Muito se tem visto na mídia impressa e televisiva sobre adulteração de combustíveis, principalmente da gasolina automotiva.
Após o governo Collor houve uma maior liberação do setor de distribuição de combustíveis visando a adoção de um mercado menos regulamentado no setor. Porém, como em qualquer área da economia existem aqueles que, não tendo como competir de forma honesta, procuram auferir grandes lucros, adulterando combustíveis ou praticando sonegação fiscal. A Agência Nacional do Petróleo – ANP tem efetuado grandes esforços para coibir estas práticas desonestas. No entanto, face à grande extensão do território nacional, à grande quantidade de postos revendedores de combustíveis, à imensa fronteira com outros países da América do Sul e à complexidade de nosso sistema judicial que através de liminares mantém em operação distribuidoras de combustíveis autuadas por irregularidades fiscais e de qualidade, a ANP não tem conseguido coibir todas as práticas fraudulentas que ocorrem no país.
Face ao exposto, o consumidor, que em última instância é o grande prejudicado, deve ficar bastante alerta. Nem sempre é possível detectar a tempo a utilização de gasolina automotiva adulterada. Mas, algumas medidas preventivas podem ser tomadas. Antes de falarmos sobre estas medidas vamos entender algo sobre a gasolina automotiva.
O que é gasolina
A gasolina é um derivado do petróleo formado por uma mistura complexa de mais de 400 hidrocarbonetos provenientes de processo de refino. Suas especificações são regulamentadas pela ANP. Portanto, cabe esclarecer um ponto importante: quem estabelece as especificações da gasolina automotiva é o governo federal através da Agência Nacional do Petróleo – ANP. A Petrobrás produz a gasolina automotiva cumprindo estas especificações. A portaria que especifica a gasolina automotiva é a ANP nº 309, de 27/12/2001. Nesta portaria são definidas as especificações das gasolinas comum e premium. Maiores detalhes podem ser consultados no site
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Octanagem da gasolina
Para cada projeto de motor, tem-se o momento ideal para a ocorrência do centelhamento da vela de ignição. Logo após o centelhamento, ocorre a formação de uma frente de chama que se propaga através da câmara de combustão, queimando o combustível e provocando um substancial aumento de pressão e temperatura. Estes aumentos de pressão e temperatura devem ser absorvidos pela gasolina sem entrar em auto-ignição. Se a gasolina não corresponder a essa exigência, ela se inflamará espontaneamente, criando uma nova frente de chama que se propagará e se chocará com a frente de chama inicialmente gerada pela vela de ignição. Este choque gera um ruído semelhante ao de peças metálicas que se chocam, e é erroneamente denominado batida de pino. A denominação correta do fenômeno é detonação. Este fenômeno, além de aumentar o ruído produzido pelo veículo, pode vir a causar sérios danos aos motores como desgaste, por erosão, do pistão, cabeçote e eletrodo das velas; avaria nos mancais etc. Além disto, o motor terá a sua potência prejudicada enquanto aumenta o consumo de combustível. Isto ocorre porque parte da energia liberada pela gasolina deixa de ser aproveitada para geração de força no motor e se perde como ondas de choque descontroladas.
A avaliação da octanagem da gasolina é de suma importância para se garantir que o produto atenda às exigências dos motores e não entre em ignição antes do tempo. Esta avaliação é feita nos laboratórios da Petrobrás.
Há dois métodos para se medir a octanagem de uma gasolina: o MON (motor octane number) e o RON (research octane number).
No Brasil, utiliza-se o IAD (índice anti-detonante ) que é média aritmética do MON e do RON - (MON + RON)/2.
TIPOS DE GASOLINA E QUAL USAR
Gostaríamos, antes de tudo, definir o que é gasolina tipo A: é a gasolina produzida pelas refinarias de petróleo e entregue diretamente às companhias distribuidoras. Não possui álcool etílico anidro em sua composição. O álcool etílico anidro é adicionado nas bases das distribuidoras. Esta gasolina não é, portanto, comercializada diretamente ao consumidor final.
Cabe esclarecer, também, que o álcool etílico anidro (que é adicionado à gasolina tipo A) não é o mesmo que se utiliza para veículos movidos a álcool. Este é o álcool etílico hidratado.
