Monitoramento no manejo integrado de pragas em soja

MIP segue princípios básicos como o monitoramento dos insetos para auxiliar na tomada de decisão do controle

04.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

Práticas como o uso do pano de batida e armadilhas com feromônio sexual são bastante úteis no manejo integrado de pragas em soja, por possibilitarem quantificar a população de insetos e sua flutuação, determinar o nível de ação e necessidade de controle, adequar as aplicações de inseticidas ao momento mais adequado, além de ajudar a prever possíveis surtos populacionais.

Entre as principais causas de redução de produtividade das culturas estão as pragas, que tem capacidade de causar danos diretos e indiretos resultando em redução da produtividade, sendo necessário a adoção de medidas de controle para evitar ou reduzir o nível de dano para não comprometer a produtividade e a qualidade do produto. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) busca associar práticas de controle (química, física, biológica e mecânica) com objetivo de manter a população dos insetos em níveis que não causem danos significativos à cultura de interesse.

O MIP segue princípios básicos como o monitoramento dos insetos para auxiliar na tomada de decisão do controle, levando em consideração a densidade populacional, estágio em que a praga se encontra, potencial de dano, estádio fenológico da cultura e ciclo biológico da praga. O conhecimento da relação entre densidade de uma praga e as perdas que causa é fundamental para o estabelecimento de critérios para a tomada de decisão sobre o seu controle dentro dos princípios de MIP.

A adoção dos diferentes métodos de monitoramento depende da praga e da cultura a ser amostrada. O método mais utilizado é o pano de batida em função da facilidade e simplicidade de execução e por abranger em sua amostragem um amplo espectro de pragas da parte aérea da cultura da soja. Porém, apresenta algumas limitações como dificuldade de amostragem em plantas pequenas e a contagem de alguns insetos de rápida locomoção. Este método permite a determinação da densidade populacional da praga no exato momento da amostragem, auxiliando na tomada de decisão pelo controle, sendo esse realizado quando a quantidade (população) de insetos praga for superior (atingir) o nível de ação. Outro método que vem sendo reintroduzido ao MIP na cultura da soja é o monitoramento por armadilha com feromônio sexual. A retomada desse processo se deve em grande parte a constatação da presença da praga Helicoverpa armigera no Brasil no ano de 2013. Devido as informações da ocorrência desta praga em outros países e dificuldade no controle enfrentada, houve apreensão por parte dos produtores e técnicos quanto ao manejo dessa praga em solo brasileiro, o que levou àretomada de vários processos do MIP, como o uso de armadilhamento.

A utilização dos feromônios em armadilhas quando comparada a armadilhas luminosas ou com outros atrativos apresenta a vantagem de capturar espécies especificas de insetos praga, facilitando a sua identificação e quantificação. A especificidade da espécie amostrada depende da composição do feromônio sexual utilizado e permite o monitoramento apenas de insetos adultos.

Armadilha de feromônio sexual em forma de delta.
Armadilha de feromônio sexual em forma de delta.
Especificidade de amostragem de lepidópteros comparando uma armadilha luminosa (A) e uma armadilha com feromônio sexual (B)
Especificidade de amostragem de lepidópteros comparando uma armadilha luminosa (A) e uma armadilha com feromônio sexual (B)

O método de monitoramento por armadilha de feromônio permite estimar picos populacionais das pragas com base na quantidade de adultos capturados nas armadilhas. A determinação de possíveis picos populacionais é dependente de vários fatores relacionados à biologia do inseto e a condições ambientais. Assim o aumento da captura de insetos adultos nas armadilhas não recorre obrigatoriamente a um surto de larvas (lagartas) na lavoura, pois as condições do ambiente podem restringir a sua ocorrência. Desta forma não existe nível de ação para o monitoramento de adultos de lepidópteros em soja. Porém o aumento da captura de adultos gera um alerta, pois se elevam as chances de que um surto de lagartas ocorra. 

Figura 1. Relação entre a flutuação de mariposas de Chrysodeixes includens capturadas em armadilhas com feromônios e larvas capturadas no pano de batida, médias de 11 locais durante o ciclo da soja na região oeste do PR, safra 2014/2015.
Figura 1. Relação entre a flutuação de mariposas de Chrysodeixes includens capturadas em armadilhas com feromônios e larvas capturadas no pano de batida, médias de 11 locais durante o ciclo da soja na região oeste do PR, safra 2014/2015.

