O fungo
é o patógeno causador da podridão-de-esclerotínea ou mofo branco, que ataca 408 espécies de plantas de todo o mundo, entre elas o feijoeiro, soja, ervilha, alface, girassol, canola, algodão, tomate, cenoura, guandu, quinoa, amaranto, nabo forrageiro, alfafa, estilosantes, amendoim, Arachis pintoi, níger, mucuna, crotalária, batata, tremoço, fumo, erva quente, fazendeiro, caruru, amendoim bravo, corda-de-viola, picão preto, e joá-de-capote.
As perdas ocasionadas por esse fungo na região do Cerrado podem chegar a 30% em soja e feijão, no período chuvoso. No inverno, sob irrigação, o feijão e o tomate irrigados podem sofrer perdas de até 70%.
Até 1976, o fungo era relatado principalmente em hortaliças. A partir da safra 1976-1977, também foi detectado em lavouras de soja, no centro-sul do Paraná. Na safra 1982-1983, o mofo-branco atacou a soja na região do Alto Paranaíba (MG) e disseminou-se no Distrito Federal e entorno nos cultivos de verão (soja) e de inverno (feijão), sob pivô central, a partir de 1985.
Com a expansão da fronteira agrícola na região do Cerrado, essa doença tem se destacado na cultura do feijoeiro, onde o patógeno encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento: temperaturas amenas e alta umidade do solo. A forma de disseminação mais comum tem sido a presença micélio (o corpo do fungo) e escleródios (estrutura de resistência do fungo) presentes nas sementes utilizadas pelos agricultores.
Os escleródios permanecem no solo por mais de cinco anos e germinam quando as condições são favoráveis, produzindo o apotécio (local onde os esporos - células reprodutoras do fungo - são formados) e micélio. Os apotécios liberam uma grande quantidade de esporos, que são facilmente transportados por correntes de ar e depositados sobre as plantas, principalmente nas flores. Esses esporos, ao germinar, atacam as plantas, causam infecção e perdas nas culturas. No final do ciclo, são produzidos novos escleródios, a partir do micélio, que darão início a um novo ciclo. A severidade da doença tem se agravado com o monocultivo, principalmente do feijão.
Atualmente não existem variedades resistentes dentre as espécies atacadas. Para o controle dessa doença, em áreas altamente infestadas, o uso de fungicidas tem se mostrado pouco eficiente, pois, normalmente não impede a formação dos escleródios.
A rotação ou sucessão de culturas, como forma de diminuir o impacto negativo do monocultivo no solo, não é boa sob o ponto de vista fitossanitário, pois inclui espécies suscetíveis ao mofo branco, entre elas o nabo forrageiro. Em amostras de sementes de outras regiões, constatou-se a presença de escleródios, muito menores dos que ocorrem em feijão e difíceis de serem constatados nos lotes de sementes de nabo. Isso contribui para inviabilizar áreas agricultáveis e disseminar a doença por toda a região.
Nas áreas altamente infestadas, nas quais podem ocorrer até seiscentos mil escleródios/ha, nem mesmo fogo os do solo.
Algumas medidas que podem ser utilizadas para o manejo da doença são:
• Uso adequado da água da irrigação;
• Rotação com espécies não suscetíveis: milho, sorgo, milheto, arroz e algumas gramíneas utilizadas como pastagem;
• Sementes livres de micélio e/ou escleródios;
• Tratamento de sementes e pulverizações das partes aéreas das plantas com fungicidas registrados no Ministério da Agricultura e recomendados pela pesquisa;
• Integração lavoura-pastagem;
• Diversificação de cultivos.
Avanços da Pesquisa
Dada à importância e complexidade da doença, é de fundamental importância o trabalho cooperativo entre as instituições. Vários trabalhos têm sido conduzidos envolvendo a Embrapa/Cerrados, Embrapa/Hortaliças, Universidade de Brasília, Universidade Federal de Lavras e ESALQ/Universidade de São Paulo. Dos resultados destacam-se:
1) Cobertura morta
O uso de cobertura morta tem mostrado que os escleródios presentes no solo são mais rapidamente destruídos sob os resíduos de gramíneas e ainda de novas espécies, tais como quinoa e amaranto. Os resíduos dessas culturas deixam o ambiente com baixa luminosidade, o que afeta a viabilidade dos escleródios, pois impedem a formação do apotécio. Além disso, provocam o desenvolvimento de microorganismos antagonistas e liberam nutrientes e outras substâncias que destroem os escleródios. Esses resultados fortalecem a recomendação do plantio direto, que tem como pré-requisito a cobertura da superfície do solo.
2) Sistema de Plantio
A utilização de plantio direto em sistemas irrigados mostrou ser mais eficiente no controle da esclerotínea do que o plantio convencional.
3) Detecção do fungo em meio de cultura “Neon”
“Neon” é um novo método, rápido e eficiente, de detecção de esclerotínea em sementes. Ao colocar as sementes em placas contendo meio de cultura, é possível identificar a presença ou ausência do fungo em apenas sete dias
4) Solarização
Solarização é uma técnica de cobertura do solo com resíduos de culturas e plástico, podendo ser útil em pequenas áreas de cultivo intensivo. O seu uso pode destruir os escleródios em até 90 dias, dispensando a utilização do brometo de metila (fumigante).
5) Arquitetura da Planta e Espaçamento
Na utilização de variedades de feijão com porte mais ereto e espaçamentos maiores, constatou-se diminuição na incidência e a severidade da doença em cultivos irrigados.
6) Lâmina d’água
Menores lâminas d’água resultaram em menor incidência e severidade da doença em feijoeiro irrigado.
7) Herbicidas
A escolha do herbicida pode ter impacto na sobrevivência dos escleródios no solo, estimulando ou inibindo a sua germinação. Os princípios ativos fomesafen, imazaquin e trifluralina podem ser indicados para combater o fungo.
e
Embrapa Cerrados
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