Adubação nitrogenada em café

​Exigido em grande quantidade, o nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes na cultura do cafeeiro

18.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

Exigido em grande quantidade o nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes na cultura do cafeeiro. E evitar perdas na aplicação de fertilizantes, como a uréia, tem sido um desafio para técnicos e produtores. Para minimizar o problema uma alternativa reside no uso de produtos de liberação controlada (ureia + polímero).

A cafeicultura brasileira está implantada, em grande maioria, em solos de baixa fertilidade natural, o que exige uma adequada correção e fertilização para alcançar elevadas produtividades. Dentre os nutrientes, o nitrogênio merece atenção especial, pois é o exigido em maior quantidade pelo cafeeiro.

O nitrogênio (N) é o nutriente que apresenta os efeitos mais significativos no aumento da produtividade na cultura do café. É importante por exercer várias funções nos processos bioquímicos da planta, como constituinte de enzimas, coenzimas, ácido nucleicos e clorofila.

Uma das dificuldades na recomendação da adubação nitrogenada é a dinâmica muito complexa do elemento no solo, sofrendo várias transformações como: lixiviação, volatilização, nitrificação, desnitricação, imobilização e mineralização, alterando assim, a sua oferta durante o desenvolvimento da planta. Dessa forma, o N pode tornar-se o elemento mais caro no sistema de produção do cafeeiro.

O fertilizante nitrogenado mais utilizado no Brasil é a ureia, que devido sua alta concentração de N, permite menor custo por unidade do nutriente. Porém, a aplicação de ureia sobre o solo causa uma elevação do pH na região do grânulo do fertilizante no momento da hidrólise. Esse aumento no pH faz com que ocorram elevadas perdas de N por volatilização na forma de amônia. Essas perdas por volatilização contribuem para diminuição da eficiência dos fertilizantes nitrogenados, que podem atingir valores de até 35% do total de N que é aplicado.

Uma das alternativas para minimizar as perdas de nitrogênio é a aplicação parcelada dos fertilizantes nitrogenados, resultando em maior aproveitamento pelas plantas. Entretanto, o parcelamento nem sempre é a maneira mais rentável para o produtor, pois pode gerar um aumento significativo nos gastos com mão de obra e também provocar compactação do solo, devido ao maior tráfego de maquinários na área.

Neste sentido, são muitas as estratégias para melhorar a eficiência no uso de fertilizantes nitrogenados. Incluem-se o uso de inibidores de urease (NBPT) e de nitrificação, adição de compostos acidificantes e o uso de ureia revestida com polímeros ou gel, gerando os fertilizantes conhecidos como de liberação lenta ou controlada.

Os fertilizantes de liberação lenta ou controlada são aqueles que de alguma forma atrasam ou estendem a sua oferta para a planta a um período além de um fertilizante de referência. Considera-se como de referencia um fertilizante cuja disponibilidade de nutrientes seja imediata, a exemplo da ureia.

O uso de fertilizantes nitrogenados de liberação controlada pode fornecer vários benefícios, como aumento na produtividade, economia de trabalho, já que pode abolir ou diminuir o número de parcelamentos e diminuição do impacto ambiental devido à menor lixiviação do nitrato, desde que combinado com a demanda da cultura e as  condições de desenvolvimento. Dentre os mecanismos de controle de liberação, um dos mais utilizados, consiste basicamente de uma capa de polímero em torno de um fertilizante solúvel (normalmente ureia) que possibilita um sincronismo na oferta do nutriente pelo fertilizante e a demanda do elemento pela planta. Entretanto, vale ressaltar que depende do período de liberação garantido pelo fabricante do fertilizante e também das condições de umidade e temperatura do solo.

Considerando a importância do estudo dessa tecnologia no ramo da fertilidade do solo, este trabalho buscou avaliar as perdas de amônia por volatilização da ureia convencional amplamente utilizada e a ureia de liberação controlada, revestida com polímeros.

O experimento foi conduzido em campo, entre novembro de 2014 a março de 2015 em um Latossolo vermelho distrófico, em uma lavoura de café localizada a 7 km do município de Lavras, Minas Gerais.

Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados com três repetições, sendo as fontes de N: ureia convencional (45% de N) e a ureia revestida por polímeros (39% de N). As parcelas experimentais foram compostas por 12 plantas, igualmente espaçadas de 3,0 m entre linhas e 1,0 m entre as plantas. A dose de N utilizada foi de 450 kg/ ha, dividida em três aplicações no tratamento com ureia convencional, sendo o intervalo entre cada aplicação de 60 dias e aplicada em dose única para o tratamento com ureia revestida com polímeros.

