Uso de bioestimulantes em soja
Emprego de bioestimulantes no tratamento de sementes de soja mostra resultados promissores na cultura
Percevejos são pragas importantes, que atacam as vagens das plantas de soja e provocam sérios prejuízos. A pouca diversidade de inseticidas registrados com diferentes modos de ação, riscos de resistência e deficiências na tecnologia de aplicação tornam esses insetos os maiores vilões da produtividade das lavouras atualmente. O uso inadequado de inseticidas, sem a devida amostragem, agrava esse cenário e aumenta os custos de produção. Aprender a realizar o controle, com o emprego de defensivos no momento correto é um dos principais desafios do sojicultor. A chave do sucesso reside no manejo da praga.
Entre as pragas mais importantes da soja estão os percevejos, insetos que atacam as vagens dessa planta. A pouca diversidade de inseticidas registrados com diferentes modos de ação, a resistência comprovada de populações da praga aos inseticidas existentes, associado às deficiências na tecnologia de aplicação desses produtos, fazem desse complexo de pragas o maior vilão da produtividade das lavouras na atualidade. Ainda, o uso errôneo de inseticidas, com aplicação “preventiva” sem a devida amostragem, agrava esse cenário e aumenta os custos de produção, sem qualquer benefício para o produtor. Aprender a controlar a praga com o uso de inseticidas na hora certa é um dos principais desafios do sojicultor e a chave para o sucesso reside no manejo da praga.
Existe uma grande diversidade de espécies de percevejos que pode atacar a soja, porém, a mais abundante e importante no cenário nacional é, sem dúvida, o percevejo-marrom, Euschistus heros. Esses insetos danificam diretamente os tecidos dos grãos, tornando-os chochos e enrugados, afetando a produção e a qualidade dos grãos produzidos. As injúrias causadas pelos insetos durante sua alimentação facilita a contaminação dos grãos por patógenos e pode, ainda, causar distúrbios fisiológicos, como atraso na maturação, retenção foliar e desenvolvimento anormal de folículos e vagens. Entretanto, é importante destacar que os maiores prejuízos às lavouras devido ao ataque dessa praga ocorrem, principalmente, por conta do abandono do Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja) e a utilização de inseticidas de forma “calendarizada” ou em “carona” com pulverizações de herbicidas e fungicidas. Para o sucesso no controle dos percevejos é preciso utilizar de forma correta as principais ferramentas de manejo disponíveis, entre os quais os inseticidas merecem destaque.
O inseticida químico é atualmente a ferramenta mais importante no manejo de percevejos e quando bem utilizado traz benefícios ao produtor. Contudo, pulverizações desnecessárias, realizados sem a adoção de critérios agronômicos, podem trazer grandes malefícios como o aumento do custo de produção, seleção de populações de insetos resistentes, além de surtos de pragas ainda maiores que na ausência da aplicação. O aumento crescente no custo de produção da lavoura de soja é uma realidade que vem preocupando o produtor rural. Parte desses gastos deve-se ao uso incorreto e desnecessário de agroquímicos. Quando comparados os gastos com defensivos entre as safras 2002/2003 e 2012/2013 (Figura1) é possível perceber esse aumento significativo. Parte desses gastos pode ser reduzida, evitando-se o uso desnecessário de inseticidas.
O sojicultor, muitas vezes, temendo perder o controle dos percevejos opta por realizar aplicações de inseticidas com populações baixas ou quando a praga ainda não causa dano, como no período vegetativo, por exemplo. Porém, ao fazer isso, apenas seleciona insetos mais resistentes aos inseticidas utilizados, o que piora os ataques que ocorrerão no período reprodutivo, quando a praga é realmente danosa.
É importante que o produtor não utilize inseticida em qualquer infestação da praga ou preventivamente. A aplicação de inseticidas precisa ser econômica e, portanto, somente justificável quando a população de percevejos estiver igual ou acima dos níveis de ação (representados pelo momento economicamente correto para que uma medida de controle seja iniciada) e assim evitar que a população de insetos cresça demasiadamente e cause prejuízos econômicos.
