Acetamiprido

24.06.2025 | 08:21 (UTC -3)

O acetamiprido é um dos neonicotinoides de maior relevância no cenário agrícola contemporâneo. Trata-se de ferramenta importante no controle de pragas sugadoras em culturas estratégicas como soja, milho, algodão, citros, tomate e diversas hortaliças.

Este inseticida sistêmico, classificado no grupo IRAC 4A, distingue-se por sua atuação específica como modulador competitivo dos receptores nicotínicos de acetilcolina, conferindo elevada eficácia contra pulgões, mosca-branca, tripes e cigarrinhas.

O acetamiprido, denominação comum estabelecida pela ISO (International Organization for Standardization), possui como nomenclatura química oficial N-[(6-cloro-3-piridil)metil]-N'-ciano-N-metilacetamidina, apresentando fórmula molecular C₁₀H₁₁ClN₄ e número de registro CAS 135410-20-7.

Classificado quimicamente como neonicotinoide da subfamília cloronicotinil, este composto foi desenvolvido pela empresa japonesa Nippon Soda Co. Ltd. durante o final da década de 1980, obtendo seu primeiro registro comercial em 1995.

Modo de ação e mecanismo bioquímico

O mecanismo de ação do acetamiprido fundamenta-se em sua capacidade de atuar como modulador competitivo dos receptores nicotínicos de acetilcolina (nAChR) localizados no sistema nervoso central dos insetos-alvo.

Diferentemente da acetilcolina endógena, que estabelece ligações reversíveis com os receptores, o acetamiprido caracteriza-se por formar complexos irreversíveis com os sítios de ligação específicos, resultando no bloqueio permanente da transmissão sináptica normal.

Este processo bioquímico desencadeia uma cascata de eventos neurológicos que se inicia com a despolarização contínua dos neurônios pós-sinápticos, culminando em excitação neural persistente seguida de paralisia.

A classificação do acetamiprido no grupo 4A do sistema IRAC (Insecticide Resistance Action Committee) reflete precisamente este mecanismo de ação específico, distinguindo-o de outros grupos de inseticidas por sua atuação seletiva sobre os receptores nicotínicos.

A manifestação dos sintomas de intoxicação nos insetos tratados segue um padrão temporal característico e previsível.

Inicialmente, observa-se um período de hiperexcitação acompanhado de tremores e movimentos descoordenados, que se manifesta entre 30 minutos a 2 horas após a exposição. Esta fase evolui progressivamente para paralisia parcial, caracterizada por significativa redução da capacidade locomotora e alimentar.

O estágio terminal da intoxicação caracteriza-se pela paralisia completa e consequente morte por falência do sistema nervoso, processo que se completa tipicamente entre 24 a 72 horas pós-aplicação, dependendo da concentração aplicada, espécie-alvo e condições ambientais prevalecentes.

Espectro de controle e eficácia

O acetamiprido demonstra eficácia contra um amplo espectro de pragas sugadoras de importância econômica.

Entre as espécies que apresentam elevada suscetibilidade ao princípio ativo destacam-se Aphis gossypii (pulgão-do-algodoeiro), Myzus persicae (pulgão-verde), Bemisia tabaci (mosca-branca), Frankliniella occidentalis (tripes), Empoasca kraemeri (cigarrinha-verde), Rhopalosiphum maidis (pulgão) e Diaphorina citri (psilídeo-dos-citros). A eficácia contra estas espécies fundamenta grande parte da utilização comercial do acetamiprido em sistemas agrícolas diversificados.

Contudo, algumas espécies apresentam resposta parcial ao tratamento, requerendo ajustes nas estratégias de aplicação. Thrips palmi frequentemente demanda doses superiores às convencionalmente recomendadas, enquanto Aphis craccivora exibe variabilidade de controle relacionada às características específicas das populações locais. Aleurodicus dispersus igualmente demonstra suscetibilidade moderada, necessitando de monitoramento rigoroso da eficácia de campo.

