Comparativo de tratores de 80, 150, 195 e 320cv de potência comercializados no Brasil
Com base em dados oficiais de diversas estações de ensaios do mundo, comparamos 12 tratores de quatro diferentes categorias de potência: 80, 150, 195 e 320 cv
O desenvolvimento da cultura do milho no país sempre foi caracterizado pela aplicação diversificada de tecnologia e baixa produtividade, isso por ser uma cadeia considerada desorganizada e sem relações com o mercado externo, fato esse que ficou no passado em muitas propriedades.
Nesse sentido, a realização correta da operação de semeadura pode gerar um aumento expressivo da produção de milho, com a utilização de técnicas de cultivo e manejo que colaborem com a máxima expressão do potencial da cultura. O processo de semeadura pode ser afetado tanto pelas diferenças construtivas relacionadas à semeadora, condições morfológicas e climatológicas, como também pela velocidade de trabalho empregada. Na operação de semeadura, a população e a uniformidade de distribuição das plântulas são fatores que exercem grande influência na produção agrícola.
Com o intuito de aprimorar a operação, pode-se analisar, com o auxílio do controle estatístico no processo de semeadura, a distribuição longitudinal das plântulas. Dessa forma, objetivou-se com este trabalho avaliar a qualidade da operação de semeadura em diferentes propriedades na região sudoeste de Minas Gerais, verificando quais principais parâmetros podem influenciar a qualidade e eficiência da operação e, consequentemente, alcançar boas produtividades.
O uso das ferramentas de gerenciamento é de extrema importância no controle de qualidade de um processo, pois possibilita a percepção de variações indesejáveis. De fato, com o ajuste dos desperdícios, um aumento na produtividade pode ser alcançado caso haja a detecção das falhas. Nesse aspecto, o Controle Estatístico do Processo (CEP), com o uso de cartas de controle, é considerado uma das ferramentas mais importantes nos sistemas para melhoria de qualidade do processo.
Foram realizadas avaliações em duas propriedades localizadas na zona rural de Passos (MG). Na primeira propriedade avaliada, a operação de semeadura foi realizada preconizando distribuir três sementes por metro linear a 4 cm de profundidade. Nessa propriedade, foram utilizados dois conjuntos trator-semeadora. Realizou-se o levantamento sobre o processo, reunindo informações sobre as máquinas utilizadas. As informações foram as seguintes:
Conjunto 1: Semeadora adubadora pneumática acoplada em um trator Massey Ferguson 6713, 4x2 TDA, 4ª e 3ª marcha reduzidas, com rotação de 1950. A semeadora utilizada foi Exacta 3070 da Jumil, com vácuo de 50 PSI, composta por: disco de corte de palha; haste sulcadora (adubo); disco duplo desencontrado; disco de sementes de 30 furos; engrenagens verificadas para distribuição de sementes: motora 25, movida 30; para fechamento de sulco e realização da cobertura da semente, possuía disco duplo recortado.
Conjunto 2: Semeadora mecânica acoplada em um trator filipado John Deere 7505, 4x2 TDA, marcha 2ª D, com rotação de 1600. A semeadora utilizada foi da marca Tatu, com a seguinte configuração: disco de corte de palha ondulado; distribuição de sementes e adubos com disco desencontrado; disco de sementes de 30 furos; engrenagens verificadas para distribuição de sementes: motora 25, movida 30; disco liso no fechamento de sulco.
A outra propriedade analisada foi a Fazenda Experimental da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), na qual o processo de semeadura de milho foi realizado com um conjunto trator da marca Valtra, modelo BL 88, com 88 cv de potência e semeadora pneumática da Jumil Exacta Air 2980 PD, com 7 linhas espaçadas a 50 cm. Para a semeadura, foi utilizada a 3ª marcha reduzida com 1500 rotações por minuto.
Avaliou-se a distribuição longitudinal de plântulas, considerando-se percentagens de espaçamentos: “duplos” (D), menores que 0,5 vez o espaçamento médio esperado (Xref.); “aceitáveis” (A), de 0,5 a 1,5 vez o espaçamento médio esperado (Xref.); e “falhos” (F), maiores que 1,5 vez o espaçamento médio esperado (Xref.). O nível de uniformidade mencionado será relativo às percentagens de espaçamentos aceitáveis, considerando como aceitáveis os espaçamentos situados entre 0,5 e 1,5 cm.
