A intoxicação por plantas é uma das causas de morte mais freqüente em bovinos no Sul do Brasil. No estado de Santa Catarina, segundo levantamento realizado no Laboratório de Patologia Animal do Centro de Ciências Agroveterinárias, nos últimos 16 anos as plantas tóxicas representaram 17% das causas de morte em bovinos. Para um plantel de aproximadamente 3 milhões de cabeças e, considerando que as causas gerais de morte representam 7% dos bovinos/ano, estima-se que, somente no estado de SC, as plantas tóxicas podem ser responsabilizadas por 35.700 mortes/bovino/ano.
De uma maneira geral, os animais só ingerem plantas tóxicas quando estão com fome, já que muitas delas são pouco palatáveis. Por isso as mortes causadas por plantas são freqüentemente relacionadas ao inverno, ou após longos transportes, ou a períodos secos, ou à superlotação. Algumas vezes a ingestão pode ser involuntária, principalmente através de feno e /ou resíduos de grãos contaminados. É o que ocorre com a maria-mole (Senecio brasiliense), com o fedegoso (Senna ocidentalis), e com o carrapicho (Xanthium spp). Porém, algumas são palatáveis e podem inclusive fazer parte da dieta como as plantas que contem ácido cianídrico (sorgo, mandioca braba, tifton) e plantas que provocam intoxicação por nitrato (aveia com muita adubação nitrogenada). Cabe aos técnicos da área alertar aos produtores sobre os riscos que elas podem trazer e orientá-los quanto à profilaxia. Ao produtor recai a responsabilidade de adotar e pôr essas medidas em prática.
Algumas plantas às vezes são consideradas tóxicas e são indevidamente responsabilizadas por mortes em animais, porém são inócuas. É o caso dos cipós leitosos conhecidos por timbó (Oxyspetalum spp), que são amplamente incriminados, mas, experimentalmente, não produziram qualquer alteração clínica em bovinos. Outras plantas são experimentalmente tóxicas, mas os bovinos não as ingerem voluntariamente. Neste caso pode ser citado a Asclepia curassavica (oficial de sala, paininha), que apesar de ser freqüentemente incriminada, não há comprovação de intoxicação espontânea. Também é preciso ressaltar que os nomes populares podem induzir a erros. Às vezes um nome popular usado para determinada planta em uma região, para outra, o mesmo nome é aplicado a plantas diferentes. Como exemplo pode ser citado o nome de timbó, que para muitos é atribuído a um cipó leitoso, enquanto que para a região Oeste de SC e RS é atribuído a uma árvore (Ateleia glazioviana).
As plantas de maior impacto econômico para a bovinocultura da região Sul são: Maria-mole, flor das almas (Senecio brasiliense), samambaia (Ptiridium aquilinum), timbó, maria-preta (Ateleia glazioviana). A maria-mole ocorre praticamente em toda a região e produz cirrose hepática. A samambaia concentra-se nas regiões mais altas e produz uma doença hemorrágica de caráter agudo e duas doenças crônicas: os tumores do trato digestivo superior (conhecidos por caraguatá, ferida na goela) e a hematúria enzoótica (urina com sangue), que cursa com tumores na bexiga. O timbó ocorre na região Oeste de SC, ao Noroeste do RS e em uma pequena região do Sudoeste do PR e é, sem dúvida, a planta tóxica mais importante para essas regiões. Essa planta é responsável por um grande número de abortos e por uma doença cardíaca que pode produzir morte súbita ou manifestações de inchaço no peito, cansaço, diarréia e morte.
Algumas plantas provocam grandes prejuízos, porém, ocorrem apenas em determinadas áreas. É o caso da mio-mio (Baccharis coridifolia) que ocorre no Sul do RS e em alguns municípios de SC e do PR; mio-mio do banhado (Baccharis megapotamica var. Weirii), encontrado em locais úmidos do Planalto de SC e do PR. A chumbinho, cambara (Lantana sp), é encontrada em grande quantidade nos municípios do Planalto limítrofes entre os estados de SC e PR. A planta Cestrum intermedium (mata boi, coerana), ocorre em grande quantidade no extremo Oeste de SC, no Sudoeste do PR e Noroeste do RS; Mascagnia sp (um cipó de matas, também conhecido por timbó) que provoca mortes súbitas, nas regiões litorâneas do Sul Catarinense e norte do RS.
Outras plantas de menor impacto econômico podem ter distribuição em toda a região Sul ou apenas em pequenas áreas. Nesse grupo podem ser incluídas: Cestrum corymbosum (sem nome popular); Ramaria flavo-brunnescens (cogumelo do eucalipto) nas matas de eucalipto da região Sul; Nierembergia vetchii (sem nome popular) em alguns municípios do Centro /Sul do RS; Solanum fastigiatum (jurubeba), principalmente no RS e SC; Halimium brasiliense (sem nome popular) no sudeste do RS; Amaranthus spp (caruru) no RS; Prunus spp (pessegueiro bravo) em SC, PR e Norte do RS; Brachiaria radicans (brachiaria do banhado, tanner-grass) nas áreas úmidas do Litoral.
O diagnóstico de intoxicação por plantas em animais exige conhecimento técnico principalmente com relação aos sinais clínicos e às lesões por elas produzidas. Para isto é de extrema importância que o produtor, ao observar animais doentes, procure orientação técnica. O médico veterinário deve analisar clinicamente os animais e sempre que necessário realizar necropsia para avaliar possíveis lesões e coletar amostras para análise histológica. Só assim teremos um diagnóstico preciso. Convém lembrar que a maioria das doenças produzidas por plantas não tem tratamento curativo. Para tanto, fundamental é conhecer as medidas profiláticas para evitar que os animais tenham acesso a essas plantas e assim atingirmos o objetivo principal que é o de evitar perdas econômicas e o próprio sofrimento dos animais.
Aldo Gava
Udesc
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura