Ácaros em algodão: cada vez mais frequentes

A frequência da incidência de ácaros em diversas culturas tem aumentado ao longo das últimas safras no Brasil

06.10.2018 | 20:59 (UTC -3)

A cultura do algodoeiro se destaca no Brasil por determinar o desenvolvimento de muitas regiões. A região dos Chapadões é uma das que foram impulsionadas em função do agronegócio em torno desta cultura. A cultura do algodoeiro no Brasil apresentou área de aproximadamente 1.017,1 mil hectares, e produção em torno de 1.532,8 mil toneladas de algodão em pluma na safra 2014/2015 (CONAB, 2015). Na região dos Chapadões esta área totaliza em torno de 50 mil hectares.

O agroecossistema utilizado no Centro-Oeste é um ambiente favorável à multiplicação de pragas, pois prevalece um sistema de produção em que a soja é principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, sendo rotacionada muitas vezes com a cultura do algodoeiro ou milho em determinadas regiões e anos. Desta forma, o cultivo sucessivo destas culturas, faz com que muitas pragas se adaptem ao sistema, aliado a isto outros fatores como condições climáticas favoráveis, de altas temperaturas e de inverno ameno, tornam-se ideais para a multiplicação dos insetos.

Dentre os problemas, os ácaros tem aumentado a frequência no Brasil, principalmente em locais ou anos com maior incidência de veranicos, além do ataque as diversas culturas, e desta forma aumentando sua importância, tanto pelos danos causados, como pela necessidade de ações para o seu controle.

          Os ácaros-praga são artrópodes pertencentes a classe Arachinida, fitófagos e polifagos, ou seja, são encontradas em vários habitats e alimentam-se de deversas espécies vegetais onde perfuram as células com seus estiletes e se alimentam dos líquidos extravasados nas folhas. Se diferenciam dos insetos (classe Insecta) por não possuirem segmentação no corpo e por apresentarem quatro pares de pernas.

          No passado os ácaros fitófagos eram considerados pragas secundárias em algumas culturas, como o caso da soja. Porém a utilização de alguns defensivos para o controle de pragas nas culturas, fez com que os inimigos naturais fossem reduzidos drasticamente (como por exemplo os ácaros predadores da familia Phytoseiidae), aumentando a população dos ácaros fitófagos, consideravelmente. E neste âmbito a cultura do algodoeiro não é diferente. A utilização de inseticidas, para o controle do bicudo-do-algodoeiro, tem proporcionado um aumento na população de ácaros.

Os ácaros normalmente requeriam de duas a quatro intervenções por safra. Com a saída de moléculas do mercado de defensivos, como o caso do Endossulfan, foi necessário ajustar novas estratégias de manejo, com outros inseticidas para o controle de diversas pragas, além do surgimento de novas (caso da Helicoverpa armigera), o que aumentou o número de aplicações de inseticidas na cultura.  Pode-se ainda citar as diversas aplicações de fungicidas no controle das doenças, que tende a diminuir os fungos que poderiam atacar esta praga. Este ambiente favorece ao aumento populacional de ácaros, tendo os produtores derealizar um maior número de intervenções.

          Atualmente no Brasil, as espécies que atacam o algodoeiro são o ácaro-rajado Tetranychus urticae, o ácaro-verde Mononychellus planki ambos Tetraniquideos e o ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus da família Tarsonemidae.

          De modo geral os ácaros perfuram as células e se alimentam do líquido exsudado. Entre as espécies o ácaro-rajado é considerado por muitos pesquisadores como uma das mais importantes no sistema. Tetranychus urticae apresenta na fase adulta  manchas no dorso, que são os depósitos de sua alimentação, retidos nos ventrículos. Colocam ovos esféricos de coloração amarelada. Tecem teias que abrigam estes ovos conferindo proteção a diversos fatores (característica da família Tetranychidae). Passam pelas fases de larvas e ninfas, sendo divididas em proto e deutoninfas. É possível perceber a mudança nas folhas após a troca de fase. O ciclo pode-se processar nas condições de Chapadão do Sul, em torno de 15 dias. As primeiras populações na cultura do algodoeiro iniciam-se a partir de plantas hospedeiras ou mesmo da dispersão de áreas vizinhas, em virtude do vento, e condições associadas como a aplicação em demasia de piretróides ou neonicotinóides na cultura. A colonização das plantas normalmente começa no terço superior.   

Esta praga em condições favoráveis pode ser altamente tolerante ao controle químico (Raizer et al 1985).Casos de resistência aos acaricidas já foram observados nas condições brasileiras (Sato et al 2009).

