Potencial produtivo da soja precoce
Por João Pascoalino, coordenador-técnico e de Pesquisa do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB)
Dezenas de exemplares do nematoide Aphelenchoides sp, causador do fenômeno Soja Louca 2, foram identificados pelo laboratório de Nematologia do Instituto Phytus na parte aérea de plantas sintomáticas oriundas de lavouras de soja do Rio Grande do Sul.
Na safra 2015/16 o Instituto Phytus, no Rio Grande do Sul, recebeu diversas reclamações de produtores e consultores de alguns municípios do estado gaúcho referentes à ocorrência de um distúrbio fisiológico nas plantas de soja. Diferenças nítidas em relação ao ciclo de maturação, partes em estádios avançados de senescência e outras expressando uma forte retenção foliar e ausência de legumes.
Sintomas ligados a distúrbios fisiológicos em plantas de soja são considerados extremamente complexos, pois geralmente não apresentam uma explicação lógica. Embora alguns fatores bióticos e abióticos possam vir a causar algum tipo de distúrbio nas plantas de soja.
Algumas hipóteses preliminares foram criadas e precisam ser levadas em consideração. Uma das primeiras e possíveis causas descartadas de início foi à relação com o ataque de percevejos, porém estas áreas não apresentaram níveis elevados desta praga. Sabe-se que o ataque intenso de percevejos pode vir a desencadear um distúrbio fisiológico em função da sua alimentação. Dependendo do estádio de desenvolvimento (ninfas), pode acarretar má formação dos grãos, seguida da queda de legumes e retardamento da fase reprodutiva. Este tipo de anomalia já foi relatado por pesquisadores e denominado de “soja louca”.
Outra possível causa para o problema está atrelada ao regime hídrico (excesso ou falta de chuvas), durante o período de desenvolvimento da cultura. No primeiro aspecto, em algumas lavouras foram observadas plantas com desenvolvimento normal. Entretanto, não apresentavam porte reduzido, uma característica que normalmente é verificada em áreas com excesso hídrico, enfraquecendo esta teoria. Além disso, em algumas áreas, o terreno apresentava certo grau de declive, o que claramente interfere no acúmulo excessivo de água, tornando o ambiente pouco propicio nesta questão.
No outro extremo, o estresse hídrico pode causar o abortamento de flores e legumes, principalmente quando o estresse ocorre na fase de floração e formação de legumes. Um fator determinante para o descarte dessa teoria foi em relação aos diferentes formatos dos sintomas nas lavouras (faixa, manchas). Além disso, cabe ainda salientar que, na safra 2015/16, o regime pluviométrico foi aproximadamente 20% maior que a média histórica do Rio Grande do Sul, em função de fenômeno El Ñino.
Outras duas possíveis causas recaíram sobre a variedade de soja, e as condições climáticas ligadas à temperatura e o fotoperíodo. Na primeira, cruzando as informações dadas pelos produtores, observou-se ser pouco provável, pois tais sintomas apareceram em pelo menos cinco variedades diferentes de soja, mostrando não ter uma correlação direta com alguma variedade especifica. As causas acerca da luminosidade e da temperatura mostram-se, também, pouco prováveis, devido à distância entre os locais de aparecimento dos sintomas, bem como a distribuição das plantas afetadas nas lavouras. Vale lembrar que o fotoperíodo é uma característica variável das cultivares, onde cada uma possui seu fotoperíodo crítico e a temperatura exerce papel fundamental em todo o estádio de desenvolvimento fenológico da planta.
Outra possível causa, assentou-se sobre a ótica da deficiência nutricional. O desiquilíbrio nutricional interfere diretamente nos processos de desenvolvimento das plantas e, dependendo dos níveis de deficiência, pode vir a causar algum distúrbio no seu desenvolvimento. Tem-se como exemplo a retenção foliar, haste verde, mal pegamento dos legumes e até formação de sementes partenocárpicas, entre outros. Além disso, outro questionamento recaiu sobre um problema que até então é muito recente, relatado e comprovado cientificamente (Postulado de Koch), pelos pesquisadores da Embrapa Mauricio Meyer e Luciany Favoreto da Epamig, denominada então de “Soja Louca 2”, causada pelo nematoide do gênero Aphelenchoides sp. Os sintomas nas plantas estavam muito semelhantes aos já relatados pelos pesquisadores.
Os principais sintomas observados nas plantas destas lavouras do Rio Grande Sul foram folhas enfezadas e afiladas, com uma coloração verde escuro, hastes muito alongadas “caneludas” e legumes com grãos de diferentes tamanhos. Nestas áreas observou-se ainda, um alto índice de abortamento de legumes, durante o estádio reprodutivo (R3 – R6), seguido de um número excessivo de brotamentos nas axilas .
Amostras da parte aérea das plantas semelhantes aos sintomas de Soja louca 2, foram analisadas no laboratório de Nematologia do Instituto Phytus, Rio Grande do Sul, onde foram identificados dezenas de exemplares destes nematoides (Aphelenchoides sp) presentes na parte área das plantas. Nematoides desta família são mundialmente conhecidos como fitoparasitas de parte aérea dos vegetais, sobrevivendo como micófagos e alimentando-se de fungos presentes no solo. Existem relatos diversos de danos em culturas como arroz, ornamentais e florestais. A característica de ectoparasita migrador permite que promova a infecção/dano no hospedeiro e, posteriormente, desloque-se até o próximo sitio de infecção.
Embora tenha encontrado a presença desse nematoide nas plantas de soja, ainda existe uma série de questionamentos a serem respondidos, acerca da biologia deste nematoide, como sua infecção, colonização e reprodução na soja. Estes aspectos são imprescindíveis para formulação de medidas voltadas ao manejo e controle. Neste caso não existe ainda algo concreto para se recomendar aos produtores. Entretanto, alguns aspectos devem ser levados em consideração para tentar esclarecer o mais rápido possível as causas envolvendo este nematoide na soja. Este estudo deve contemplar outras áreas, pois se tratando de eventos fisiológicos, quaisquer fatores (bióticos e abióticos) podem estar envolvidos com esta anomalia também.
Paulo Sérgio Santos, Marcelo Madalosso, Instituto Phytus
Artigo publicado na edição 204 da Cultivar Grandes Culturas.
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