Os bovinos são parasitados por várias espécies de vermes (helmintos), dos quais destacam-se os nematódeos gastrintestinais, vulgarmente conhecidos como vermes redondos. Estes parasitas, em sua maioria, apresentam dimensões reduzidas, o que dificulta a sua visualização a olho nu. Embora pequenos, podem ocorrer aos milhares no aparelho digestivo e no trato respiratório dos animais.
A maioria dos nematódeos apresenta duas fases distintas no seu desenvolvimento: (1) uma fase de vida parasitária que ocorre no hospedeiro e que se inicia com a ingestão da larva infectante e que se completa com o parasita adulto eliminando ovos nas fezes e (2) uma fase de vida livre que ocorre na pastagem e vai de ovo até larva infectante. Os animais se infectam ao ingerirem a pastagem ou o alimento contaminado com as larvas dos parasitas.
Praticamente 100% dos animais criados a campo albergam uma ou mais espécies de nematódeos. O parasitismo, entretanto, não é sinônimo de doença, pois, geralmente, os animais de um rebanho se encontram em boas condições de saúde, ou pelo menos, a maioria deles. Isto decorre do fato dos hospedeiros terem mecanismos imunológicos que possibilitam, na maioria das vezes, manter a população de endoparasitas sob controle. Quando isto ocorre, pode-se afirmar que a relação parasita – hospedeiro se encontra em equilíbrio.
Entretanto, esta situação de equilíbrio pode ser alterada por diversos fatores como o clima, o estado nutricional, a idade e o estado fisiológico dos animais, etc. O rompimento deste equilíbrio é, muitas vezes, produzido inadvertidamente pela ação do próprio homem. Exemplos de atuação desfavorável são fartos, dentre os quais podemos destacar os seguintes:
• A criação de grande número de animais em áreas que comportam altas lotações resulta no aumento da contaminação ambiental com os estágios de vida livre dos parasitas. Os animais expostos a altas cargas de parasitas podem sucumbir, especialmente, os mais jovens que são mais susceptíveis;
• A resistência dos animais contra as infecções parasitárias depende da ingestão de alimento de qualidade. No Brasil, é relativamente comum vermos animais subnutridos, especialmente nos meses de inverno. A subnutrição pode comprometer a resposta imunológica do animal.
• A introdução de animais de raças provenientes de regiões de clima temperado que não apresentam resistência contra algumas espécies de parasitas abundantes em regiões tropicais. Estes animais, por serem considerados de alta produtividade, muitas vezes, substituem raças bem adaptadas às condições de criação dos trópicos.
A verminose pode acometer animais de qualquer sexo e idade. No entanto, o problema é mais severo nos animais jovens e em fêmeas no período do periparto. Em conseqüência do parasitismo, os principais sinais clínicos apresentados pelos bovinos são anemia, diarréia e inapetência. Em muitos casos a infecção é subclínica e os animais não apresentam esses sinais, mas, no entanto, podem apresentar redução na produtividade.
O problema da resistência
O controle da verminose gastrintestinal de bovinos tem sido baseado, quase que exclusivamente, no emprego de três grupos de anti-helmínticos de amplo espectro: benzimidazóis (albendazol, oxfendazol e fenbendazol), imidazotiazóis (levamisol) e lactonas macrocíclicas (ivermectina, abamectina, doramectina e moxidectina). Vários experimentos têm demonstrado aumento significativo na produtividade de bovinos jovens com a utilização desses produtos. No entanto, um dos problemas que ocorrem com a utilização freqüente dos vermífugos é a seleção de parasitas resistentes, os quais sobrevivem após o tratamento.
O problema da resistência anti-helmíntica é bastante sério nas criações de pequenos ruminantes, mas atualmente é causa importante de preocupação também na bovinocultura. Já existem registros de populações de vermes com resistência aos anti-helmínticos em várias fazendas.
É imperativo que a eficácia dos anti-helmínticos seja preservada, pois eles indiscutivelmente são muito úteis na profilaxia da verminose. Para retardar o aparecimento da resistência anti-helmíntica as seguintes medidas são sugeridas:
• Os vermífugos devem ser administrados na dose correta. A utilização de vermífugos em subdosagem é uma das causas que favorecem a seleção de populações de parasitas resistentes. Por isso, deve-se evitar subestimar o peso dos animais e deve-se aferir a precisão das pistolas dosificadoras.
• Restringir o número de tratamentos anuais ao estritamente necessário. Tratamentos freqüentes aumentam a taxa de seleção de vermes resistentes.
• Na maioria das situações não é necessário o tratamento de animais adultos. O sistema imunológico dos animais adultos na maioria das situações limita com eficiência o estabelecimento dos vermes.
• Os grupos de anti-helmínticos devem ser utilizados em esquema de rodízio anual. Estudos têm demonstrado que a alternância anual de vermífugos de diferentes grupos é o esquema que tem proporcionado os melhores resultados no sentido de retardar o surgimento de populações de vermes resistentes. Exemplo de esquema que pode ser adotado: Primeiro ano – utilização de um benzimidazol; segundo ano – imadazotiazol; terceiro ano – lactona macrocíclica; quarto ano reinício do ciclo com a utilização de um benzimidazol e assim sucessivamente.
• As fazendas devem ser avaliadas periodicamente para verificar a presença de nematódeos resistentes. Antes de investir em tratamentos com anti-helmínticos, os fazendeiros deveriam investir na realização de exames laboratoriais para verificar se a aplicação de tratamentos é realmente necessária. Além disso, apenas com exames periódicos pode-se determinar se a droga que está sendo utilizada em uma fazenda está tendo a eficácia esperada contra uma determinada população de helmintos.
Os anti-helmínticos devem ser utilizados apenas de maneira complementar em esquemas de manejo que visem minimizar a utilização das drogas e ao mesmo tempo maximizar a produtividade do rebanho. È importante que o pecuarista siga as orientações dos pesquisadores que trabalham em institutos e universidades, pois a elaboração de medidas de profilaxia requer sólidos conhecimentos sobre a biologia e a epidemiologia das enfermidades parasitárias.
Alessandro F. T. Amarante
UNESP –Botucatu
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