Obstáculo oculto

Por Jesus G. Töfoli, Josiane T. Ferrari e Ricardo J. Domingues (APTA - Instituto Biológico)

10.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

A rizoctoniose ou crosta negra, causada pelo fungo Rhizoctonia solani (Teleomorfo Thanatephorus cucumeris), é uma doença de ocorrência generalizada em cultivos de batata, principalmente em áreas intensamente cultivadas. Associada ao solo pode afetar todas as partes subterrâneas da planta e ocorre em diferentes estádios fenológicos da cultura (emergência; tuberização e maturação dos tubérculos). Em hastes e estolões, os sintomas típicos da doença são caracterizados por lesões castanho-avermelhadas (cancros), alongadas, aneladas que podem ou não estar associadas ao estrangulamento.

Nos tubérculos a doença é chamada de crosta-negra e caracteriza-se pela presença maciça de escleródios aderidos à sua superfície. Possuem coloração marrom-escura a negra, apresentam tamanhos e formatos variáveis e são formados pelo enovelamento do micélio do fungo. A doença também pode apresentar sintomas secundários como: germinação lenta, redução do estande, queda do vigor, atrofia de plantas, amarelecimento, enrolamento de folhas, redução do número e tamanho dos tubérculos, emissão de tubérculos aéreos e tubérculos disformes.

Rhizoctonia solani possui hifas septadas, micélio marrom a ocre, com a presença de ramificação lateral em ângulo reto. O fungo pode ser dividido em diferentes subgrupos em função da capacidade de fusão de suas hifas (Grupos de Anastomose - GA).

A rizoctoniose da batata é causada principalmente pelos grupos de anastomose 3 e 4 (GA-3 e GA-4). O grupo GA-3 é o mais severo e específico para a batateira, podendo provocar sérios prejuízos, enquanto o grupo GA-4 apesar de patogênico, raramente causa perdas significativas. No Brasil, além da batata, o grupo GA-3 é relatado em fumo e o grupo GA-4 em soja, feijão, amendoim, tomate, melão, melancia, espinafre, pimentão e brócolis.

A doença é favorecida por solos argilosos, frios (5ºC a 25°C), úmidos, mal drenados, matéria orgânica mal decomposta, plantios profundos e ambientes com temperaturas entre 18ºC e 22°C. O fungo pode sobreviver no solo por longos períodos, mantendo-se na forma de escleródios ou micélio colonizando restos de cultura. Na fase de germinação/emergência, os escleródios presentes nas sementes ou no solo germinam e infectam os brotos e as hastes novas. A formação de escleródios em tubérculos ocorre em qualquer fase da tuberização e/ou enchimento, porém, é mais significativa quando os tubérculos estão próximos à maturidade.

Além das culturas citadas anteriormente, os grupos de anastomose de R. solani associados à cultura da batata podem também afetar plantas invasoras como: joá-de-capote (Nicandra physaloides L.), beldroega (Portulaca oleracea L.), caruru (Amaranthus deflexus L.) e maria pretinha (Solanum americanum L.).

Micélio de&nbsp;<i>Rhizoctonia solani</i>, fungo causador da rizoctoniose ou crosta-negra
Micélio de Rhizoctonia solani, fungo causador da rizoctoniose ou crosta-negra

Vários produtos foram desenvolvidos especificamente para o controle da rizoctoniose. Em geral, esses promovem incrementos na germinação, no vigor das plantas, no rendimento e na qualidade dos tubérculos. O uso de fungicidas deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, momento da aplicação, intervalo de segurança, uso de equipamento de proteção individual (EPI), armazenamento e descarte de embalagens etc. Para evitar a ocorrência de resistência a fungicidas recomenda-se que fungicidas específicos (sistêmicos) sejam utilizados de forma alterna da ou formulados com produtos inespecíficos (contato); que se evite o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação; e que não se façam aplicações curativas em situações de alta pressão de doença.

Diferentes medidas de controle para limitar a severidade da doença

• Plantio de batata-semente sadia (livres de escleródios).

• Preparo correto do solo para eliminar “pés de grade” para facilitar a aeração e o acúmulo de umidade nas camadas superficiais.

• Realizar o plantio raso, entre 5cm e 7cm, para favorecer a rápida emergência das plantas.

• Evitar o plantio em solos frios (menos de 10°C) ou excessivamente úmidos.

• Tratamento de sementes com fungicidas registrados.

• Plantio de cultivares com algum nível de tolerância como: Bailla, Chipie, Colorado, Gredine, Opaline, Soleia e Innovator.

• Evitar o uso excessivo de nitrogênio, pois ashastes tornam-se mais tenras e mais suscetíveis à doença. Níveis adequados de cálcio podem reduzir a doença.

• Eliminação de hospedeiros alternativos e plantas voluntárias.

• Manejo adequado da irrigação para evitar acúmulo de umidade no solo.

• Rotação de culturas com gramíneas por dois anos a três anos para redução do potencial de inóculo na área.

• Evitar ferimentos às hastes durante a amontoa. Realizar a operação quando estiverem mais rígidas.

• O controle biológico da doença pode ser realizado com formulações de Trichoderma sp. O micro-organismo deve ser aplicado em pré-plantio e deve ser utilizado em combinação com outras estratégias de controle para que se alcance bons níveis de controle.

• Estudos têm mostrado que a incorporação seguida da decomposição de restos culturais de crucíferas e mostarda podem reduzir a doença graças à fumigação do solo, causada pela liberação de cianetos.

* Por Jesus G. Töfoli, Josiane T. Ferrari e Ricardo J. Domingues (APTA - Instituto Biológico)

Artigo publicado na edição 87 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas

Para saber quais pesticidas estão registrados para o controle de "Rhizoctonia solani", clique aqui.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
MSC 2025