Método para diagnosticar a meleira do mamoeiro

Por Tuffi Cerqueira Habibe e Antonio Souza do Nascimento (Embrapa Mandioca e Fruticultura)

01.02.2005 | 14:03 (UTC -3)

Bastante suscetível às viroses, o mamoeiro (Carica papaya L.) vem sofrendo grandes perdas na produção, podendo chegar à destruição da totalidade das plantas afetadas. No geral, as plantas atacadas por vírus apresentam baixo desenvolvimento vegetativo, menor rendimento da produção, má qualidade de produtos e menor longevidade produtiva.

A intensidade dos danos causados pelos vírus depende, logicamente, da resistência do hospedeiro, da virulência do patógeno e dos fatores ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença.

O vírus da mancha anelar do mamoeiro ("Papaya ringspot virus", PRSV), o vírus do amarelo letal do mamoeiro ("Papaya yellowing lethal virus", PYLV) e o vírus da meleira do mamoeiro (“Papaya sticky disease virus”, PSDV), são os principais vírus que infectam o mamoeiro no Brasil.

Considerada atualmente como uma das principais doenças do mamoeiro, a meleira do mamoeiro vem causando perdas de 30 a 40% na produção, podendo afetar até 100% das plantas em pomares nos estados da Bahia, Espírito Santo, Pernambuco, Ceará, Goiás e Rio Grande do Norte. Recentemente a meleira também foi observada em plantios comerciais no estado da Paraíba, causando infecção mista em mamoeiros juntamente com o PRSV.

A doença caracteriza-se por intensa exsudação e escorrimento espontâneo de látex com consistência bastante fluida nos frutos, pecíolo e caule de plantas infectadas pelo vírus. Devido à oxidação, o látex escorrido escurece dando um aspecto ‘melado’ ou ‘borrado’, tornando os frutos imprestáveis para o comércio. Também podem ocorrer manchas claras na casca e na polpa dos frutos afetados.

Em plantas jovens, antes da frutificação, podem ocorrer sin tomas de necrose nos bordos das folhas mais novas, em decorrência da exsudação e oxidação do látex. Recentemente foram observados em plantios infectados com a meleira, localizados em nos Estados da Bahia e Pernambuco, novos sintomas associados à virose: exsudação e oxidação de látex nos bordos das pétalas das flores de mamoeiros em fase de floração e/ou frutificação, seguida de necrose.

Os mamoeiros infectados pelo PSDV também exibiam sintomas de exsudação e oxidação do látex nas nervuras das folhas do ápice e terço mediano.

Manejo da doença

Atualmente a diagnose da meleira vem sendo efetuada a partir do monitoramento do pomar pela observação dos sintomas característicos, que se tornam mais evidentes durante a fase de frutificação. O treinamento de técnicos vinculados a órgãos de extensão, assistência técnica, defesa fitossanitária e produtores líderes, para o reconhecimento destes sintomas é de fundamental importância para o controle da meleira do mamoeiro.

Outras medidas de controle recomendadas para a doença são: a utilização de mudas e sementes sadias, obtidas de pomares onde não ocorreu a meleira; a instalação do pomar em áreas sem a presença do vírus; manter o pomar livre de mato para evitar a multiplicação de insetos, possíveis vetores da doença, e promover a desinfecção dos instrumentos de corte utilizados nos tratos culturais e colheita, com detergente ou água sanitária, antes de trabalhar com a próxima planta.

O longo período entre o plantio das mudas e a frutificação tem contribuído para a disseminação da doença, pela inexistência de um método de diagnose precoce, rápido e seguro. Esta lacuna acaba elevando consideravelmente as fontes de inóculo e retardando as ações de controle.

A erradicação de plantas infectadas pela meleira deve ser a medida mais efetiva a ser adotada. Esta prática é comum entre os agricultores mais esclarecidos (Nascimento et. al., 2001).

Diagnose da meleira: método em uso

Em laboratório, a detecção da doença é realizada pela presença de dsRNAs em amostras de folhas, raízes e flores. Para isto, faz-se a extração de dsRNA baseado no método descrito por Dodds et al. (1984), com modificações nos volumes utilizados na extração, lavagens e eluição final, seguido de sua análise eletroforética em géis de agarose ou poliacrilamida.

Neste método, gasta-se em média 48 horas até o resultado das análises. Objetivou-se neste trabalho a simplificação do método de detecção da meleira, em laboratório, com substancial redução do tempo e de gastos na diagnose.

Diagnose da meleira: método proposto

A metodologia descrita baseia-se na coleta e posterior análise eletroforética, em géis de agarose, do látex de mamoeiros em diferentes estádios de desenvolvimento, o que possibilita a diagnose precoce em plantas adultas antes da frutificação e até mesmo na fase de sementeira.

Coleta do látex:

  • Em plantas com frutos: a coleta do látex de plantas em fase de frutificação dá-se mediante picadas com agulha ou palito de dentes nos frutos. O látex, num volume aproximado de 90 microlitros, deve ser coletado em microtubos contendo ou não tampão fosfato de sódio (0,01 M, pH 7,0), pois o dsRNA é detectado igualmente em látex puro ou coletado em tampão. No campo, o látex coletado deve ser mantido a 4ºC e armazenado a -20ºC.
  • Em plantas adultas sem frutificação: em plantas onde não haja frutos, coleta-se o látex do pecíolo, caule, axila ou nervuras das folhas, diretamente em microtubos contendo 30 microlitros de tampão fosfato de sódio (0,01 M, pH 7,0). No campo, o látex coletado deve ser mantido a 4ºC e armazenado a -20ºC.
  • Em mudas: em plântulas, o látex é extraído a partir do seccionamento do pecíolo, caule ou ainda da trituração de 0,5g de folhas novas. O material deve ser colhido diretamente em microtubos contendo 30 mL de tampão fosfato de sódio (0,01 M, pH 7,0), sendo submetido à microcentrifugação de 11.750 g por 10 min. No campo, o látex coletado deve ser mantido a 4ºC e armazenado a -20ºC.

Análise do material coletado

A análise das amostras é realizada em eletroforese, com a aplicação direta de 30 mL do látex diluído em tampão fosfato 0,01 M, pH 7,0 (1: 1.5) ou sem diluição, em gel de agarose 1,2%, corado com brometo de etídio sendo a corrida realizada entre 80 e 100 V, por três a quatro horas em tampão TBE (Tris Borato EDTA).

Vantagens do método proposto

  • Caracteriza-se pela rapidez e precisão no diagnóstico de plantas infectadas pela meleira do mamoeiro, mesmo em plântulas a partir de dois meses de idade, tornando-se uma importante ferramenta no controle preventivo da doença.
  • Promove a redução do tempo de detecção da doença, bem como dos custos com as análises laboratoriais, pela supressão de reagentes de valor elevado utilizados nos métodos tradicionais de extrações de dsRNA. O tempo médio gasto para a diagnose da doença através deste método foi reduzido para aproximadamente cinco horas.
  • Permite avaliar com rapidez a suscetibilidade de genótipos de mamoeiro ao vírus.
  • Permite checar a presença da meleira em novas áreas.
  • Em laboratório, promove uma considerável redução da contaminação do ambiente causados pelo uso de compostos fenólicos e de outros reagentes tóxicos, utilizados em outros métodos de extração de dsRNA.

* Por Tuffi Cerqueira Habibe e Antonio Souza do Nascimento (Embrapa Mandioca e Fruticultura)

Artigo publicado na edição 30 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas (2005)

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