Este parâmetro foi avaliado com uma fita métrica disposta em 5 metros e coletados 20 pontos em duas áreas, uma com a semeadora pneumática e a outra com a semeadora mecânica (Figura 1).
Os dados foram analisados por meio do controle estatístico de processo (CEP), onde foram elaboradas as cartas de controle de valores individuais, por meio do sistema computacional MINITAB 16. As cartas de controle utilizadas apresentam três linhas, sendo que a linha central representa a média geral, enquanto as outras duas linhas representam os limites superior e inferior de controle (LSC, LIC), respectivamente, calculados com base no desvio-padrão das variáveis (para LSC, média mais três vezes o desvio-padrão; e para LIC, média menos três vezes o desvio-padrão, quando maior que zero), indicando que, se o processo estiver estável (dentro dos limites superior e inferior de controle), os pontos estarão entre as duas linhas. Se os pontos estiverem fora de ambos os limites de controle, o processo é chamado de instável e pode ser explicado por meio dos fatores 6 M’s (máquina, mão-de-obra, medida, método, matéria-prima e meio ambiente), buscando eliminar as causas responsáveis por essa variação.
Através da análise do processo por cartas de controle de valores individuais, pode-se notar que o conjunto trator-semeadora pneumática apresentou menor variabilidade para a porcentagem de espaçamentos normais, falhos e duplos. Porém, para espaçamentos normais e falhos, houve a presença de pontos fora de controle (fora dos limites superior ou inferior de controle). Dessa forma, o processo se mostrou instável para esses dois parâmetros. Essa instabilidade, com um ponto abaixo do limite inferior de controle para a porcentagem de espaçamentos normais e um ponto acima do limite superior de controle, ocorreu devido ao fator meio ambiente, pois nesse ponto havia uma declividade mais acentuada, e também ao fator mão-de-obra, em função de que o operador do conjunto não estava ambientado com a atividade (Figura 2 A, B e C).
De acordo com os dados coletados na Fazenda Experimental da UEMG, nota-se que os dados apresentaram comportamento estável para os três parâmetros analisados: espaçamentos normais, falhos e duplos. Ou seja, os dados se mantiveram entre os limites superior e inferior de controle. Porém, deve-se ressaltar que a média de espaçamentos normais foi em torno de 80%, considerada uma porcentagem baixa para uma semeadora pneumática, o que se deve ao fato de que a semeadora da fazenda estava com vários componentes danificados e em mal estado de conservação (Figura 3 A, B e C).
Deve-se destacar que, nas duas propriedades analisadas, a semeadora pneumática apresentou maior média de espaçamentos normais e, consequentemente, menor média de espaçamentos falhos e duplos em relação ao conjunto trator-semeadora mecânica. Demonstrando uma má distribuição longitudinal das plantas, causada pela semeadora mecânica, como consequência ocorre a diminuição da eficiência no aproveitamento dos recursos disponíveis, como água, nutrientes e luz pelas plantas.
Outro fato relevante no levantamento da operação de semeadura, relatado pelos operadores das máquinas, foi a dificuldade em realizar as regulagens na semeadora mecânica, em função de ser um sistema mais antigo. Esta semeadora, segundo relatos do operador, possui “mola cansada” e apresenta maior dificuldade de regulagem.
A uniformidade de espaçamento das plantas distribuídas no campo influencia na produtividade final da cultura, refletindo no mal aproveitamento dos recursos disponíveis e dificuldades no processo de colheita. O processo de avaliar a variabilidade de distribuição espacial na semeadura é muito importante, pois revela ao produtor se seu sistema de semeadura está sendo eficiente ou se é possível, de alguma forma, melhorá-lo, para utilizar todo o potencial do equipamento disponível.
Por Lavínia Vieira de Brito, Eduardo Donizete S. Madeira, Antonio Tassio Santana Ormond e Evandro Freire Lemos, UEMG Passos
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