Infelizmente, a busca incessante pelo aumento da produtividade, associada aos bons preços pagos pela soja e o baixo custo de muitos inseticidas tem fomentado que muitos profissionais recomendem aplicações precoces para controle de percevejos. Isto fez com que muitos produtores abandonassem a amostragem de pragas e o uso do nível de ação, passando a aplicar os inseticidas na soja junto com herbicidas em pós-emergência ou com fungicidas na fase reprodutiva. Isso tem sido feito até em tentativa de aproveitar a operação agrícola que está sendo realizada. Com essa aplicação errônea de inseticidas realizada junto (“carona”) aos herbicidas e fungicidas e não mais no nível de ação, o controle de percevejos na soja vem apresentando resultados desastrosos. Atualmente, utilizam-se até três ou quatro aplicações de inseticidas para controle dessa praga totalizando-se seis ou mais aplicações de inseticidas em uma única safra da soja, o que, com certeza é excessivo e pode ser racionalizado com a utilização do MIP-Soja.
O uso racional de inseticidas já é uma realidade no Paraná. Nesse estado o MIP-Soja tem sido conduzido em diversos municípios em um programa de estado chamado “Plante seu Futuro”. Nessas áreas de manejo (unidades de referências: URs) os técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) prestam assistência e introduzem o MIP-Soja aos produtores. Com isso já foi possível reduzir o uso de aplicações de inseticidas em aproximadamente 50 %, além de aumentar o intervalo da primeira aplicação de 35 dias para 63 dias, permitindo assim maior preservação dos inimigos naturais e propiciando menor impacto decorrente da aplicação do inseticida químico (Figura 2).
Esses resultados foram obtidos porque o produtor aplica os inseticidas apenas quando realmente é necessário (nos níveis de ação), e assim, as aplicações desnecessárias são eliminadas. Resultados recentes de pesquisa, com algumas das novas cultivares de soja (ciclo precoce e crescimento indeterminado), mostram que os níveis de ação são confiáveis e indicam o melhor momento para o sojicultor começar a aplicação de inseticidas com sabedoria, preservando a produtividade da lavoura, assim como o ambiente. Em experimentos conduzidos no município de Arapongas, Paraná, durante diferentes safras foram comparadas a produtividade e a qualidade das sementes após o uso de inseticidas em diferentes intensidades de infestação de percevejos sendo: NA de percevejo (média de 2 percevejos/m); ¼ do NA de percevejo (média de 0,25-0,5 percevejo/m); preventivo (aplicação associada a herbicidas e fungicidas) e a testemunha (sem aplicações) (Tabela 1).
Os resultados obtidos demonstraram que mesmo com uma menor população de percevejos no tratamento em que foi considerado ¼ do nível de ação em relação aos demais tratamentos avaliados (Figura 4), não houve nenhum ganho significativo na produtividade (Tabela 1). Por outro lado, esse tratamento teve certamente maior custo econômico e ambiental, visto que foram necessárias seis aplicações de inseticidas, enquanto no tratamento que seguiu o nível de ação preconizado pela pesquisa (2 percevejos/m), houve a necessidade de somente duas aplicações de inseticidas (Figura 3). É importante salientar que a produtividade observada diferiu apenas entre os tratamentos com aplicações, independentemente do critério utilizado, e a testemunha sem aplicação de inseticidas (Tabela 1). Ao avaliar os danos de percevejos (escala 6-8 no teste de tetrazólio), apenas a testemunha mostrou alto índice de dano, com 13,7% dos grãos com sementes não viáveis. Os tratamentos 1 (2 percevejos/m), 2 (0,25-0,5 percevejo/m) e 3 (preventivo) foram estatisticamente iguais e resultaram em porcentagens de sementes não viáveis inferiores a 6% (Tabela 1). Esta intensidade de dano ainda é aceita para a produção de sementes, cujos padrões são mais exigentes em relação à produção de grãos comprovando mais uma vez a segurança dos níveis de ação recomendados.
