Tomate sem plantas daninhas

Sem enfrentar a competição de outras plantas, a cultura do tomate tende a apresentar um maior rendimento. Em plantios extensivos há necessidade do estabelecimento de um programa integrado de manejo das plantas daninhas, como forma de

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No cultivo do tomateiro é necessário manter as áreas livres da

interferência de plantas daninhas, pelo menos durante o período

crítico, ou seja, até que a cultura se desenvolva, cubra

suficientemente a superfície do solo e não sofra mais a interferência

negativa delas. Em plantios extensivos há necessidade do

estabelecimento de um programa integrado de manejo das plantas

daninhas, como forma de utilizar sistemas agrícolas sustentáveis.

Em

locais intensamente cultivados, os plantios de tomate são feitos em

sucessão a outras culturas, contribuindo para aumentar o banco de

sementes na área. Nessas áreas também é comum a ocorrência de

fitotoxicidade pela ação residual de herbicidas utilizados em cultivos

anteriores.

A rotação racional de cultivos é vantajosa para o

manejo de plantas daninhas. Entretanto, os produtores não realizam

adequadamente esse manejo, tornando o controle progressivamente

problemático. Plantas agressivas proliferam, exercendo alta pressão de

competição com a cultura. Cita-se como exemplo a maria-pretinha (

Mill.), que vem infestando os campos de produção de tomate na região Centro-Oeste.

Numa

comunidade mista de plantas existe sempre um balanço competitivo entre

as espécies, predominando as mais agressivas e adaptadas ao ecossistema

agrícola. A população de plantas daninhas é dinâmica, ocorrendo

mudanças de acordo com as práticas agrícolas utilizadas, havendo a cada

ano uma nova relação de interferência entre as diferentes espécies.

Razões para o controle

Em

geral, as plantas daninhas adaptam-se melhor ao meio ambiente que o

tomateiro, crescendo mais vigorosas, principalmente nos primeiros

estádios de crescimento. O tomateiro tem desenvolvimento lento nos

primeiros 30-45 dias, devido à baixa taxa de extração de nutrientes

nesse período, principalmente em lavouras instaladas por semeadura

direta. Em lavouras formadas a partir de mudas a interferência inicial

é, geralmente, menor, uma vez que as plântulas (mudas) são levadas ao

campo com quatro folhas definitivas. Isso permite também uma maior

seletividade no uso de métodos de controle como, por exemplo, o uso de

herbicidas.

Observações sobre o Período Crítico de

Interferência (PCI) das plantas daninhas na cultura do tomate para

processamento, no Brasil, indicam que elas causam reduções de até 99%

na produção das lavouras implantadas a partir de semeadura direta.

Nesse caso, o PCI ocorre do 21º ao 97º dias após a emergência. Para

lavouras implantadas com mudas a redução é cerca de 75%, situando-se o

PCI do 17º ao 78º dias após o transplante. Em outros países, vários

trabalhos indicam que o PCI para esta cultura situa-se entre o 20º e o

63º dias após a emergência e entre o 25º e o 43º dias para lavouras com

mudas transplantadas.

A maria-pretinha (

Mill.) é uma das principais plantas daninhas da tomaticultura. Ela

possui hábito de crescimento e fisiologia semelhantes aos do tomateiro,

o que dificulta seu controle com herbicidas seletivos para solanáceas.

Entre os ingredientes ativos que controlam esta espécie e com relativa

seletividade ao tomateiro encontram-se as formas s-metolachlor (em

fase de registro) e fluzasulforon. Algumas plantas parasitas como

spp. e

spp. e

spp. podem injuriar diretamente as plantas do tomate ao sugarem água e

nutrientes das plantas do tomateiro. Altas infestações também

interferem nas operações de cultivo, qualidade da produção e provocam

redução na eficiência da colheita.

Após o PCI até o final do

ciclo, as plantas daninhas não interferem significativamente na

produtividade. Entretanto, ao crescerem, dificultam a colheita, podem

contaminar o fruto e, posteriormente, o produto industrializado. Também

deve-se procurar manter a lavoura com menor infestação, para reduzir a

população de hospedeiros de pragas e doenças e facilitar a colheita.

Manejo integrado

Os

objetivos dos programas de manejo de plantas daninhas fundamentam-se no

uso conjunto das técnicas de prevenção, controle e erradicação.

Prevenção - Consiste em evitar a introdução de plantas, sementes ou

qualquer propágulo em áreas não infestadas. O sucesso deste método

depende do nível de pureza das sementes de tomate, da prevenção da

produção e da dispersão de sementes e propágulos de plantas daninhas.

As medidas de prevenção e controle devem ser eficientes para prevenir o

aumento do banco de sementes ou propágulos no solo.

Erradicação - É a eliminação de todas as estruturas de propagação de

uma planta daninha de determinada área. É recomendada para as áreas

pequenas e recentemente infestadas. Inspeções dos campos devem ser

realizadas regularmente para identificar focos iniciais e adotar

medidas de controle dirigido de forma a erradicá-los.

