Transformações no varejo agrícola brasileiro e seus impactos no mercado de fertilizantes
Por Luiz Fernando Naso, diretor de fertilizantes da Nutrien no Brasil
Nos últimos seis meses, quatro ondas de calor diferentes atingiram o Brasil. A última delas, em novembro, considerada a mais forte, foi responsável por registrar novos recordes de temperaturas em diversos estados do país. Mas, afinal, com a elevação climática e o ciclo de chuvas que devem alterar diretamente as próximas safras de grãos, como o produtor pode preparar-se nesse novo cenário e evitar a quebra de produtividade e possíveis prejuízos não só em 2024, mas em futuras colheitas?
O clima, como se sabe, é um fator decisivo para qualquer cultura e produção agrícolas, sendo um balizador do calendário e da velocidade de plantio, maturação e desenvolvimento das lavouras e de seu potencial produtivo. O aumento da temperatura, as chuvas e as precipitações pluviais são, portanto, fatores determinantes para o êxito – ou não – de uma safra. No momento em que ocorre o plantio, vários fatores, como a umidade do solo, a luminosidade, o índice pluviométrico e a regularidade hídrica, são fundamentais para potencializar o desenvolvimento da planta e atingir o máximo de produtividade de uma determinada cultura agrícola.
Atualmente, estamos na fase de plantio da safra verão, que está atrasada devido às condições climáticas adversas. Esse prolongamento do plantio impactará a janela de colheita, ou seja, quanto mais tarde se planta, mais tarde se colhe. Sendo assim, o atraso na janela de plantio da soja acarretará impacto direto na janela de plantio do milho.
Com um ciclo médio de 110 dias de cultivo, o cultivo da soja é formado basicamente por três grandes fases: vegetativa, reprodutiva e de maturação. Em seu ciclo, são necessários volumes de chuva na ordem de 550-700 mm/ciclo. O volume de chuva não pode, em hipótese alguma, vir concentrado em uma única vez, é necessária uma regularidade, principalmente a fase reprodutiva.
Também precisamos lembrar que o Brasil vivencia a atuação de dois fenômenos climáticos principais: El Niño e La Niña. O primeiro provoca tipicamente secas nas regiões Norte e Nordeste do país, enquanto La Niña favorece a formação de chuvas nessas mesmas regiões. Já a região Sul é marcada por maiores volumes de chuva durante o fenômeno El Niño e, de forma contrária, menores volumes pluviométricos ocorrem em La Niña. Quanto mais intensos forem esses fenômenos, mais propensos serão os riscos nas safras, seja por excesso ou falta de chuvas, seja por altas ou baixas temperaturas.
Com essa onda de calor e em meio a um cenário climático volátil, a próxima colheita da soja está, segundo números recém-divulgados pela Datagro, mais próxima de 148 milhões de toneladas – uma queda, portanto, de 4,2% em relação às 154 milhões de toneladas da safra 2022/23 –, podendo ficar em um intervalo de até 155 milhões de toneladas, número que converge para a última projeção divulgada por essa consultoria agrícola.
Toda essa indefinição deixa um recado claro ao produtor: é preciso planejar desde já a próxima colheita de soja, adotando uma estratégia de plantio eficiente e eficaz cujo manejo inclua soluções nutricionais que evitem a quebra de produtividade e possíveis prejuízos advindos desse novo panorama climático. Sem isso ficar claro no plano de safra, o resultado certamente ficará aquém do esperado pelo sojicultor.
Para aliviar as consequências negativas sobre a safra é necessário utilizar uma estratégia de manejo abrangente que inclua desde o acompanhamento dos mapas climáticos para plantar na “janela ideal de plantio” até o manejo de solo e sementes, irrigação e soluções nutricionais de alta performance para a planta. Práticas agrícolas adequadas, como o manejo integrado de pragas e o controle preventivo de doenças, são essenciais para preservar a sanidade das folhas do baixeiro, por exemplo, que compreende as folhas mais baixas e os ramos inferiores da planta. Isso pode envolver a aplicação de fungicidas, quando necessário, o monitoramento regular das condições de crescimento e a adoção de medidas para minimizar a umidade excessiva, que, muitas vezes, está associada ao desenvolvimento de doenças foliares.
Vale lembrar que folhas saudáveis contribuem para maior eficiência na produção de nutrientes e na síntese de carboidratos, resultando em um crescimento mais vigoroso e na formação adequada dos grãos. Manter a sanidade dessas folhas é essencial para garantir um desenvolvimento robusto do grão e otimizar seu rendimento agrícola. Nesse sentido, o produtor pode usar na lavoura da soja soluções de alta performance, disponíveis no mercado, que tornam a planta mais resistente contra os estresses bióticos e abióticos, junto com o cobre, que atua na indução de resistência, tornando a planta menos suscetível ao patógeno e fornecendo aminoácidos que minimizam o estresse.
Outra dica valiosa é em relação aos carboidratos. Para obter o acúmulo de açúcares se faz necessário o uso de nutrientes específicos que influenciam a síntese e no acúmulo do carboidrato. Dessa forma, o produtor pode aplicar fertilizantes minerais mistos de alta eficiência e, com isso, potencializa-se o transporte de fotoassimilados, contribuindo para aprimorar a qualidade do grão colhido e elevar a produtividade da lavoura.
Por Miguel Kenzo (na foto), coordenador de desenvolvimento técnico de mercado da Ubyfol
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