O controle das doenças da soja pode ser obtido através do desenvolvimento de um sistema de Manejo Integrado, que se baseia no princípio de manter as doenças abaixo do limiar de dano econômico, sem prejuízo para o agroecossistema, utilizando medidas biológicas, culturais e químicas. Como parte integrante de uma agricultura sustentável, o Manejo Integrado de Doenças deve agregar todas as táticas disponíveis de controle.
A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem na cultura da soja é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Isso implica na introdução de doenças em áreas novas ou mesmo a reintrodução em lavouras cultivadas onde a doença já havia sido controlada pela adoção de práticas eficientes de manejo, como, por exemplo, a rotação de culturas. Presentes nas sementes, esses microorganismos sobrevivem durante anos e se disseminam pela lavoura, como focos primários de doenças. Entre as medidas de controle desses patógenos, o tratamento de sementes de soja com fungicidas é uma das mais eficazes e econômicas, sendo utilizado para garantir boa emergência quando a semeadura coincide com períodos adversos, evitando, na maioria das vezes, a necessidade da ressemeadura.
O tratamento de sementes de soja tem por objetivos principais erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes; proporcionar a proteção das sementes e plântulas contra fungos do solo e, eventualmente, da parte aérea, na fase inicial do seu desenvolvimento, promover condições de uniformidade na germinação e emergência; evitar o desenvolvimento de epidemias no campo; proporcionar maior sustentabilidade à cultura pela redução de riscos na fase de implantação da lavoura e promover o estabelecimento inicial da lavoura com uma população ideal de plantas.
Esta prática é recomendada quando: as sementes estiverem contaminadas por fungos fitopatogênicos (determinado através da realização do teste de sanidade de sementes); as condições de semeadura são adversas, tais como ocorrência de chuvas muito pesadas, que provocam a formação de uma crosta grossa na superfície do solo, dificultando a emergência das plântulas, solo compactado, semeadura profunda, semeadura em solo com baixa disponibilidade hídrica, semeaduras em solos com baixas temperaturas e alto teor de umidade e principalmente em casos de práticas de rotação de culturas ou de cultivo em áreas novas.
Este fungo freqüentemente reduz a qualidade das sementes de soja, especialmente quando ocorrem períodos chuvosos associados a altas temperaturas, durante a fase de maturação. Este patógeno está freqüentemente associado às sementes que sofreram atraso na colheita, principalmente devido à ocorrência de chuvas. Phomopsis spp. é o principal agente causador da baixa germinação de sementes de soja, no teste padrão de germinação no laboratório, à temperatura de 25ºC.
É o causador da antracnose, que tem nas sementes o mais eficiente veículo de disseminação. É comum o aparecimento de sintomas nos cotilédones, que se tornam necrosados, logo após a germinação. Esse fungo pode causar a deterioração das sementes, morte de plântulas e infecção sistêmica em plantas adultas.
O sintoma mais evidente do ataque deste fungo é observado nas sementes, que ficam com manchas típicas de coloração roxa. Porém, vale ressaltar que nem todas as sementes com este tipo de sintoma apresentam o fungo. Por outro lado, sementes aparentemente sadias (sem a presença da mancha púrpura no tegumento) podem estar contaminadas com este patógeno. Assim, só por meio do Teste de Sanidade de Sementes é que se pode ter certeza da presença ou não desse patógeno nas sementes. Trabalhos têm demonstrado não haver qualquer efeito negativo desse fungo na qualidade da semente.
Dentre as espécies de Fusarium, a mais freqüentemente encontrada (98% ou mais) em sementes de soja é o F. semitectum. É considerado patogênico por afetar a germinação em laboratório. De maneira semelhante a Phomopsis spp., o fungo F. semitectum está freqüentemente associado a sementes que sofreram atraso na colheita ou deterioração no campo.
Causador da podridão branca da haste e da vagem, este patógeno tem nas sementes a sua principal fonte de inóculo primário da doença. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto por escleródios misturados às sementes. O fungo, devido à formação de estruturas de resistência (escleródios), é de difícil erradicação após introdução em uma área. Este patógeno produz apotécios sobre seus próprios escleródios, que são as estruturas de sobrevivência.
