Como gerir e conservar adequadamente o solo, de modo a manter e estimular a sua capacidade supressiva a doenças, bem como preservar a resiliência a estresses de forma sustentável
26.09.2022 | 14:40 (UTC -3)
Como gerir e conservar adequadamente o solo, de
modo a manter e estimular a sua capacidade supressiva a doenças, bem como
preservar a resiliência a estresses de forma sustentável.
A expressão saúde do solo é
usada, em sentido amplo, para indicar a capacidade do solo de funcionar como um
sistema vivo, sustentar a atividade biológica e manter a saúde das plantas e
animais. Nesse sentido, a saúde do solo tem correlação positiva com a
produtividade e sustentabilidade do sistema. Ou seja, solos saudáveis são mais
produtivos ao longo do tempo, porque apresentam maior capacidade de suportar
estresses, como os causados pelas atividades agrícolas. E entre os sintomas de
debilidade na saúde do solo estão as doenças de solo.
Denomina-se de doenças de solo aquelas de plantas provocadas por
microrganismos (patógenos, neste caso) que habitam a terra. O controle dessas
doenças é complexo e para obter sucesso é preciso conhecer o solo e agir para
restabelecer sua saúde. O solo é habitado por inúmeros microrganismos (fungos,
bactérias, etc.), na maioria desconhecidos. Alguns estudiosos afirmam que a
maior parte do que ainda não se conhece sobre a vida no planeta Terra está no
solo.
Sabe-se, no entanto, que a decomposição dos detritos no solo (processo
de redução das cadeias de carbono para liberação de energia) é totalmente
dependente de microrganismos. Os microrganismos, portanto, fazem parte do solo
e, mais do que isso, são os verdadeiros responsáveis pelo funcionamento dos
ecossistemas agrícolas e naturais. Esses organismos estão relacionados com as funções benéficas do solo e do
ecossistema, incluindo decomposição de material orgânico, ciclagem de
nutrientes, armazenamento de água, desintoxicação do solo e supressão de organismos
nocivos e patogênicos.
Solos com alta diversidade e atividade biológica são mais resilientes a
estresses e supressivos a doenças que solos com baixa atividade biológica. Por
isso é possível afirmar que o controle (manutenção do estado de equilíbrio)
biológico de doenças se trata de algo que ocorre constantemente nos solos
agrícolas, mesmo que não seja observado. E a maneira como cuida-se da saúde do
solo interfere no controle de doenças, tornando –o mais ou menos supressivo.
Um solo é considerado supressivo a uma doença quando o patógeno e a planta
hospedeira estão presentes, e as condições ambientais são favoráveis à
ocorrência da doença, porém a doença não ocorre ou se dá com menor intensidade.
Características físicas e químicas do solo podem determinar sua supressividade
a doenças. No entanto, o manejo das características biológicas (da saúde) do
solo tende a ter um efeito mais marcante no controle de doenças, tornando o
solo supressivo. Talvez porque a saúde do solo tenha sido, em muitos casos, negligenciada,
enquanto as características físicas e químicas necessárias à produção vegetal
tenham recebido maior atenção nas últimas décadas.
Um solo pode ser naturalmente supressivo a doenças, ou seja, apresentar
características físicas, químicas e biológicas que, associadas ou não, suprimem
a ocorrência de uma ou mais doenças. No entanto, solos que não sejam
naturalmente supressivos podem vir a suprimir doenças (supressividade induzida)
através de práticas culturais como fertilização, descompactação, adição de
matéria orgânica ou aplicação de microrganismos que se estabeleçam no solo e
atuem no controle biológico de doenças. Nesse sentido a intensificação do uso
do solo, através de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária (SIPA),
favorece a saúde do solo e consequente supressividade a doenças, por incluir,
em seus mais variados arranjos, práticas conservacionistas de manejo do solo e
aumento da biodiversidade.
Estratégias de gestão sustentável do solo que maximizem os ciclos naturais
e reduzam a dependência de recursos não renováveis são fundamentais para a
manutenção da saúde do solo. Além disso, solos saudáveis constituem um
substrato mais eficiente para a ação de agentes de controle biológico que sejam
aplicados (introduzidos) no solo, pois apresentam condições mais favoráveis ao
estabelecimento desses organismos. Por outro lado, monocultura, revolvimento do
solo, aplicação de produtos químicos e queima apresentam efeitos deletérios
sobre a biota do solo.
Entre as estratégias de gestão sustentável do solo é possível destacar
aquelas relacionadas à conservação do solo, conservação da matéria orgânica do
solo, atenuação de estresses e redução do uso de insumos tóxicos.
A conservação do solo pode ser alcançada através da redução da erosão e
aumento da cobertura vegetal. A conservação da matéria orgânica do solo inclui
a redução do preparo do solo, a aplicação de adubos orgânicos de origem vegetal
ou animal, o aumento da diversidade de espécies e o crescimento do aporte de
carbono ao solo. A atenuação de estresses provocados no solo requer otimizar o
preparo do solo, reduzir o trânsito de máquinas, favorecer a manutenção dos
resíduos vegetais na superfície e da água no perfil do solo, e fracionar o uso
de produtos químicos ao longo do tempo, para evitar estresses pontuais. A
redução do uso de insumos necessários na lavoura inclui o manejo integrado de
pragas, doenças e plantas daninhas, o emprego de cultivares resistentes a
pragas e doenças, a rotação de culturas e o emprego de plantas de cobertura do
solo, com o objetivo de reduzir a aplicação de produtos que possam apresentar
efeitos adversos aos organismos do solo.
Os Sistemas Integrados de produção Agropecuária (SIPAs), que abrangem
diferentes arranjos, incluindo lavoura, pecuária e cultivo de espécies
florestais, são exemplos mais sustentáveis do ponto de vista biológico. Um
número crescente de estudos demonstra que essa intensificação do uso da terra tem
um impacto positivo na abundância e riqueza de grupos específicos de organismos
do solo e na diversidade microbiana do solo. Resultados disponíves na
literatura científica, por exemplo, mostram que a intensificação da produção
através de SIPAs pode tornar o solo supressivo a doenças que causam o
tombamento de plantas, reduzir o tempo de sobrevivência e a germinação de
escleródios (estruturas de sobrevivência) de fungos patogênicos, aumentar a
atividade microbiana no solo e o número de propágulos viáveis de microrganismos
comumente empregados no controle biológico de doenças.
Em resumo, SIPAs são formas eficientes de intensificação do uso do solo e
incluem ou facilitam a adoção de estratégias de gestão sustentável do solo.
Disso resultam solos mais saudáveis, com maior resiliência a estresses e
supressividade a doenças.
Alexandre Dinnys Roese, Embrapa Agropecuária Oeste
Artigo publicado na edição 229 da Cultivar Grandes Culturas, mês junho, ano 2018.
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