Resultados agronômicos de diferentes variedades e híbridos de milho na região centro-oeste

Por Tiago Correia (FAV/UnB), Arthur Lopes (EA/UFG), Aldir Maques Filho (DEEA/UFLA), Pedro Henrique Alves (UnB), Brenda Jhully Moreira (UnB) e Lucas de Queiroz, engenheiro agrônomo

22.12.2023 | 10:50 (UTC -3)

De grande relevância ao agronegócio brasileiro, a produção de milho tem foco em atender as indústrias de ração animal, alimentação humana e ensilagem por produtores rurais. Para superar adversidades do cultivo, obter sucesso produtivo e atender a demanda de mercado, a escolha do cultivar ou híbrido é fundamental. Para isso, todo material lançado no mercado deve apresentar informações agronômicas suficientes para que os produtores possam explorar o máximo potencial produtivo da cultura, de acordo com a condição climática da região que cultiva, práticas culturais e nível de investimento que realiza.

Há algum tempo a produção de milho no Brasil é realizada em duas épocas de semeadura, verão (primeira safra), realizada tradicionalmente nos períodos de maior pluviosidade, que varia de outubro a dezembro na região centro-oeste e sudeste, e segunda safra (safrinha), realizada nos períodos de menor oferta de chuvas, entre janeiro e março, quase sempre em sucessão a soja precoce.

Nos últimos anos têm sido verificadas reduções da área plantada na primeira safra e aumentos na segunda safra. Segundo dados levantados pela Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, na última década a área cultivada com milho safrinha saltou de 5 milhões de hectares na safra 2007/2008 para aproximadamente 11,5 milhões na safra 2017/2018. Embora realizada em condição desfavorável de clima, os sistemas de produção na safrinha têm sido aprimorados e adaptados para incrementar produtividade de grãos nas lavouras. Dados da CONAB (2017) informam que a produtividade do milho safrinha evoluiu da ordem de 16,68 milhões de toneladas na safra 2007/2008 para 56 milhões de toneladas na safra 2017/2018.

Com o intuito principal de conhecer e fornecer informações agronômicas de variedades e híbridos de milhos aptos ao cultivo na região do planalto central brasileiro, pesquisadores da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília - FAV/UnB, realizaram um ensaio comparativo de oito matérias de milho.

O trabalho realizado durante a safra 2017/2018 em campo experimental (coordenadas geográficas 15º56'47.64"S 47º55'57.46"O) do Laboratório de Máquinas e Mecanização da Fazenda Experimental Água Limpa - LAMAGRI, pertencente a UnB, e avaliou população final de plantas (PFP), altura de plantas (AP), altura de inserção de espiga (AIE), diâmetro de colmo (DC), número de espigas por planta (NEP), comprimento de espigas (CE), diâmetro de espigas (DE), número de fileiras de grãos por espiga (NFG), o teor de água dos grãos na colheita (TAGC), massa de 1000 grãos (MMG), produtividade de grãos (PG) e variação da produtividade em relação à média do ensaio (VP).

Figura 1: localização geográfica da área experimental do trabalho
Figura 1: localização geográfica da área experimental do trabalho

Os oito materiais de milho foram submetidos às mesmas condições de instalação, condução e metodologias de avaliações, sendo apresentadas a seguir informações e dados que caracterizaram o cultivo.

- Tipo de solo: Vermelho amarelo.

- Sistema de preparo do solo: convencional com gradagem intermediária, subsolagem à 0,4 m e gradagem niveladora.

- Altitude: 1084 m.

- Calagem: 600 kg ha-1 de calcário dolomítico.

- Semeadura: 19/12/2017 com semeadora-adubadora de precisão

- Parcelas experimentais: quatro de 25 m de comprimento e 7 m de largura por material.

- Adubação de base: 1000 kg ha-1 de NPK 04-14-08 na linha.

- Adubação de cobertura: 500 kg ha-1 de NPK 20-05-20 na linha, 30 dias após a semeadura.

- Densidade de semeadura: 3 sementes m-1 com espaçamento entre linhas de 47,5 cm (≅ 63160 sementes ha-1).

- Aplicação de inseticida(s): duas aplicações, uma aos 20 e outra aos 26 dias após a semeadura, do produto comercial Keshet® (p.a: Deltametrina 25 g L-1) na dosagem 200 ml ha-1, volume de calda de 250 L ha-1 aplicada com pulverizador tratorizado de barras.

