Parâmetros fisiológicos da soja sob estresse hídrico
Artigo escrito por: Anna Elisa Petersen Gatelli, UFRGS; Elizandro Fochesatto, UNIARP; João Paulo Vanin, SLC Agrícola S.A.; André Luis Vian, UFRGS; Christian Bredemeier UFRGS
A projeção de crescimento populacional para 10 bilhões de pessoas em 2050 e o consequente aumento na demanda de alimentos, aliado às preocupações em relação à conservação do ambiente e da biodiversidade, ressaltam a importância de aumentar a produção de forma vertical de maneira sustentável. A produtividade potencial de arroz irrigado no Sul do Brasil é de 14.8 t/ha (figura 1), ou seja, a produtividade definida exclusivamente pela concentração de CO2 na atmosfera, temperatura, radiação e genética. No entanto, a produtividade alcançável sustentável economicamente está em torno de 80% do potencial produtivo. Nesse cenário, a produtividade média atual é de 8.2 t ha-1, assim, tem-se uma lacuna de produtividade de 3.6 t ha-1, a qual sendo fechada através da intensificação sustentável, resultaria na produção de mais 3.5 milhões de toneladas de arroz produzidos na mesma área agricultável, ou, 411 mil hectares seriam evitados de expansão.
Nesse sentido, a fim de aumentar a rentabilidade e a sustentabilidade do sistema e a produtividade do arroz, a soja surge como alternativa de rotação, incrementando a produtividade do arroz em 26%, reduzindo a utilização de insumos como fertilizante nitrogenado em 4%, e mão-de-obra em 27%. Resultando assim, em uma redução de 30% nos custos do sistema de produção. Diante disso, se faz importante a determinação da sustentabilidade que esse sistema apresenta em relação à ausência de rotação, como a redução na utilização de herbicidas, revolvimento do solo, entre outras práticas agrícolas, reduzindo assim impactos ao ambiente, e também os custos.
Frente a necessidade de classificar o nível de sustentabilidade das lavouras de arroz irrigado em diferentes sistemas de produção, por exemplo com rotação ou não, surge o Campeonato Rice Money Maker, que visa avaliar a sustentabilidade de lavouras orizícolas em áreas onde se faz presente a grande expansão da soja nas áreas cultivadas com arroz irrigado, como o Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. Surge não apenas para identificar os sistemas e manejos mais sustentáveis, mas também para realizar transferência de tecnologia produtor-a-produtor, visto que há produtores de diferentes países orizícolas da América Latina. A participação dos produtores ocorre através de um diagnóstico baseado em um banco de dados de manejos e práticas agrícolas de mais de 600 lavouras acompanhadas desde 2015, onde são convidados os produtores que estão caminhando em direção à produção sustentável. Na primeira edição realizada na safra 2021/22, participaram 15 produtores da Argentina, Brasil e Uruguai (figura 2).
As lavouras são acompanhadas desde a semeadura até o momento da colheita junto com a auditoria da mesma. Através de questionários aplicados ao produtor, são coletados dados da propriedade, do produtor, manejos, insumos e práticas agrícolas da área, utilizados para calcular os indicadores de sustentabilidade. Ao final do campeonato, ocorre a entrega de resultados aos produtores, assim como a visita à lavoura campeã.
A metodologia utilizada através do campeonato, visa utilizar indicadores de sustentabilidade para classificar o nível de sustentabilidade das lavouras. Ao longo dos anos, os indicadores passaram a ser considerados a ferramenta mais importante para a avaliação da sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental.
Através de indicadores de sustentabilidade do sistema produtivo, é possível desenvolver estratégias de gestão baseadas nas práticas de manejo que apresentam maior eficiência na utilização de recursos, menor impacto ao ambiente e maior rentabilidade econômica no sistema de produção de arroz irrigado. A melhor métrica para sustentabilidade é quantificando a eficiência do uso dos insumos de entrada na lavoura, como produtividade por insumo de entrada unitário de energia, nutrientes e por impactos em uma ampla gama de serviços ecossistêmicos. Nesse sentido, a figura 3 apresenta alguns indicadores utilizados na construção do índice de sustentabilidade.
