade de se reduzir consideravelmente o volume de calda pulverizado.
No caso do controle de plantas daninhas, aplicações em pós-emergência com produtos de ação de contato requerem um volume de aplicação maior em relação ao controle por meio de produtos de ação sistêmica, visto que este último é capaz de se translocar pelos tecidos da planta.
O controle de plantas daninhas em pré-emergência permite a aplicação de poucas gotas grossas por cm2 de solo, pois a ação e distribuição do produto ocorrerão após a ocorrência de chuva. Dessa forma, o volume pulverizado é menor, quando comparado a aplicações em pós-emergência.
No entanto, há produtos fitossanitários em comercialização que não informam a dose ideal a ser utilizada por área, em vez disso, informa sua quantidade por volume de água. Esta última informação é desnecessária e confunde o operador no momento da regulagem e do preparo da calda no tanque do pulverizador.
Para aumentar ou diminuir o volume aplicado sem comprometer a qualidade da pulverização, devemos manter a quantidade do produto fitossanitário na área e realizar a troca da ponta de pulverização. As pontas devem produzir a mesma faixa adequada de tamanho de gotas, porém, com menor ou maior vazão nominal, sem que haja pressão de trabalho acima ou abaixo da faixa ideal indicada na tabela do fabricante.
A escolha do volume de aplicação correto para a distribuição do produto no alvo permite que o rendimento operacional do tratamento seja maior, considerando as paradas para reabastecimento. Quanto maior o volume, mais paradas para reabastecer, o que resulta em maior tempo gasto na pulverização e maior custo operacional.
Altos volumes aplicados também oneram a operação, considerando que parte significativa do produto fitossanitário pode atingir locais não alvo, resultando em um controle com pouca eficiência e alto risco de contaminação ambiental, além da diminuição do desempenho operacional.
O uso correto da tecnologia de aplicação pelo conhecimento do alvo a ser controlado, da ação do produto fitossanitário empregado e de minúcia na regulagem e calibração do pulverizador possibilita que o tratamento seja feito com o volume próximo do ideal. Dessa forma a atividade passa a ser mais sustentável, com menor custo econômico e ambiental, garantindo a eficácia do controle por meio dos produtos fitossanitários utilizados.
A. Depósito de calda por volume de aplicação reduzido quase pela metade em comparação ao volume convencional praticado na propriedade, usando-se pontas TXA8002.
B. Depósito de calda por volume convencional de 1.200L/ha com pontas TXA8003. Em ambas as regulagens, o pulverizador foi equipado com 20 pontas ao todo (dez cada lado) de cada vazão e manteve a velocidade de 5,14km/h.
Resultados parciais da tese de doutoramento em andamento de Sergio Tadeu Decaro Junior (Unesp/FCAV – Campus de Jaboticabal-SP).
Sergio Tadeu Decaro Junior, Marcelo da Costa Ferreira, Unesp
Artigo publicado na edição 150 da Cultivar Máquinas.
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