Por outro lado, certas ordens de insetos apresentam tolerância natural ou resistência intrínseca ao acetamiprido:

  • Os lepidópteros em geral exibem baixa afinidade pelos receptores nAChR específicos, limitando significativamente a eficácia do produto sobre lagartas.
  • Ácaros tetraniquídeos mostram-se naturalmente insensíveis devido à ausência dos receptores-alvo específicos em sua fisiologia neural.
  • Coleópteros adultos frequentemente demonstram tolerância elevada, atribuída ao seu sistema metabólico detoxificante altamente desenvolvido.
  • Adicionalmente, populações de Bemisia tabaci com resistência metabólica documentada representam crescente desafio para o manejo eficaz com acetamiprido.

Recomendações técnicas e estratégias de aplicação

As recomendações técnicas para aplicação do acetamiprido fundamentam-se em extensa base de dados experimentais que estabelecem parâmetros ótimos para maximização da eficácia.

A dosagem padrão situa-se na faixa de 100 a 200 gramas de ingrediente ativo por hectare para a maioria das combinações cultura-praga registradas.

Em situações caracterizadas por elevada pressão de pragas ou quando os insetos-alvo encontram-se em estádios de desenvolvimento mais avançados, justifica-se a utilização de doses de até 300 gramas de ingrediente ativo por hectare, respeitando rigorosamente os limites máximos estabelecidos nos registros oficiais dos produtos comerciais.

O momento ideal para aplicação constitui fator crítico para otimização dos resultados. A estratégia mais eficaz consiste na aplicação preventiva ou no início da colonização, quando as populações de pragas encontram-se predominantemente nos estádios jovens, particularmente ninfas de primeiro e segundo ínstares. Para culturas que atravessam período de florescimento, recomenda-se prioritariamente a aplicação no final da tarde ou início da noite, estratégia que minimiza a exposição de polinizadores e outros insetos benéficos.

As condições climáticas no momento da aplicação exercem influência determinante sobre a eficácia do tratamento.

O cenário ideal caracteriza-se por temperaturas entre 20 e 28°C, umidade relativa superior a 50%, velocidade do vento inferior a 10 km/h e ausência de precipitação nas quatro horas subsequentes à aplicação.

Aplicações realizadas sob condições de estresse hídrico severo das plantas devem ser evitadas, pois comprometem significativamente a absorção sistêmica do princípio ativo, reduzindo consequentemente sua eficácia biológica.

Compatibilidade e estratégias de mistura

O acetamiprido caracteriza-se por ampla compatibilidade física e química com a maioria dos agroquímicos utilizados contemporaneamente, atributo que facilita sua integração em programas de aplicação racionalizados.

Demonstra compatibilidade consolidada com fungicidas das classes dos triazóis e estrobilurinas, herbicidas pós-emergentes de diversas classes químicas e outros inseticidas complementares.

A compatibilidade estende-se igualmente a adjuvantes não-iônicos e óleos vegetais quando utilizados em concentrações tecnicamente adequadas.

Entre as misturas mais frequentemente empregadas na prática agrícola destaca-se a combinação acetamiprido com tebuconazol, que proporciona controle simultâneo de pragas sugadoras e doenças fúngicas, otimizando operacionalmente os programas de proteção de cultivos.

A mistura com lambda-cialotrina amplia significativamente o espectro de controle para incluir lepidópteros, enquanto a associação com óleo mineral potencializa a eficácia específica contra cochonilhas e outros insetos de tegumento ceroso.

Entretanto, certas misturas devem ser rigorosamente evitadas devido ao risco de incompatibilidade química e consequente perda de eficácia. Produtos com reação fortemente alcalina (pH superior a 8,5), calda bordalesa, produtos cúpricos em elevadas concentrações e fertilizantes foliares com alto teor de cálcio podem provocar precipitação e degradação do princípio ativo, comprometendo os resultados esperados.