Na Figura 1 está um exemplo de monitoramento conjunto armadilha de feromônio e pano de batida, realizado com falsa-medideira (Chrysodeixes includens) na área de atuação da Copacol. É possível observar que o aumento do número de adultos capturados em dezembro de 2014, elevou a quantidade de lagartas na cultura da soja. Nesse caso pode-se fazer o controle com inseticidas em lagartas pequenas, que são facilmente controladas, principalmente no caso da falsa-medideira. Esta espécie apresenta maior tolerância natural aos inseticidas quando comparada a outras espécies. Outro entrave para seu controle é o hábito de se alimentar no terço médio das plantas de soja o que diminui sua exposição direta no momento da aplicação e faz com que se alimente de sub doses de inseticidas, já que os defensivos não chegam na quantidade adequada para seu controle no terço médio das plantas. A estimativa de picos populacionais de adultos facilita o planejamento das aplicações dos inseticidas, minimizando erros, evitando atrasos nas aplicações e consequentemente maximizando o controle das pragas.

Dentre os fatores que influenciam na biologia e na dinâmica populacional dos insetos pragas destacam-se a temperatura, umidade e a qualidade do alimento. A temperatura de um modo geral regula a velocidade com que os processos metabólicos ocorrem, influenciando de maneira direta no ciclo biológico da praga.

 A umidade também interfere no desenvolvimento dos insetos, variando conforme a espécie. A baixa umidade relativa do ar favorece a perda de umidade para o meio. Por outro lado a alta umidade relativa do ar propicia condições favoráveis ao aumento de fungos entomopatogenicos, influenciando na dinâmica populacional dos insetos.

O alimento é outro fator de extrema importância na biologia da praga determinando o fluxo populacional dos insetos-praga, influenciando diretamente no desenvolvimento do inseto e também na sua capacidade reprodutiva pois fornece os nutrientes necessários para o desenvolvimento, sendo que sua composição varia conforme a espécie, sendo requerido em quantidade e qualidade para cada fase do ciclo da praga. 

Figura 2. Flutuação de mariposas de Chrysodeixes includens capturadas em armadilhas com feromônios, instaladas em 11 locais em duas safra de soja da região oeste do PR.
Figura 2. Flutuação de mariposas de Chrysodeixes includens capturadas em armadilhas com feromônios, instaladas em 11 locais em duas safra de soja da região oeste do PR.
Figura 3. Comparativo da precipitação mensal acumulada em duas safras no município de Cafelândia - PR
Figura 3. Comparativo da precipitação mensal acumulada em duas safras no município de Cafelândia - PR

A introdução de cultivares geneticamente modificadas (OGMs), geração RR2, que confere à cultura da soja resistência às principais espécies pragas da ordem dos lepidópteros foi um grande avanço na agricultura brasileira, sendo uma nova ferramenta para o manejo integrado de pragas, garantindo maior estabilidade e segurança no manejo da cultura. Porem o monitoramento de pragas em cultivares de soja Bt deve seguir o mesmo padrão de cultivares convencionais, pois a ação da proteína Bt não se dá sobre todas as espécies de lepidópteros, não havendo controle para algumas espécies como no caso do gênero Spodoptera, constituído de três espécies, que causam danos indiretos na cultura da soja consumindo as folhas e diretos consumindo vagens e grãos, apresentando alto potencial de dano à cultura se não controlada corretamente.

A pratica do monitoramento pelo método de pano de batida associado junto com o monitoramento por armadilha de feromonio sexual, possibilita quantificar a população real da área (pano de batida) e a flutuação populacional de adultos (feromonio), permitindo uma adequação das aplicações, sempre levando em conta o nível de ação da respectiva praga alvo do controle.  É possível, ainda, prever possíveis surtos populacionais e programar as aplicações de acordo com a cultura, praga e método de controle utilizado, para que coincida com o estádio da praga ideal para o controle, estádio da cultura que facilite as aplicações dos inseticidas ou os demais métodos de controle utilizados, levando em consideração o nível de controle da praga através do pano de batida, garantindo o controle eficiente com uso racional dos inseticidas, trazendo benefícios ao ambiente, e maior retorno econômico ao produtor.

Soja e altos rendimentos 

O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo e a produção nacional vem crescendo anualmente o que pode estar atrelado ao aumento de área, a utilização de novas ferramentas tecnológicas (OGMs, agricultura de precisão, dentre outras) e às práticas de manejo adotadas. No ano agrícola 2015/16, o Brasil tem uma área total utilizada para o plantio da cultura da soja de aproximadamente 33,02 milhões de hectares, com a estimativa de produção de 98,8 milhões de toneladas, com aumento de aproximadamente 2,4 % com relação à safra 2014/15(Conab, 2016).

A obtenção de altos rendimentos de grãos está relacionada com à interação entre o genótipo, o qual traz em sua carga genética seu potencial de produção, o ambiente que engloba todos os recursos disponíveis para que a planta cresça e se desenvolva sendo assim capaz de expressar seu potencial, e as práticas de manejo para a manutenção do potencial produtivo.


Renan Teston, Tiago Madalosso, Fernando Fávero, Copacol


Artigo publicado na edição 203 da Cultivar Grandes Culturas.

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