A esfera econômica aborda a lucratividade e a eficiência produtiva em função do potencial de produtividade. O potencial produtivo é conceituado como a máxima produtividade final de uma determinada cultura em uma certa região, e é definido pela radiação interceptada, CO2, água, temperatura e genética sob um contexto livre de estresses bióticos e abióticos. Estima-se o potencial através de métodos diretos (experimento à campo sob condição potencial) ou indiretos (modelos matemáticos). Nas lavouras do campeonato, utilizou o modelo SimulArroz que é um modelo matemático baseado em processos e desenvolvido para simular o crescimento, desenvolvimento e produtividade de arroz.
A lucratividade é determinada pelo método de custeio variável. Para a aplicação do método, faz-se necessário a coleta, interpretação e análise de dados apenas relacionados aos custos variáveis da lavoura. Os custos fixos estão relacionados à estrutura da organização e não à produção; já os custos variáveis são aqueles decorrentes da produção agrícola. Portanto, para a determinação da lucratividade são analisados os custos de produção e retorno econômico líquido (ou seja, receita bruta menos custos de produção). Para cada lavoura, a receita e os custos são calculados com base em dados relatados pelo produtor sobre produtividade, insumos e preços.
A esfera ambiental considera a eficiência no uso de nutrientes, o quoeficiente de impacto ambiental e a eficiência na emissão de CO2. A eficiência de nutrientes nos permite fazer um diagnóstico das lavouras orizícolas, em relação à nutrição, já que cada nutriente possui uma faixa ideal de eficiência. Eficiências abaixo ou acima dessa faixa, indicam aplicação em excesso de fertilização, ou ocorrência de mineração do solo, respectivamente. A eficiência na emissão de CO2 considera a quantidade de CO2 emitida para produzir um quilo de grãos de arroz em casca, considerando diesel, sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas, e é estimada através de fatores de conversão para cada tipo de insumo. O quoeficiente de impacto ambiental de defensivos agrícolas, a partir da concentração do produto e dose utilizada, considera o impacto de ingredientes ativos em três esferas: aplicador (farm worker), consumidor e ecológico.
A esfera social considera alguns critérios relacionados ao perfil de cada produtor e suas famílias, como por exemplo, sucessão familiar e a forma de adquirir conhecimento, bem como esses fatores interferem na gestão de suas lavouras.
Atribuindo determinado peso sobre cada indicador, tem-se o índice de sustentabilidade que classificará o quão sustentável são as lavouras, baseado nos níveis social, ambiental e econômico (figura 4). Nesse contexto, o principal objetivo do índice de sustentabilidade é impulsionar o desenvolvimento de um Selo de Sustentabilidade que agregue valor ao arroz oriundo de áreas que atingiram um nível sustentável de produção.
Camille Flores Soares, UFSM; Michel Rocha da Silva, Crops Team Consultoria; Giovana Ribas, GDM Seeds; Enzo Pilecco Sonego, UFSM; Raul Moraes dos Santos, UFSM; Kátia Mileni Manzke, UFSM; Lorenzo Dalcin Meus, UFSM; Anderson Haas Poersch, UFSM; Alexandre Ferigolo Alves, UFSM; Bruna San Martin Rolim Ribeiro, UFSM; Enrico Fleck Tura, UFSM; Alencar Junior Zanon, UFSM
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Artigo escrito por: Anna Elisa Petersen Gatelli, UFRGS; Elizandro Fochesatto, UNIARP; João Paulo Vanin, SLC Agrícola S.A.; André Luis Vian, UFRGS; Christian Bredemeier UFRGS
Adoção de táticas de controle biológico e, em particular, o uso de bioinseticidas à base de Baculovírus para manejo de lagartas é uma importante ferramenta complementar e em alguns casos até mesmo alternativa a outras formas de combate a pragas