Diversas espécies de Aspergillus ocorrem em sementes de soja, porém a mais freqüente é A. flavus. Tem sido observado que, em sementes colhidas com teores elevados de umidade, um retardamento do início da secagem por alguns dias é suficiente para reduzir sua qualidade, devido à ação desse fungo. Quando encontrado em alta incidência, pode reduzir o poder germinativo das sementes e a emergência de plântulas no campo.
O tombamento de plântulas é a doença que normalmente aparece na fase inicial de desenvolvimento da soja, podendo ocorrer tanto na pré quanto na pós-emergência. Entre os patógenos responsáveis, destacam-se Rhizoctonia solani, Sclerotium rolfsii e Pythium spp. Na região Centro-Oeste do Brasil, principalmente na soja cultivada nos Cerrados, merece destaque o tombamento causado por R. solani, que é um fungo polífago pois ataca um grande número de espécies vegetais. Este patógeno é habitante natural do solo. Pode ser transmitido pelas sementes, porém raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse fungo. A planta atacada por R. solani desenvolve apodrecimento seco das raízes, estrangulamento do colo e lesões deprimidas e escuras (marrom-avermelhada) no hipocótilo, abaixo e ao nível do solo, resultando em murcha, tombamento ou sobrevivência temporária com emissão de raízes adventícias acima da região afetada. Estas plantas geralmente tombam, num período compreendido entre a pré-emergência e 10 dias a 15 dias após a emergência.
Uma das doenças de maior importância no hemisfério oriental do planeta, devido à alta virulência com que incide, é a ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd. & P.Syd. Trata-se da principal doença dessa cultura em áreas tropicais e subtropicais. Perdas significativas e, em alguns casos, quase totais, têm sido relatadas nos países onde ocorre. No Brasil, a doença foi detectada em 2001 e desde a safra agrícola de 2003/2004, tem sido constatada em quase todas as regiões produtoras de soja. Segundo o Consórcio Antiferrugem, até a safra 2006/2007, perdas ocasionadas pela doença foram da ordem de 14 milhões de toneladas de grãos. No caso específico da soja, para o manejo da ferrugem asiática, a prática do tratamento de sementes é recente e vem sendo adotada em diferentes regiões produtoras no país. Isto só foi possível em função do advento dos fungicidas sistêmicos, principalmente os do grupo dos triazóis, o que abriu uma possibilidade viável de controle dessa enfermidade via semente na cultura da soja, pelo fato desses produtos possuírem características de penetração, translocação e efeito residual prolongado. Até o momento, somente o fungicida sistêmico fluquinconazole, pertencente ao grupo químico dos triazóis, tem registro para esse fim, o qual não substitui o tratamento químico convencional das sementes de soja, visando o controle de fungos das sementes e eventualmente de alguns presentes no solo. Deve-se ressaltar ainda que a sua adoção pode promover benefícios adicionais no controle desta doença, quando usado de forma integrada ao tratamento químico da parte aérea, dentro de um programa de manejo integrado da ferrugem da soja. Desta forma, esta prática voltada para o controle dessa doença pode ser considerada uma evolução no conceito do tratamento de sementes, como mais uma ferramenta visando o manejo dessa enfermidade.
O tratamento deve ser feito, preferencialmente, em tratadores de sementes, na unidade de beneficiamento (máquinas de tratar sementes). Durante a operação de tratamento, o fungicida sempre deverá ser aplicado em primeiro lugar, para garantir boa cobertura e a sua aderência às sementes. Isto também vale para a adição de grafite nas sementes de soja (prática bastante usual entre os produtores, que objetiva proporcionar melhor fluxo das sementes na semeadora), o qual deverá ser incorporado às sementes após a aplicação dos fungicidas. Entretanto, no caso da utilização de micronutrientes, a aplicação com fungicidas poderá ser feita de forma conjunta, antes da inoculação. Deve-se tomar cuidado para que o volume final da calda (fungicida + micronutriente + inoculante) não ultrapasse 300ml de solução para 50kg de sementes, pois o excesso de líquido pode causar danos às sementes, soltando o tegumento e prejudicando a germinação. Trabalhos recentes realizados em laboratório, casa de vegetação e campo demonstraram a viabilidade de utilizar volume de calda para o tratamento de sementes, antes da semeadura, de até 1.080ml/100kg de sementes, sem efeitos negativos ao desempenho fisiológico para lotes de alto vigor.
