Pela terceira safra consecutiva estamos passando por um período relativamente seco, com ocorrência de chuvas em quantidade abaixo da Normal Climatológica (média que considera o período 1961 a 1990).
Na safra 2010/11, os meses de outubro, novembro e dezembro apresentaram totais de chuva menores que o normal, o que atenuou a ocorrência de doenças e facilitou a realização das práticas de manejo fitossanitário pelos agricultores. A situação mudou no final de janeiro, quando voltou a chover com regularidade e em maior quantidade. Com uma seca leve e condições ambientais desfavoráveis à ocorrência de doenças, a safra 2011 foi recorde, chegando à 709 mil toneladas de uvas no Estado do Rio Grande do Sul.
Na safra 2011/12, situação parecida se repetiu, só que desta vez com maior intensidade. De outubro a março, todos os meses, exceto fevereiro, apresentaram chuva menor que a normal climatológica. Em novembro, mês mais seco, a chuva registrada na estação da EMBRAPA Uva e Vinho foi de 23 mm, enquanto que a média normal para o mês é de 140 mm. No início de dezembro houve relatos de morte de videiras em locais de solos rasos. A estimativa de perdas nessa safra, devido à seca e granizo, foi cerca de 20% em relação à safra 2010/11.
Na atual safra 2012/13, situação similar volta a ocorrer, com pouca chuva no início do ciclo. Novembro apresentou acumulado de 24 mm, concentrada nos últimos dias do mês (Figura 1). A ocorrência de poucas nuvens e ausência de chuvas favoreceu a predominância de dias com sol. Essa situação proporcionou, ao longo de nov. e início de dez., condições para ocorrência de dias progressivamente mais quentes e secos. Porém, o período seco findou com as chuvas que começaram a ocorrer a partir de meados de dezembro e se intensificaram no fim do mês.
As temperaturas médias de outubro, novembro e dezembro mantiveram-se acima da média normal (Figura 2). Esta condição determinou que algumas variedades precoces (como Vênus e Niágara), normalmente colhidas em dezembro, fossem colhidas mais cedo, conforme relatado por produtores da Serra Gaúcha. Isso ocorre porque, quanto maior a temperatura, maior é a taxa metabólica e o ritmo de desenvolvimento das videiras, e das plantas de uma maneira geral. Ou seja, todo o ciclo da planta se antecipa, favorecendo a precocidade da brotação, floração, frutificação e maturação.
A predominância de dias com sol e secos também contribuiu por desfavorecer a ocorrência de doenças e diminuir a necessidade de aplicações de fungicidas contra doenças. Até o primeiro decêndio de dezembro, a incidência de míldio em parreirais de Bento Gonçalves tem se mantido abaixo da média. Por outro lado, constatou-se maior incidência de oídio, doença típica de regiões com clima seco e quente (ex.: nordeste do País). Como o controle do oídio exige tratamento distinto em comparação ao míldio, a identificação precoce da doença é uma etapa crucial para maior eficácia de controle.
Apesar da deficiência hídrica constatada no Estado do Rio Grande do Sul no mês de novembro, ainda não existe ameaça para a produtividade dos parreirais gaúchos. Em outubro, os solos estavam com elevados níveis de armazenamento hídrico. As chuvas naquele mês totalizaram 151 mm – valor próximo à normal de 156 mm. Assim, apesar da chuva em novembro ter sido aproximadamente a mesma que a de novembro de 2011, a deficiência hídrica na cultura da uva não foi tão intensa. Aliado a este fato, as chuvas ocorridas no segundo e terceiro decêndios de dezembro de 2012, interromperam a sequencia de dias em que a cultura encontrava-se com deficiência hídrica, e recuperaram parcialmente os níveis de armazenamento de água no solo.
No atual cenário, analisado até o fim de dezembro, não se pode estimar com precisão a perspectiva da safra 2013 para todas as cultivares de uva, mas já se pode estimar para um boa parte das delas. O período compreendido entre novembro e o início de janeiro é o mais importante para a definição do potencial produtivo, pois corresponde a fase de enchimento dos frutos. Dessa forma, o potencial produtivo já está praticamente garantido, pois mesmo que volte a ocorrer um período seco a partir de janeiro, neste momento os solos das regiões produtoras encontram-se em sua capacidade máxima de armazenamento.
De acordo com o prognóstico climático de consenso, elaborado em conjunto pelo Centro de Previsão e Estudos Climáticos (CPTEC) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o trimestre de Janeiro, Fevereiro e Março deve apresentar um total de chuva acima da faixa normal no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nesse caso, a probabilidade de voltarmos a observar um período seco é muito pequena.
Nesse contexto, as condições ambientais observadas até o momento situam o potencial produtivo da safra atual em uma posição intermediária entre as safras 2011 e 2012. Nem tão favorável à produtividade quanto a de 2011, nem tão desfavorável quanto a de 2012. Dessa forma, salvo imprevistos com fenômenos meteorológicos adversos como o granizo de 2012, ou excesso de chuvas na maturação que levaria a perdas com doenças, é muito provável que a safra 2013 supere a safra 2012 em quantidade (Figura 3).
Por fim, é sempre interessante lembrar que o total de uva produzida a cada ano não depende apenas das condições ambientais, mas também depende muito das decisões tomadas por cada produtor, sempre muito influenciadas pelas perspectivas de mercado e preço da uva. Várias ações de manejo realizadas ao longo do ciclo da cultura afetam a produtividade e qualidade da uva, tais como: adubação, poda, controle de pragas e doenças. O ambiente define o potencial de produção, enquanto o manejo da cultura, ou seja, as técnicas agronômicas empregadas, define o quanto desse potencial será aproveitado.
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