O bom desempenho do PIB começa na semente
Por Fabricio Passini, diretor de agronomia da Syngenta Seeds
O Brasil, na safra 2023/2024, apresentou umas das maiores áreas já semeadas dos últimos anos, 1.944,7 mil hectares (Conab 2024), e há expectativa de alta produção da principal fibra mundial, fazendo com que o país alcance a liderança mundial na exportação.
As pragas são fatores limitantes no Brasil há diversos anos. Algumas delas quase que extinguiram a cultura em determinadas regiões, em virtude da sua alta ocorrência e dos danos que causaram. E as lagartas podem gerar grandes prejuízos na cultura do algodoeiro, além das culturas adjacentes na região Centro Oeste, como a soja e mesmo o milho.
Essas pragas ganharam um grande aliado no manejo, com a entrada dos transgênicos de tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), principalmente em milho, algodoeiro e soja. Foi de grande valia o manejo integrado de pragas, com diminuição das aplicações nas culturas na ordem de 20% no geral, e no complexo de lagartas na ordem de 80%, nos primeiros anos de adoção. Na soja, a diminuição em determinadas áreas foi na ordem de 90% no número de aplicações.
No entanto, alguns gêneros de lagartas, como as Spodoptera sp., se sobressaíram, em virtude das tecnologias muitas vezes não as contemplar, ou mesmo o processo de resistência que, em virtude de diversas condições, aumentou a frequência.
Esse último ponto é muito dinâmico no Cerrado brasileiro, em virtude do agroecossistema utilizado na região Centro Oeste, ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção em que a soja é a principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, podendo ser rotacionada ou não, com milho e algodoeiro, sendo, após a colheita, estabelecida uma cultura na sequência (2ª safra) ou mesmo uma cobertura, e, algumas áreas, em “pousio”. Nesse sistema de cultivo, as pragas têm se adaptado há vários anos, mesmo antes da entrada dos Bts. Fatores como condições climáticas favoráveis, de altas temperaturas e de inverno ameno, tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos.
A implementação de lavouras com a tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) marcou um avanço significativo na agricultura, oferecendo uma produção mais eficaz, “tranquila” e sustentável. Contudo, a presença e a adaptação de lagartas nesses plantios desafiam os produtores a procurar métodos de manejo inovadores - eficientes e com boa relação custo-benefício.
O efeito econômico das lagartas resistentes nas culturas Bt é significativo, impactando negativamente a produtividade e a lucratividade. Alguns dados mostram perdas na ordem de 30% na produtividade quando não controladas (Gráfico 1), além de alguns casos de 100% quando do hábito de lagarta rosca - eliminando o estande. O consumo de folhas, caules, botões florais, flores e espigas por essas pragas reduz drasticamente os rendimentos das lavouras. Adicionalmente, uma gestão ineficiente dessas pragas pode resultar no aumento do uso de inseticidas químicos, contrariando o objetivo ambiental dos cultivos Bt e elevando os custos de produção.
Espécies como Spodoptera frugiperda (conhecida popularmente como lagarta-do-cartucho) e Helicoverpa sp. estão entre as mais destrutivas, causando danos consideráveis em cultivos Bt de soja, milho e algodão, devido a sua capacidade de adaptação e menor suscetibilidade às toxinas Bt.
A S. frugiperda apresenta grande polifagia, transitando nas culturas da soja, do algodoeiro e do milho, tornando-se a primeira ou segunda praga em importância. Pode-se referenciar como uma praga no sistema de produção. Na cultura da soja é uma praga que nos primeiros instares tende a atacar as folhas, e com o desenvolvimento pode vir a atacar as diversas partes das plantas, incluindo as vagens e os grãos em formação. Podem as lagartas vir a cortar as plantas jovens na base do caule e levar a menores estandes de plantas. Algumas plantas invasoras, como corda-de-viola, trapoeraba, capim-amargoso, capim-pé-de-galinha, além de culturas de cobertura como milheto, braquiárias e nabo-forrageiro, se comportam como boas hospedeiras, viabilizando o desenvolvimento e a permanência do complexo de Spodoptera nas áreas de cultivo.
Entre as demais lagartas do gênero Spodoptera spp., a S. eridania é uma espécie que tem aumentado sua frequência nas lavouras. Apresenta os adultos com coloração parda, manchas prateadas nas asas e uma mancha de forma retangular no primeiro par de asas. A fêmea também coloca os ovos em massas, podendo colocar até dois mil ovos no decorrer do ciclo. As lagartas possuem coloração verde, marrom a preta com uma faixa longitudinal amarela que se liga, muitas vezes, ao Y invertido na cabeça. Além de duas linhas na lateral, com a presença de triângulos brancos. Podem atingir 50 mm de comprimento. Essa espécie hoje em soja e algodoeiro Bt tem ocorrido em grande parte das áreas, e vem sendo realizado o seu controle. Vale ressaltar que muitas vezes ela é percebida no campo, quando em estádios de desenvolvimentos mais avançados, o que dificulta o seu controle.
Fatores como a polifagia são um problema no sistema de produção, além das plantas daninhas, tigueras de milho, como fornecedoras de populações para o início das infestações.
Diante dos fatos e todas as mudanças, o alicerce do manejo integrado de pragas (MIP) está na boa amostragem de campo - conhecimento -, onde o monitor deve realizá-la obedecendo alguns pontos importantes, como frequência de amostragem, intervalos de três a sete dias, bom número de pontos, que dê representatividade da lavoura, além de uma boa acurácia com relação às pragas. O número de pontos em um talhão é variável em função da operacionalidade, mas não se pode deixar de lado a questão da boa representação dessas amostras. Não saber quem é a praga, quantos são e onde estão pode levar ao fracasso de qualquer estratégia adotada.
Em casos como as lagartas do gênero Spodoptera, que apresentam distribuição desuniforme (ou seja, ocorrência em manchas nos talhões), faz-se necessário um cuidado maior na amostragem. Com o advento dos Bts, alguns detalhes nas observações tornam-se importantes, com maiores cuidados na fase inicial, estruturas novas (folhas, botões e flores), devendo o técnico se atentar, em virtude das mudanças nos últimos anos, como a oviposição, além das mudanças quanto ao potencial produtivo dos diversos materiais, e entendimento do nível de controle.
O monitoramento, muitas vezes, não é bem aplicado, levando a falhas no controle, acelerando processos como o da resistência, principalmente no ambiente Bt. Falhas em algodoeiro, por uma não observação das lagartas nos ponteiros e posterior descida, fazem com que a praga não seja mais controlada, ainda mais em áreas com períodos quentes (anos como El Niño) que aceleram o seu ciclo.
Pode-se afirmar que a “tranquilidade” proporcionada pela tecnologia fez com alguns se descuidassem nas amostragens, levando à tomada de decisão tardia para o controle. O ataque em posições como flores de soja, ponteiros em algodoeiro, estilo e estigma necessita de acurácia para não ter erros.
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