Os atrasos no plantio da soja e seus reflexos para 2025

Por Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo; e Emerson Borghi, Embrapa Pecuária Sudeste

03.12.2024 | 11:23 (UTC -3)
Foto: Sandra Brito
Foto: Sandra Brito

O plantio de soja nos principais estados brasileiros caminha para o final. Embora a maioria das regiões tenha iniciado de forma lenta, aguardando melhores condições climáticas, o ritmo de plantio seguiu bem nas semanas seguintes. Com uma capacidade inigualável de resiliência, o produtor brasileiro, mais uma vez, conseguiu esperar o momento certo de plantar, fazendo o dever de casa bem feito. Agora, é contar com a ajuda dos céus para que nenhum susto ocorra.

A pergunta que fica é: mesmo terminando bem o plantio, esse atraso terá algum impacto para o produtor? No caso da soja, não. Esperar o momento ideal garante melhor estabelecimento da lavoura e, associado a um bom manejo, é garantia de estande de plantas almejado. Por outro lado, pensando em segunda safra, o problema se torna evidente.

Não parece muito, mas um atraso de cinco dias no plantio da soja pode ser o diferencial para produzir satisfatoriamente na segunda safra. Isso mesmo, cinco dias. Como se espera colher a soja para depois semear a cultura seguinte, mesmo que o produtor plante com alto rendimento operacional, ele depende da colheita. E assim, qualquer problema, seja operacional ou climático, pode transformar um atraso de dias na soja em prejuízo na cultura seguinte.

Por essa razão, fica difícil prever, neste momento, como será a safrinha de milho, por exemplo. Mesmo que finalizado o plantio, é preciso acompanhar de perto o desenvolvimento da soja para, só depois, verificar qual será a expectativa para a área plantada de safrinha.

Nesse cenário, quais seriam as opções? Existem soluções tecnológicas desenvolvidas no País que estão acessíveis aos produtores, buscando reduzir esses riscos da segunda safra. Os cultivos intercalares antecipados nas entrelinhas da soja antes de sua colheita permitem, sem causar danos às plantas, semear a segunda cultura, que pode ser milho, sorgo, milheto, gergelim ou pastagens, de acordo com a região e o negócio da propriedade. Assim, em melhores condições, a garantia de segunda safra pode ampliar o retorno econômico. Isso pode acontecer na produção de grãos, silagem ou, em casos onde o produtor adota a ILPF, ganho de peso na pecuária de carne e/ou leite, pois o pasto semeado nas entrelinhas da soja permite a entrada do gado mais cedo na área. Tudo isso em plantio direto, garantindo uma pegada de carbono ainda mais efetiva e colocando o Brasil, ainda mais, na vanguarda da produção de alimentos para o mundo.

A tecnologia, denominada Antecipe, exige planejamento. Demanda conhecimento sobre as culturas, uma semeadora-adubadora múltipla e ajustes no maquinário, pois o conjunto trator-semeadora faz o plantio nas entrelinhas da soja, sem danos às plantas. Essa operação pode ser feita até 20 dias antes da colheita da soja, a depender do ano agrícola, da região e da área a ser semeada. Mesmo com a passagem da máquina colhendo a soja e reduzindo a área foliar da segunda cultura (que já está em desenvolvimento), as plantas conseguem continuar seu desenvolvimento. Caso tenha que esperar a soja para plantar o milho, se a região estiver em condições climáticas ruins, a produtividade será muito menor comparada àquela com o Antecipe.

Em regiões onde o Antecipe tem sido implementado, o ganho de produtividade no milho safrinha atingiu 1,5 saca por hectare para cada dia de antecipação da semeadura intercalar. Em trabalhos com pastagens, a semeadura da braquiária 20 dias antes da colheita da soja proporcionou maior produtividade de forragem, o que possibilita sua utilização para pastejo aos animais no período mais crítico do ano (outono/primavera) e, após o pastejo, ser utilizada como cobertura vegetal para o sistema plantio direto.

Como explicitado, o Sistema Antecipe é uma estratégia de redução de riscos às atividades agropecuárias e não tem pretensão de alterar o atual sistema produtivo brasileiro. O objetivo do Antecipe é possibilitar ganho de produtividade em partes da propriedade onde, em função da capacidade operacional, a segunda espécie é limitada por condições climáticas desfavoráveis. Pode ser utilizado por produtores de diferentes escalas, com várias culturas, em diferentes regiões. É uma tecnologia que permite cultivar simultaneamente duas ou mais espécies para múltiplas finalidades, otimizando o uso de recursos naturais, reduzindo custos e diversificando a atividade agropecuária.

O Antecipe exige ser programado com antecedência, iniciando antes da semeadura da cultura de verão. Depende de uma semeadora-adubadora específica, que pode ser utilizada para semeadura de todas as culturas, independentemente da época do ano. Suas configurações atendem produtores de diferentes proporções, para diferentes finalidades, tornando essa tecnologia acessível a todos.

Além dos resultados em diferentes regiões, no Portal da Embrapa encontram-se disponíveis gratuitamente links com perguntas e respostas frequentes (FAQs), publicações, palestras e cursos que detalham sobre o cultivo intercalar. Como estratégia de transferência de tecnologia, a Embrapa realiza treinamentos e capacitações técnicas com parceiros (cooperativas e técnicos de assistência técnica pública e privada), implantação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs) e apoio a instituições públicas e privadas através de cooperações técnicas, para que o Antecipe seja disponibilizado aos produtores com mais rapidez e assertividade.

*Por Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo; e Emerson Borghi, Embrapa Pecuária Sudeste

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