Biológicos on farm: em defesa do agricultor brasileiro

Por Solon C. Araujo, conselheiro da ANPI

24.07.2024 | 15:11 (UTC -3)

Sem dúvida, estamos no que podemos chamar de “era dos biológicos na agricultura”. Os produtos químicos, sejam fertilizantes ou defensivos agrícolas, exerceram e continuam a desempenhar um papel fundamental na produção de alimentos.

Mas se antes eram a única opção do agricultor, agora os insumos biológicos, chamados de bioinsumos, abrangendo um vasto leque de produtos, com diversas soluções, seja na disponibilização de nutrientes, no aumento do sistema radicular, mitigação dos estresses climáticos e no controle de pragas e doenças, estão à disposição dos agricultores, para aplicação em diversas culturas.

Com os novo e variado ferramental biológico que foi desenvolvido nos últimos anos, com um grande número de novas empresas, e com a entrada da filosofia de produção destes insumos pelo próprio agricultor, na chamada produção “on farm”, novas regulamentações do setor passaram a ser necessárias, para que se mantenha a qualidade dos produtos utilizados nas lavouras espalhadas pelo país.

Infelizmente começaram a surgir pseudotécnicas de produção “on farm”, totalmente inadequadas para que se possa colocar um produto minimamente eficaz nas lavouras. O uso de produtos biológicos sem qualidade irá, seguramente, causar diminuição da produtividade ao longo dos próximos anos e desacreditar a própria tecnologia do uso de bioinsumos.

Desta forma, o Poder Legislativo discute neste período dois projetos de lei, visando disciplinar a produção e o uso desta linha de produtos. A produção pelas empresas já tem uma regulação muito bem definida há mais trinta anos, com constantes atualizações visando torná-la sempre adequada ao dinamismo da agricultura brasileira.

Com o início, há alguns anos, da chamada produção “on farm” na tentativa de tornar o agricultor menos dependente das empresas produtoras de insumos em geral, iniciou-se um período com bastante polêmica sobre o tema. Infelizmente a produção "on farm" no Brasil iniciou de forma errada. Foi vendida ao agricultor a falsa ideia de que o processo da produção de biológicos é uma tarefa fácil, de baixa tecnologia, sem o envolvimento de técnicas mais sofisticadas, o que é uma visão totalmente errada, absolutamente fora da realidade, levando o agricultor a usar em sua lavoura produtos totalmente inadequados para a obtenção das elevadas produtividades que nosso agricultor necessita para manter o rendimento de sua atividade.

A produção "on farm" pode ocorrer de forma correta, mas com uma regulamentação mínima que assegure que se produza um insumo que, se não chega a igualar o padrão de qualidade das empresas de alta tecnologia, pelo menos acrescenta microrganismos selecionados pela pesquisa, fornecendo material genético de alta qualidade, o que leva a grandes colheitas.

Dos dois projetos em andamento no Poder Legislativo, um é excessivamente permissivo, permitindo que o agricultor use qualquer tipo de microrganismo, vindo de fonte indefinida, não se conhecendo seu potencial para produzir um bioinsumo de qualidade à altura do que o agricultor brasileiro merece. Também não exige inscrição da unidade produtora no MAPA, ficando absolutamente sem controle de nenhuma espécie. Fica sem obrigatoriedade de ter um responsável técnico. Deve-se levar em conta que o agricultor é excelente em sua profissão, mas não é um microbiologista, ficando à mercê de gente inescrupulosa, que vende a falsa ideia de que é possível produzir microrganismos em ambientes abertos, sem esterilização, faltando as mínimas condições para o desenvolvimento dos microrganismos desejados.

Um segundo projeto em discussão, não impede a produção de bioinsumos na fazenda. Pelo contrário, apresenta as condições mínimas para que seja produzido e não fazer de conta que se produz.

A Embrapa, em cerca de uma centena de amostras recolhidas, tem demonstrado, de forma inequívoca, que o método de “produção” em recipientes sem o mínimo de adequação aos preceitos da microbiologia, não possuía nenhuma, repetimos, nenhuma célula das bactérias que desejava obter. Um produto falho, sem trazer a produtividade que o agricultor necessita.

Fica aqui nosso apelo aos congressistas, para que defendam o agricultor brasileiro, pois, se passar a utilizar produtos sem a mínima qualidade, a produtividade, em dois ou três anos passará a decrescer. Nosso agricultor merece produtos que tragam bons resultados em suas lavouras.

Por Solon C. Araujo, conselheiro da ANPI

Artigo publicado na edição 299 da Revista Cultivar Grandes Culturas

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