A ANP autoriza para utilização ao consumidor final para uso automotivo, em território brasileiro, quatro tipos de gasolina:
GASOLINA TIPO C
É a gasolina comum que se encontra disponível no mercado sendo comercializada nos postos revendedores e utilizada em automóveis, motos, embarcações náuticas etc. Esta gasolina é preparada pelas companhias distribuidoras que adicionam álcool etílico anidro à gasolina tipo A. A porcentagem de álcool anidro especificado, atualmente, para ser adicionado à gasolina tipo A deve ser de 25 %, podendo haver variação entre 24% e 26% em volume. Tem cor amarela.
GASOLINA TIPO C- PREMIUM
É uma gasolina que apresenta uma formulação especial. Tem maior octanagem e, portanto, maior resistência à detonação que a gasolina comum. Também contém álcool etílico anidro em sua composição na proporção de 25% (admite-se tolerância de 1% para mais ou para menos). Foi desenvolvida pela Petrobrás para atender os veículos nacionais e importados com altas taxas de compressão e alto desempenho que tenham a recomendação do fabricante de utilizar um combustível com elevada resistência à detonação. É, também, menos poluente que a gasolina comum.
GASOLINA ADITIVADA
A gasolina aditivada é uma gasolina tipo A onde é adicionado um pacote de aditivos multi-funcional que tem como principal vantagem as características detergentes-dispersantes. Com isto, minimiza-se a formação de depósitos nos carburadores e nos bicos injetores, bem como no coletor de admissão e nas hastes das válvulas de admissão. Isto reduz o intervalo de limpeza dos bicos injetores e carburadores além de maior segurança como, por exemplo, reduzir a probabilidade de falha em uma ultrapassagem, o que poderia provocar um acidente.
A figura (
) mostra um teste feito pela Petrobrás em bicos injetores que utilizavam gasolina comum e gasolina aditivada.
Percebe-se que o bico injetor que utilizava gasolina aditivada, para um mesmo período de teste, apresentou uma nebulização e, portanto, uma combustão muito melhor.
Esta gasolina deve ter um corante para se diferenciar da gasolina tipo C (comum). A da Petrobrás, denominada BR-Supra, apresenta cor verde.
Um ponto deve ser ressaltado para que a gasolina aditivada tenha eficiência: deve ser usada continuamente. De pouca valia é utilizá-la de forma descontinuada visto que os depósitos removidos voltarão ao deixarmos de usá-la. Sua atuação é de caráter, primariamente, preventivo. Recomenda-se, no entanto, se ela nunca foi usada no veículo, nas três primeiras trocas posteriores ao início de seu uso reduzir os intervalos de troca do filtro de combustível à metade visto que o aditivo detergente-dispersante pode efetuar uma remoção de depósitos do sistema de injeção e de alimentação do combustível, o que poderia provocar um entupimento prematuro dos filtro de combustível. Após isto, pode-se voltar ao intervalo de troca do filtro de combustível recomendado pelo fabricante.
Esta gasolina, também, tem álcool etílico anidro adicionado na proporção citada anteriormente.
GASOLINA PODIUM
Aproveitando-se de sua experiência como fornecedora de gasolina para a equipe Williams de Fórmula 1, a Petrobrás lançou, recentemente, no mercado nacional a gasolina Podium.
Trata-se de uma gasolina com octanagem mais elevada que as gasolinas comum, premium e aditivada. Além de aumentar o rendimento, ela ajuda a diminuir a formação de resíduos nos cilindros e é mais estável. Esta última característica retarda o envelhecimento do combustível e evita a formação de borras no tanque, responsável pelo entupimento de bicos injetores e tubulações. É, também, um combustível mais limpo. Seu teor de enxofre é 97% menor que o das gasolinas comum, aditivada e premium e, com isto, a empresa se antecipa às exigências de controle da poluição que só em 2005 vão estar em vigor na Europa e nos Estados Unidos. Por enquanto, a gasolina podium está sendo comercializada, somente, nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro mas a sua comercialização deverá ser estendida a todo o país.
Como o consumidor pode se prevenir de fraudes?
Sem equipamento próprio nem sempre é possível ter certeza se determinada gasolina está dentro dos padrões estabelecidos pela ANP. A fraude tem atingido grande nível de sofisticação. A presença de compostos danosos ao motor nem sempre pode ser evidenciada por análise visual.
Porém, alguns cuidados básicos podem ser tomados.