Resistência e estratégias de manejo

A documentação científica de casos de resistência ao acetamiprido, embora ainda limitada comparativamente a outros neonicotinoides, apresenta tendência crescente que demanda atenção técnica especializada.

Registros confirmados foram identificados em populações de Bemisia tabaci em regiões do Mediterrâneo, sul dos Estados Unidos e algumas áreas da Ásia, associados principalmente ao uso intensivo e sequencial de neonicotinoides.

Populações de Myzus persicae com resistência cruzada também foram reportadas em países europeus, indicando a necessidade de monitoramento proativo.

As recomendações para manejo de resistência fundamentam-se na implementação obrigatória de rotação com inseticidas de diferentes grupos IRAC. Grupos prioritários para rotação incluem 1A/1B (organofosforados/carbamatos), 3A (piretroides), 9B (pimetrozina) e 23 (espirotetramatos). Estabelece-se como princípio fundamental não utilizar neonicotinoides por mais de duas aplicações consecutivas na mesma safra agrícola.

As estratégias práticas para manejo eficaz da resistência envolvem múltiplas abordagens integradas:

  • O monitoramento regular das populações através de bioensaios constitui ferramenta indispensável para detecção precoce de mudanças na suscetibilidade.
  • O uso consistente de doses plenas, conforme recomendações técnicas oficiais, minimiza a pressão seletiva sobre populações parcialmente resistentes.
  • A preservação de áreas de refúgio sem tratamento inseticida mantém populações suscetíveis que contribuem para diluição de genes de resistência.
  • A integração com controle biológico e práticas culturais reduz a dependência exclusiva do controle químico, enquanto a implementação de janelas livres de aplicação de neonicotinoides permite recuperação da suscetibilidade populacional.

Eficácia agronômica e posicionamento estratégico

A eficácia agronômica do acetamiprido sofre influência significativa de diversos fatores ambientais e operacionais que devem ser considerados no planejamento das aplicações.

Precipitações superiores a 20 milímetros nas primeiras quatro horas pós-aplicação reduzem drasticamente a absorção sistêmica, comprometendo a eficácia esperada. Temperaturas extremas, seja inferiores a 15°C ou superiores a 35°C, afetam negativamente a atividade biológica do princípio ativo.

O déficit hídrico severo limita significativamente a translocação sistêmica na planta, enquanto aplicações foliares realizadas sob alta umidade relativa (superior a 80%) otimizam a penetração cuticular e absorção.

As vantagens competitivas do acetamiprido incluem excelente ação sistêmica que proporciona proteção prolongada, período residual estendido (7 a 14 dias), baixíssima fitotoxicidade em culturas registradas e seletividade para inimigos naturais quando utilizado nas doses recomendadas.

O posicionamento estratégico do acetamiprido em diferentes sistemas agrícolas requer análise específica das características de cada cultura e do complexo de pragas associado.

Na cultura da soja, o princípio ativo encontra posicionamento preferencial no controle de percevejos e pulgões durante os estádios vegetativos e início do período reprodutivo, sempre em esquemas de rotação com piretroides e diamidas para preservação da suscetibilidade.

No milho, as aplicações direcionam-se prioritariamente para controle de pulgões e cigarrinhas, especialmente em áreas com histórico de viroses transmitidas por afídeos, onde o controle eficaz dos vetores assume importância crítica para preservação do potencial produtivo.

Na cotonicultura, o acetamiprido constitui ferramenta fundamental no manejo de pulgão-do-algodoeiro e mosca-branca, devendo ser integrado com programas de MIP que contemplem liberação de parasitoides e outras táticas de controle biológico.

Para a cana-de-açúcar, o uso estratégico concentra-se no controle de cigarrinhas vetoras de doenças, com aplicações dirigidas durante períodos críticos de migração dos insetos, momento em que a pressão de infestação atinge níveis que justificam a intervenção química.

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