Para adubação de manutenção da lavoura, aplicou-se 300 kg/ ha de K2O e 100 kg/ ha de P2O5, utilizando como fontes o cloreto de potássio (60% K2O) e o superfosfato triplo (46 % de P2O5). Os micronutrientes, boro, zinco e cobre foram aplicados via foliar.

Para quantificação da volatilização de amônia, utilizou-se o método do coletor semiaberto. Para construção do coletor, foram utilizados tubos de PVC com 20 cm de diâmetro e 50 cm de altura. 

Coletor de PVC semiaberto. - Foto: Wantuir Filipe T. Chagas
Coletor de PVC semiaberto. - Foto: Wantuir Filipe T. Chagas

Os tubos de PVC foram inseridos no solo até a profundidade de 5cm. Utilizou-se dois discos de espuma laminada com densidade de 0,02 g cm-3 e 2,5 cm de espessura cortados no mesmo diâmetro do tubo. As espumas foram embebidas com 85 mL /L de solução de ácido fosfórico (H3PO4) e glicerina nos volumes de 40 e 58,8 mL/ L (0,87 mol /L de H3PO4) respectivamente e fixadas nas alturas 25cm e 45 cm do solo. A esponja fixada a 45cm possui a função de evitar a contaminação da esponja inferior. Essa esponja inferior, colocada a 25 cm do solo é utilizada para determinação da amônia volatilizada. Para determinação, essas esponjas foram trocadas no 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 7º, 9º. 11º, 13º, 16º, 19º, 23º, 28º, 35º e 42º dias após cada adubação nitrogenada de cobertura. Para extrair a solução das espumas coletadas, utilizou-se um funil de Buchner com auxílio de uma bomba de vácuo, sendo cada espuma passada por 4 lavagens em extrações sequenciais com 80 mL de água deionizada. A partir desse extrato foram retiradas alíquotas para determinação do teor de N por destilação pelo método de Kjeldahl.

Após a obtenção dos resultados de perda de N, em porcentagem do total aplicado (450 kg/ha de N), notou-se diferenças singnificativas para as perdas de nitrogênio (na forma de amônia), entre a ureia convencional e a ureia revestida por polímeros. A comparação entre as médias foi realizada pelo teste de Scott-Knott (p < 0,05), (Figura 1). 

Figura 1. - Perda acumulada de nitrogênio por volatilização de amônia (N-NH3) por Ureia convencional e Ureia revestida por polímeros (Ureia + Polímero). Médias seguidas de letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Scott-Knott (P ≤ 0,05).
Figura 1. - Perda acumulada de nitrogênio por volatilização de amônia (N-NH3) por Ureia convencional e Ureia revestida por polímeros (Ureia + Polímero). Médias seguidas de letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Scott-Knott (P ≤ 0,05).

A Ureia convencional obteve uma perda de 18,5% do total de N aplicado, o que permite inferir que dos 450 kg/ ha de N aplicados na forma de ureia convencional, 83,5 kg foram perdidos por volatilização.  Já a Ureia revestida com polímeros promoveu uma perda de 10,46% do total de N aplicado, ou seja, apenas 47,1 kg de N.

Com isso, pode-se concluir que a ureia revestida com polímeros obteve menor perda de N (8% a menos) em comparação a ureia convencional, mesmo sendo aplicada em dose única. Assim, o uso de fertilizantes de liberação controlada (Ureia + Polímero) pode ser uma alternativa eficiente na fertilização do cafeeiro, propiciando menores perdas de N por volatilização e com isso reduzir o tráfego de maquinários na lavoura evitando a necessidade do parcelamento da adubação nitrogenada.

(A) Ureia de liberação controlada revestida por polímeros e (B) Ureia convencional. - Foto: Wantuir Filipe T. Chagas
(A) Ureia de liberação controlada revestida por polímeros e (B) Ureia convencional. - Foto: Wantuir Filipe T. Chagas


Wantuir Filipe Teixeira Chagas, Dougras Ramos Guelfi, Anderson William Dominguetti, André Luiz Carvalho Caputo, Ufla


Artigo publicado na edição 204 da Cultivar Grandes Culturas.

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