O sistema de plantio direto vem sendo adotado por um número cada vez maior de agricultores. Com esse sistema de manejo agrícola, a rotação de culturas torna-se obrigatória para o uso racional da área.
Do ponto de vista fitossanitário, a rotação de culturas com espécies que não são suscetíveis a doenças comuns é fundamental, ao romper o ciclo de vida de alguns microorganismos causadores de doenças, que sobrevivem nos restos culturais em decomposição. São os chamados microorganismos necrotróficos, que têm a capacidade de “esperar”, entre uma safra e outra, por sua cultura preferida, ou hospedeira, nos restos culturais. Assim, se plantas jovens de soja encontrarem restos culturais de soja da safra anterior ainda no campo, há maior probabilidade de desenvolvimento mais severo daquelas doenças cujos microorganismos causadores sejam necrotróficos.
Isso também pode ocorrer com trigo, com milho e com outras culturas anuais. A rotação de culturas abre um espaço de tempo para a decomposição dos restos culturais contaminados, favorecendo a destruição de microorganismos pela falta de alimento novo, ou seja, espécies hospedeiras na nova safra.
Período de decomposição
No caso de soja, quanto tempo leva para que seus restos culturais sejam decompostos? Os fungos necrotróficos permanecem vivos nesses restos até a decomposição, ou podem morrer antes? E as culturas sucessoras, têm influência sobre a decomposição dos restos e sobre a sobrevivência desses fungos? Para responder a essas perguntas, montou-se um experimento em Passo Fundo, RS, no campo da Embrapa Trigo, no período de maio de 1995 a agosto de 1997. Após a colheita de soja, a área total foi dividida em três parcelas de 13 m x 14 m.
Mensalmente, foram sorteadas cinco subamostras de um metro quadrado por parcela, sendo coletados todos os restos culturais de soja da superfície do solo, que foram lavados e deixados secar em temperatura ambiente. Esses restos foram pesados após 48 horas. Os fungos presentes nos restos culturais foram identificados após sete dias de incubação sobre meio de cultura.
No campo, cada parcela foi cultivada com uma cobertura vegetal diferente, formando-se três seqüências de cultivo ao longo do período: I (trigo-milho-aveia-milho-ervilhaca), II (aveia-milho-ervilhaca-milho-trigo) e III (ervilhaca-milho-trigo-milho-aveia).
Resultados da pesquisa
Como resultado, observou-se que as três seqüências de culturas apresentaram o mesmo efeito sobre a decomposição dos resíduos de soja, sendo esta mais rápida até os primeiros 200 dias após a colheita, correspondendo ao período maio-novembro de 1995, continuando de forma constante e lenta até agosto de 1997, quando foram encontrados os últimos restos de soja.
Nas diferentes seqüências de culturas e em todos os meses amostrados, as espécies
(agente causal da podridão negra da raiz),
spp. (gênero do agente causal da podridão vermelha da raiz) e
(agente causal do tombamento de plântulas e da morte em reboleira) foram sempre detectadas.
spp. (gênero do complexo Diaporthe/Phomopsis, agentes causais da deterioração de sementes, de crestamento da haste e da vagem e do cancro da haste) não foi mais recuperado a partir de maio de 1997, na seqüência II, e a partir de junho de 1997, na seqüência I. Na seqüência III, ocorreu novamente em agosto de 1997, após dois meses de não detecção.
Assim, verificou-se que o período para a decomposição total dos restos culturais de soja, nas condições de Passo Fundo, foi 27 meses. Não houve influência das três seqüências de coberturas vegetais sobre a decomposição dos resíduos de soja em todos os meses amostrados, com exceção de agosto de 1997, quando as seqüências I e II diferiram da seqüência III.
Também não foi constatada influência sobre a incidência dos fungos dos gêneros
e
. A habilidade de competição saprofítica e as estruturas de resistência de
e de
permitem que esses fungos permaneçam viáveis por muito tempo em uma área. Para Phomopsis, como a sobrevivência está ligada à decomposição dos restos culturais, pode-se considerar seus propágulos não viáveis após 27 meses da colheita de soja, nas condições climáticas de Passo Fundo.
Leila M. Costamilan, Julio C. B. Lhamby e Emidio R. Bonato
Embrapa Trigo
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