Para a escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo alvo do tratamento. Neste contexto, é sabido que, de forma variável, os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. Assim, a ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores tem sido uma estratégia das mais eficazes no controle de patógenos das sementes e do solo, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Desse modo, verificam-se melhores emergências de plântulas no campo com a utilização de misturas, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida.
Deve-se ressaltar que o efeito principal do tratamento de sementes de soja com fungicidas é observado na fase inicial do desenvolvimento da cultura (no máximo até 7 dias após a emergência). Nesse período, ocorre eficiente proteção da soja, proporcionando a obtenção de populações adequadas de plantas em função da uniformidade na germinação e emergência. Entretanto, deve-se ressaltar que, caso as condições climáticas sejam favoráveis, após este período de proteção alguns fungos poderão se instalar nas plântulas de soja – o que é normal - em decorrência da perda do poder residual dos fungicidas, o que não significa que o tratamento foi ineficiente.
A ação protetora dos fungicidas de contato caracteriza-se por formar uma zona protetora ao redor da semente, protegendo-a contra a ação de fungos da própria semente e do solo. Os fungicidas de contato apresentam pequeno poder residual e proteção por curto espaço de tempo, não sendo absorvidos pelas plântulas.
Da mesma forma que os fungicidas de contato, os sistêmicos também protegem as sementes contra fungos da semente e do solo. Entretanto, devido às suas características de sistemicidade, são efetivos em doses pequenas, apresentam efeito protetor, curativo e erradicante, adéquam-se melhor a programas de manejo integrado e proporcionam proteção das plântulas por um período mais longo. Ao contrário do que muitos pensam, a ação sistêmica do fungicida aplicado na semente não se dá pela sua penetração no tegumento. Apenas um princípio ativo apresenta esta característica. É o fungicida mefenoxan, que após aplicado nas sementes, 20%-30% da dose aplicada penetra no tegumento. O restante percorre o caminho comum aos demais fungicidas sistêmicos, ou seja, parte é absorvida pelas sementes durante o processo de embebição e parte lixivia das sementes para o solo, sendo absorvida lentamente pelas radículas, raízes e radicelas que são emitidas pelas plântulas durante o processo de germinação e desenvolvimento da planta. Posteriormente é translocado acropetalmente (de baixo para cima), via xilema, protegendo as plântulas contra doenças nos estádios iniciais de desenvolvimento.
Dentre os fungicidas de contato e sistêmicos, e suas misturas, recomendados para o tratamento de sementes de soja, os mais utilizados são: Derosal Plus e Protreat - 200ml/100kg de sementes (carbendazin+thiram); Vitavax-thiram – 250ml/100kg de sementes (carboxin+thiram) e Maxim XL – 100ml/100kg de sementes (fludioxonil+mefenoxan).
Em qualquer processo produtivo, um dos pontos mais importantes que o produtor considera é o aspecto financeiro. Levando-se em conta todos os gastos necessários para a produção da lavoura, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo, quando comparada com as demais. No caso da soja, o tratamento de sementes com fungicidas representa aproximadamente 0,6% do custo total de produção. Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas de emergência caso o tratamento de sementes com fungicidas não seja realizado, havendo, muitas vezes, a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor. No caso da soja, a ressemeadura no Sistema Convencional poderá representar 11,43% a mais no custo de produção. No Sistema Plantio Direto, em que a ressemeadura requer o uso de herbicidas, este prejuízo é maior, representando 17,93% a mais no custo de produção.
A soja inicia o seu processo de germinação e logo após emerge rapidamente quando semeada em solos com boa disponibilidade de água e temperaturas adequadas. Quando essas condições não são satisfeitas, as sementes ficam armazenadas no solo à espera de condições favoráveis para começar esse processo. Durante esse tempo, a germinação e emergência da soja ocorrem mais lentamente, proporcionando aos fungos do solo e da própria semente maior oportunidade de ataque, podendo causar sua deterioração ou a morte de plântulas. Nessas condições, torna-se imprescindível a utilização do tratamento das sementes de soja com fungicidas. Esta prática proporciona maiores benefícios quando as sementes ou a plântula é submetida a diferentes tipos de estresse durante as duas primeiras semanas após a semeadura. O tratamento das sementes com fungicidas promove uma zona de proteção contra os microorganismos do solo e previne a sua deterioração nesse período.
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