1- Uma fraude comum é se adicionar álcool etílico anidro em quantidade superior ao especificado (atualmente 25% em volume. Admite-se uma tolerânica de 1 % para mais ou para menos). Como o álcool é mais barato que a gasolina alguns postos desonestos têm efetuado esta prática. O teste de determinação do teor alcoólico é um teste simples que o posto revendedor tem obrigação, se solicitado, de efetuar na frente do usuário.
Consiste em se colocar em uma proveta graduada de 100 ml, 50 ml de gasolina e adicionar água até completar o volume exato de 100 ml.
Faça 5 a 10 inversões sucessivas da proveta segurando bem a tampa de vidro para evitar derramamento da mistura.
Deposite a proveta em local plano e deixe-a em repouso por alguns minutos até que ocorra a separação nítida de duas camadas. A água arrasta o álcool etílico anidro formando uma camada inferior de cor leitosa. Na camada superior fica apenas a gasolina pura (sem álcool etílico anidro). O teor alcoólico percentual será, então, o aumento do volume da camada aquosa multiplicado por 2. Por exemplo: se o aumento da camada aquosa for de 13 ml o teor alcoólico percentual será 13 x 2 = 26%.
Se o teor alcoólico estiver na faixa de 24% a 26% (especificação atual e sujeita a mudanças ) o produto satisfará esta especificação.
Se o teor alcoólico estiver acima de 26%, poderá ter ocorrido um dos seguintes casos:
• adição indevida de álcool etílico hidratado (álcool vendido em postos de serviço para utilização em veículos movidos a álcool);
• adição excessiva de álcool etílico anidro;
• contaminação por restos de álcool presente no tanque de transporte.
A Petrobrás, através da sua subsidiária Petrobrás distribuidora s.a. – BR, com o intento de assegurar ao consumidor brasileiro combustível de qualidade, desenvolveu o programa "de olho no combustível". Trata-se de um programa de adesão voluntária onde postos de serviço de bandeira Petrobrás, componentes do programa, devem satisfazer uma rigorosa relação de 10 exigências, após o que este posto de serviço ganha o certificado " de olho no combustível". Esta certificação é exposta no posto de serviço Petrobrás através de banners, fornecidos pela Petrobrás.
Só podem participar deste programa aqueles clientes que adquirirem, com exclusividade, combustíveis Petrobrás. Terão de satisfazer, também, vários requisitos, tais como:
• ter bomba e registros de drenagem (para evitar o acúmulo de água nos tanques);
• ter os equipamentos de controle de qualidade de combustível disponível no posto e fazer testes regularmente e quando solicitado pelos clientes;
• fazer manutenção dos filtros de combustível regularmente;
• aceitar auditoria regular de qualidade nos combustíveis, feita por técnico da Petrobrás;
• ter frentistas treinados pela Petrobrás para fazer os testes de qualidade quando da chegada do caminhão-tanque carregado de combustível no posto.
Ao total são 10 itens que devem ser satisfeitos para que o posto de serviço seja certificado no programa "de olho no combustível". Cabe ressaltar que não satisfazendo qualquer dos 10 itens o posto de serviço perde automaticamente a certificação, só podendo recuperá-la após corrigir a não-conformidade.
Gostaríamos, para encerrar este artigo, de lembrar aos usuários de gasolina um velho provérbio popular: "Quando a esmola é muita o santo desconfia". O preço da gasolina, ainda, é tabelado nas refinarias da Petrobrás e, desta forma, não há margem para diferenças acentuadas de preço. Desconfie das "promoções milagrosas". Abasteça em postos de serviço de sua absoluta confiança e, obtendo bom desempenho com o combustível deste(s) estabelecimento(s), torne-se um consumidor regular dele. Não fique mudando a toda hora em busca de promoções ocasionais. O maior custo é o do reparo no veículo e não o de tê-lo disponível.
A Petrobrás Distribuidora S.A., subsidiária da Petrobrás- Petróleo Brasileiro S.A., coloca à sua disposição vasta rede de postos certificados pelo programa de "De olho no combustível" além de equipe de engenheiros e técnicos em todo o território nacional para dirimir quaisquer dúvidas sobre gasolina.
Marcos Thadeu G. Lobo,
Petrobrás Distribuidora
* Este artigo foi publicado na edição número 15 da revista Cultivar Máquinas, de novembro/dezembro de 2002.
* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:
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