Armazenagem de grãos: uma das últimas fronteiras na introdução de novas tecnologias

Por Everton Rorato, diretor da PCE Engenharia

07.10.2024 | 13:25 (UTC -3)

A Conab anunciou recentemente que a safra de verão 2024/25 deve produzir 327 milhões de toneladas entre grãos e fibras. Se, por um lado, estes números revelam a capacidade do setor produtivo de dentro da porteira, em aumentar sua produção, por outro, escancara mais uma vez uma deficiência na infraestrutura de armazenagem dos grãos. Safra após safra é possível ver a distância entre a produção e a capacidade instalada de silos e armazéns e que chega hoje a somente 124 milhões de toneladas, segundo estimativa da própria Conab. E o que chama a atenção é que a perspectiva de redução desta diferença é muito pequena, pois o crescimento de unidades instaladas no Brasil, nos últimos 10 anos é de apenas 2% ao ano. E, por incrível que pareça, mesmo que haja recursos do Governo Federal para estimular a aquisição de silos e armazéns, não é possível aumentar este índice por conta da capacidade instalada de toda a indústria que atua neste setor.

Embora o país esteja na vanguarda da produção de grãos como soja, milho e trigo, onde a transformação digital, já está presente em áreas como plantio, colheita e transporte, o setor de armazenamento ainda está lento em sua caminhada rumo à adoção de novas tecnologias. Um dos primeiros desafios é justamente o fato de que a estrutura de armazenamento muitas vezes é antiga e carece de modernização. Outro fator é a baixa qualificação da mão de obra na operação destes equipamentos. E ainda, certa resistência por parte dos produtores que possuem armazéns ou silos, em adotarem equipamentos que melhorem a eficiência, porque, em geral, só vêm isto como custo, não percebendo o ganho que este investimento traz. Além disso, a persistência no uso de práticas tradicionais aumenta o risco de perdas, que normalmente giram em torno de 3% por safra, de tudo o que está armazenado. Com isso, os produtores enfrentam dificuldades em manter a qualidade dos grãos, impactando diretamente na sua renda líquida.

A revolução tecnológica no armazenamento

No início dos anos 2000 uma tecnologia trazida pela pesquisa mudou alguns conceitos na produção agrícola; a Agricultura de Precisão. A AP é uma técnica que utiliza tecnologias avançadas para coletar a processar dados agrícolas, com o

objetivo de melhorar a gestão da produção, na propriedade. A partir da sua introdução, muitos novos equipamentos foram criados para atenderem a demanda e satisfazerem aos clientes. Hoje o uso da Agricultura de Precisão, está consolidado.

É interessante observar que este movimento trouxe também mudanças no campo. Novas variedades de sementes, equipamentos de plantio e colheita mais eficientes, fazendo com que o período de trabalho fosse se reduzindo. Hoje, por exemplo o processo de colheita é bem mais rápido do que era há 10 anos. Esta eficiência é extremamente positiva. Mas, trouxe um problema para a área de armazenagem que não acompanhou, através da introdução de tecnologias, mesmo que de manejo, a evolução que aconteceu no campo. Resultado, tem-se aí um gap entre as duas áreas, provocando, muitas vezes, um congestionamento de caminhões que precisam esperar na fila para descarregarem os grãos, pois a área de secagem ou de armazenamento está sobrecarregada. Conclusão? Se no campo já se tem a agricultura de precisão, na armazenagem não estamos neste patamar, por quê?

Porque falta a adoção de tecnologias que melhorem todo o processo, tanto de capacidade quanto de gestão, além é claro de pesquisa em desenvolvimento delas para que venham a ser oferecidas ao mercado. Atualmente já temos sistemas de automação para o controle de temperatura interna na massa de grãos que podem ser visualizadas a distância e permitem a operação automática do processo de aeração, dos fluxos de transporte e secagem.

E mesmo que já existam muitas tecnologias, a adoção delas enfrentam resistências que vão desde falta de conhecimento para adotá-las até operadores capacitados para bem utilizá-las. Certo é que quanto mais cedo começarem a ser instaladas na armazenagem, melhores resultados serão obtidos na hora de comercializar os grãos.

Por Everton Rorato, diretor da PCE Engenharia

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

LS Tractor Fevereiro