Dentre os inimigos naturais de percevejos, a “vespinha” Telenomus podisi 4, um parasitoide de ovos, merece destaque por sua capacidade de parasitismo. Diversos estudos mostram que T. podisi apresenta longevidade em torno de 32 dias a 45 dias, dependendo de seu hospedeiro, e que suas fêmeas tem a capacidade de parasitar ovos em média durante 10 dias. Esta espécie é encontrada em diferentes agroecossistemas e uma de suas principais características é a preferência por ovos de E. heros, além de grande capacidade de busca por estes ovos, que podem estar escondidos na planta e em locais de difícil cobertura pela aplicação tradicional de inseticidas. Assim, o parasitoide encontra os ovos do percevejo, oviposita dentro destes ovos, e após aproximadamente 14 dias, emergem os adultos que darão continuidade ao controle proporcionando um efeito duradouro, comparado ao controle químico convencional.
Outra vantagem na utilização de parasitoides de ovos no MIP-Soja está no fato do controle ser exercido sobre o ovo, antes de o dano ocorrer. Isso permite que, caso haja alguma falha de controle, outra medida de manejo possa ser adotada sem prejuízos na produção da lavoura. A utilização desse parasitoide ainda depende de pesquisas que estabeleçam todas as recomendações para a sua utilização (pacote tecnológico), estando em andamento investigações em diferentes instituições de pesquisa como, por exemplo, Embrapa Soja, Universidade Estadual de Londrina (UEL), dentre outras. Além disso, o uso do parasitoide precisa estar devidamente registrado nos órgãos competentes para que possam ser recomendados em campo. Diante disso, acredita-se que em breve T. podisi poderá ser utilizado como alternativa de controle para Euschistus heros, auxiliando a manter a população do percevejo em níveis que não apresentem ricos de danos à cultura.
Atualmente, as infestações com percevejos têm aumentado significativamente na cultura da soja em todo o território brasileiro, principalmente da espécie E. heros. Isso tem ocorrido em função de um conjunto de fatores tais como seleção de populações de percevejos resistentes aos principais inseticidas utilizados; falta de disponibilidade no mercado de inseticidas com diferentes mecanismos de ação; deficiências na tecnologia de aplicação; e desequilíbrio ecológico causado pelo uso abusivo, e desordenado de inseticidas de largo espectro de ação, logo no início do desenvolvimento da cultura e abandono do MIP-Soja.
Portanto para o manejo correto desse inseto é necessário controlar os percevejos com inseticidas apenas a partir do estágio R3 (início das primeiras vagens) quando a população for igual ou maior que os níveis de ação (através de um monitoramento bem feito com o auxílio do pano-de-batida); adotar os níveis de ação (2 percevejos ≥ 0,3 cm/metro para soja destinada a grãos ou 1 percevejo ≥ 0,3 cm/metro para soja destinada a semente) inclusive para as cultivares mais modernos (soja precoce e de crescimento indeterminado); usar o sal de cozinha (0,5% do volume de calda – v/v ) na calda inseticida quando a soja apresentar desafios para a tecnologia de aplicação (o sal auxilia a contaminação do percevejo com o inseticida, pois faz com que o inseto permaneça mais tempo sobre as folhas expostos a aplicação). É preciso o cuidado de lavar bem o equipamento após a aplicação, porque os resíduos de sal em contato com o metal podem fazer com que sofra processo de corrosão .
Sempre fazer a rotação de inseticidas utilizados (≠ modos de ação); reservar o uso das misturas (neonicotinoides + piretroides), do acefato ou de outro produto recomendado para controle de percevejos, apenas para o período reprodutivo da soja. Isso reduz a pressão de seleção para percevejos resistentes a esses inseticidas e preserva sua ação para o controle dessa praga por maior tempo.
Esses cuidados com o manejo da praga irão auxiliar o sojicultor a ter um bom manejo de sua lavoura, com a utilização de menos inseticida e a obtenção de boa produtividade.
Adeney de Freitas Bueno, Daniel Ricardo Sosa-Gómez, Embrapa Soja; Débora Mello da Silva, Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR)
Artigo publicado na edição 207 da Cultivar Grandes Culturas.
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