O ácaro-verde (Mononychellus planki) é outra espécie encontrada, com menor frequência nas lavouras. Tende a se hospedar próximo as nervuras, ou mesmo quando do aumento da população entre as nervuras, normalmente iniciando na face inferior e depois,  quando em altas populações, chega a atacar a face superior das folhas, provocando alterações fisiológicas nas plantas, desfolha prematura, e diminuindo a produtividade da cultura. Esta espécie apresenta maior ocorrência normalmente nos estádios reprodutivos, principalmente quando o maior enfolhamento da lavoura, que propicia melhor condição de sobrevivência para os ácaros, e também ocorrência no final do ciclo da lavoura. Esta espécie Mononychellus planki é um ácaro de maior ocorrência no interior das plantas, colonizando primeiramente o terço médio e após o terço superior, causando desfolha precoce da cultura e diminuindo conseqüentemente a produção.

O ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) apresenta ocorrência importante em diversas culturas. Em algodoeiro sua incidência está ligada principalmente ao período após as adubações nitrogenadas, além de outros nutrientes aplicados foliarmente, além de fatores coincidentes como dias úmidos, nublados e quentes. Ataca os tecidos jovens das plantas fazendo com que as folhas se desenvolvam de forma anormal, mantendo-se pequenas ou deformadas. A presença pode ser observada inicialmente por uma aparência brilhante da face inferior da folha aompanhada de ligeira ondulação desta, cujas margens se dobram para cima. Posteriormente, dobram-se para baixo, e o limbo torna-se coriáceo e quebradiço. Encontrado comumente em brotações novas e folhas novas.

Esta praga nos últimos anos tem aumentado em virtude de fenômenos como “El nino”, que propiciam chuvas em períodos de maio e junho. Desta forma outra questão a ser considerada é a prática da adubação nitrogenada por ocasião dos 90 dias, o que pode proporcionar um aumento populacional se coincidente com outros fatores. Ao cessar das chuvas esta praga tende a diminuir.

          A amostragem, neste cenário, apresenta papel fundamental para o sucesso de manejo dos ácaros pragas. Deve ser criteriosa, a fim de verificar o inicio das infestações e em virtude disto poder traçar as melhores alternativas de manejo. As infestações iniciam-se normalmente em reboleiras, e com o aumento populacional tende a se espalhar para todo o talhão, em função da sua dispersão, que pode ser pelo vento, além de outros meios.

É imprescindível estar atento ao aumento populacional, pois ao se tomar alguma medida nestas condições, pode ser tarde, requerendo a utilização de uma sequencia de estratégias, para a melhor supressão da população.

A partir da identificação o técnico deve analisar a cultura, estádio, condições de clima e assim se utilizar das estratégias disponíveis de Manejo Integrado de Pragas (MIP). O controle químico é a ferramenta mais empregada, no entanto, sem a observação destes critérios pode não ser possível controlar esta praga de forma satisfatória. Alguns defensivos apresentam também certa seletividade aos inimigos naturais nesta cultura, e dentro do cenário adverso de um grande número de aplicações, isto deve ser considerado a fim de melhorar o MIP.

Dentro do MIP o manejo cultural é uma medida recomendada. Em trabalhos realizados pela Fundação Chapadão tem se observado frequência alta desta praga nas soqueiras mal destruídas, de uma safra para outra. Outras plantas daninhas como Commelina benghalensis (trapoeraba) em levantamentos nos anos de 2012 e 2013 apresentaram grande frequência de ácaros. Vale salientar que culturas utilizadas como cobertura também podem hospedar os ácaros, além de outras tigueras como o milho.

Outro ponto sensível é o estimulo a reprodução dos ácaros, chamado de hormoligose, que provoca o aumento populacional dos indivíduos, propiciado por inseticidas piretróides, neonicotinóides e outros. 

A utilização de acaricidas é uma alternativa rápida e eficiente a fim de evitar os surtos destas pragas. No entanto existem algumas diferenças na ação destes produtos. Alguns apresentam ação somente em adultos, não controlando fases como ovos e ninfas. Vale ainda salientar o poder residual de determinados acaricidas o que confere interessante supressão nas diversas fases da praga.

Estas diferenças na ação dos acaricidas devem ser levadas em consideração, sendo necessário, em alguns casos, a reaplicação na cultura, a fim de evitar os prejuízos. O ajuste de dose para cada espécie de ácaro, não pode ser esquecido. Entre os acaricidas são exemplos Espiromesifeno, Abamectina, Clorfenapyr, Propargito e Diafentiuron, com eficiências interessantes dentro das estratégias de manejo desta praga. Para alguns destes acaricidas é recomendado adjuvante especifico, (muitas vezes óleo vegetal), o que propicia maiores eficiências.

Por serem pragas de difícil controle a tecnologia de aplicação também exerce papel importante no combate desta importante praga para a cotonicultura.

O artigo completo está na edição 198 da Cultivar Grandes Culturas.

 


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