- Aplicação de herbicida(s): uma aplicação do produto comercial Soberan® (p.a: Tembotriona 420 g L-1) na dosagem 240 ml ha-1, volume de calda de 200 L ha-1 aplicada com pulverizador tratorizado de barras aos 27 dias após a semeadura.

- Colheita: manual em 04/05/2018, sendo a debulha e trilha realizadas mecanizadamente em trilhadora estacionária de cereais.

- Precipitação total durante o ciclo da cultura: 676 mm.

- Temperatura média durante o ciclo da cultura: 20,95 °C.

-Na figura 2 são apresentados os dados de precipitação e temperatura coletados na estação meteorológica da Fazenda Experimental Água Limpa.

Figura 2: precipitação e temperatura do dia durante o período de 19/12/2017 a 04/05/2018
Figura 2: precipitação e temperatura do dia durante o período de 19/12/2017 a 04/05/2018

Na Tabela 1 são apresentados os dados dos materiais cultivados e características agronômicas dos mesmos. É possível notar que o material do tipo variedade apresentou população final de plantas (PFP) 3% inferior à média do ensaio (61500 pl/ha), possivelmente refletindo menor produtividade de grãos demonstrada na Figura 3. Em relação a altura de plantas (AP) a média do ensaio foi de 2,8 m, destacando-se como mais altas as plantas do material M274, alcançando média de 3 m. Para a variável altura de inserção da primeira espiga (AIE) o híbrido AG3700 RR apresentou média de 1,1 m, altura 21,4% inferior à média de 1,4 m do ensaio.

A média de diâmetro de colmo (DC) do ensaio foi de 21,6 mm, característica que proporciona boa sustentação e estabilidade às plantas, mesmo as de menor diâmetro como do material SHS4080. Embora o número de espigas por plantas (NEP) seja em muitos materiais uma característica correlacionada diretamente ao incremento de produtividade de grãos, para outros não necessariamente essa correlação ocorre. Os materiais Cativerde 2 e M274 apresentaram produção de uma espiga por plantas, NEP 28,5% menor que a média de 1,4 espigas do ensaio, entretanto, somente o Cativerde 2 apresentou produtividade 29,7% inferior à média do ensaio, o híbrido M274 apresentou produtividade 0,4% superior a essa média, contradizendo a correlação de menor NEP em menor produtividade. A produtividade de grãos é também influenciada por características como comprimento de espiga (CE), número de fileira de grãos por espiga (NFG) e massa de mil grãos (MMG).

A média de CE do ensaio foi de 16,2 cm, sendo os menores CE (16 cm) verificados nos materiais Cativerde 2 e AG8690 VT PRO3, os quais apresentaram também produtividade 29,7 e 6,2 % inferior à média de 10558,4 kg/ha do ensaio. O material que apresentou maior CE, 17,5 cm, foi o BM3063 VT PRO2, sendo também o que apresentou maior massa de mil grãos (MMG), 493 g, e produtividade.

A variável teor de água dos grãos na colheita (TAGC) teve média de 13% no ensaio, sendo os materiais Cativerde 2 e M274 os que apresentaram menor TAGC, 12,4 e 12,5% respectivamente. São portanto materiais que secam mais rápido no campo, possibilitam a antecipação da colheita e redução de custos com secagem.

A produtividade de grãos dos materiais e a variação da produtividade em relação a média do ensaio são apresentadas na figura 3 e 4 respectivamente.

Dentre os materiais comparados o que apresentou maior produtividade de grãos foi o BM3063 VT PRO2, com 12580,6 kg/ha, variando 16,9% a mais que a média de 10558,4 kg/ha do ensaio. O material AG7098 VT PRO2 também se destaca em produtividade com 11891,1 kg/ha, quantidade 10,5% superior à média do ensaio. O material com menor produtividade foi o Cativerde 2, com 7557,9 kg/ha, seguido do AG8690 VT PRO3 com 10092,8 kg/ha, variando respectivamente 6,2 e 29,7% abaixo da média do ensaio.

Em função das diferentes respostas produtivas dos materiais estudados, conclui-se a importância do correto posicionamento de variedades e híbridos na propriedade, devendo atentar-se para a resposta produtiva ao nível tecnológico e de investimento do produtor. As diferenças produtivas e de características agronômicas não necessariamente podem rotular um material como sendo melhor ou pior, é importante ressaltar que cada material possui atributos desejáveis para diferentes sistemas produtivos, proporcionando melhor relação custo/benefício ao produtor.

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