Controle - É a supressão das plantas daninhas para um nível em que não

cause dano econômico, ou seja, quando as plantas daninhas remanescentes

não mais interferem significativamente na produtividade biológica da

cultura. Essa é a prática de manejo mais usada quando a planta daninha

se encontra presente na área.

A integração conjunta dos

conhecimentos, atividades culturais e técnicas (prevenção, erradicação

e controle) utilizadas nos ciclos de cultivos anuais e pluri-anuais

constitui-se no que se denomina de Programa de Manejo Integrado.

Métodos de controle

Todas

as práticas que auxiliam o controle deverão ser consideradas no

programa, destacando não somente o uso de um simples método de

controle, mas também a adequação e os benefícios de cada operação

cultural. Cada uma das práticas deve ser avaliada quanto a: a)

efetividade em controlar cada espécie de planta daninha; b) nível da

consistência e duração quando corretamente executado; c) adequação de

cada prática dentro do esquema de manejo cultural e da seqüência do

programa de controle das plantas daninhas; d) seletividade,

flexibilidade e aplicabilidade de cada método em relação aos estádios

de desenvolvimento da cultura e plantas daninhas.

O resultado

só será satisfatório com a associação e/ou integração das práticas

culturais de preparo do solo, plantio, colheita e rotação de culturas,

uma vez que a população de plantas na área é dinâmica, ocorrendo

mudanças de acordo com as práticas agrícolas usadas. A cada ano há uma

nova relação de interferência entre as diferentes espécies. O manejo

deve contribuir para reduzir a população de plantas daninhas e a

quantidade de sementes no solo, de modo a reduzir a re-infestação nos

próximos cultivos .

O cultivo mecânico para controlar as

plantas daninhas no tomateiro pode ser usado sozinho ou juntamente com

os herbicidas. O cultivo é mais eficiente quando as plantas daninhas

estão ainda pequenas, no estádio de crescimento de 4 a 6 folhas

definitivas. Nesse estádio as plantas daninhas podem ser removidas

facilmente sem causar dano à cultura. A eficiência do controle mecânico

sobre as plantas daninhas perenes é baixa, podendo aumentar o problema

se os propágulos vegetativos forem removidos para locais

não-infestados.

Controle químico

O

controle químico seletivo tem sido avaliado e usado com sucesso na

tomaticultura, entretanto, nenhum herbicida foi capaz de controlar

todas as plantas daninhas que infestam os campos de tomate. A escolha

dos herbicidas dependerá das espécies a serem controladas, do tipo de

solo, método de irrigação, rotação de culturas, condições ambientais, e

dos equipamentos para aplicação.

Os herbicidas de diferentes

grupos indicados para a cultura do tomateiro estão relacionados na

tabela. Eles são usados basicamente de forma seletiva ou não-seletiva.

O

uso continuado de alguns herbicidas, como diphenamid

(N,N-dimethyl-a-phenyl benzeneacetamide), napropamide

(N,N-diethyl-2-(1-naphthalenyloxy) propanamide) e trifluralin

(2,6-dinitro-N,N-dipropyl-4-(trifluoromethyl)-benzenamine), num mesmo

campo, contribui para selecionar plantas tolerantes, tais como:

maria-pretinha e joá-de-capote. Dessa forma, o uso desses herbicidas

deve fazer parte de um programa de manejo, incluindo rotação de

culturas, seleção dos campos, etc.

O objetivo do programa de

manejo é usar múltiplos componentes para atender uma determinada

situação, e não somente ter como base uma simples prática que pode ou

não ser eficiente. As práticas de controle devem ser eficientes,

econômicas e flexíveis. Portanto, faz-se um cronograma das técnicas

passíveis de uso para cada um dos ciclos culturais. O programa deve

incluir práticas alternativas que possam ser implementadas caso as

operações programadas, para os primeiros estádios de desenvolvimento

das plantas, não possam ser executadas ou quando não forem executadas

na hora certa, devido às condições de clima ou outras circunstâncias.

Adicionalmente, o programa deverá conter outros aspectos, tais como: a-

avaliação das relações custos/benefícios de cada um dos componentes; b-

levantamento da capacidade operacional do usuário, de acordo com a

disponibilidade e necessidade de equipamentos e mão-de-obra, nas

diferentes fases; c- previsão de medidas de acompanhamento e inspeções

periódicas dos campos para aplicar, se necessário, métodos alternativos

para aprimorar o manejo.

Muitas vezes, há uma tendência de se

esperar que todos os problemas de plantas daninhas possam ser

resolvidos eficazmente por meio do uso dos herbicidas. Quando essa

atitude prevalece numa determinada situação, todas as outras práticas

importantes para o programa de manejo das plantas daninhas são

naturalmente ignoradas, impossibilitando a sua execução racional.

Welington Pereira

Embrapa Hortaliças

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