Obstáculo oculto

Associada ao solo e de ocorrência generalizada a rizoctoniose afeta hastes, estalões e provoca crosta negra em tubérculos de batata, além de apresentar outros sérios sintomas secundários

10.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

A rizoctoniose ou crosta negra, causada pelo fungo Rhizoctonia solani (Teleomorfo Thanatephorus cucumeris), é uma doença de ocorrência generalizada em cultivos de batata, principalmente em áreas intensamente cultivadas. Associada ao solo pode afetar todas as partes subterrâneas da planta e ocorre em diferentes estádios fenológicos da cultura (emergência; tuberização e maturação dos tubérculos). Em hastes e estolões, os sintomas típicos da doença são caracterizados por lesões castanho-avermelhadas (cancros), alongadas, aneladas que podem ou não estar associadas ao estrangulamento. Nos tubérculos a doença é chamada de crosta negra e caracteriza-se pela presença maciça de escleródios aderidos à sua superfície. Possuem coloração marrom-escura a negra, apresentam tamanhos e formatos variáveis e são formados pelo enovelamento do micélio do fungo. A doença também pode apresentar sintomas secundários como: germinação lenta, redução do estande, queda do vigor, atrofia de plantas, amarelecimento, enrolamento de folhas, redução do número e tamanho dos tubérculos, emissão de tubérculos aéreos e tubérculos disformes.

Rhizoctonia solani possui hifas septadas, micélio marrom a ocre, com a presença de ramificação lateral em ângulo reto. O fungo pode ser dividido em diferentes subgrupos em função da capacidade de fusão de suas hifas (Grupos de Anastomose - GA). A rizoctoniose da batata é causada principalmente pelos grupos de anastomose 3 e 4 (GA-3 e GA-4). O grupo GA-3 é o mais severo e específico para a batateira, podendo provocar sérios prejuízos, enquanto o grupo GA-4 apesar de patogênico, raramente causa perdas significativas. No Brasil, além da batata, o grupo GA-3 é relatado em fumo e o grupo GA-4 em soja, feijão, amendoim, tomate, melão, melancia, espinafre, pimentão e brócolis.

A doença é favorecida por solos argilosos, frios (5ºC a 25°C), úmidos, mal drenados, matéria orgânica mal decomposta, plantios profundos e ambientes com temperaturas entre 18ºC e 22°C. O fungo pode sobreviver no solo por longos períodos, mantendo-se na forma de escleródios ou micélio colonizando restos de cultura. Na fase de germinação/emergência, os escleródios presentes nas sementes ou no solo germinam e infectam os brotos e as hastes novas. A formação de escleródios em tubérculos ocorre em qualquer fase da tuberização e/ou enchimento, porém, é mais significativa quando os tubérculos estão próximos à maturidade.

Além das culturas citadas anteriormente, os grupos de anastomose de R. solani associados à cultura da batata podem também afetar plantas invasoras como: joá-de-capote (Nicandra physaloides L.), beldroega (Portulaca oleracea L.), caruru (Amaranthus deflexus L.) e maria pretinha (Solanum americanum L.).

Diferentes medidas de controle para limitar a severidade da doença.

Uso de fungicidas registrados no sulco de plantio/amontoa.

Vários produtos foram desenvolvidos especificamente para o controle da rizoctoniose. Em geral, esses promovem incrementos na germinação, no vigor das plantas, no rendimento e na qualidade dos tubérculos. O uso de fungicidas deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, momento da aplicação, intervalo de segurança, uso de equipamento de proteção individual (EPI), armazenamento e descarte de embalagens etc. Para evitar a ocorrência de resistência a fungicidas recomenda-se que fungicidas específicos (sistêmicos) sejam utilizados de forma alternada ou formulados com produtos inespecíficos (contato); que se evite o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação; e que não se façam aplicações curativas em situações de alta pressão de doença.

Quadro 1 - Fungicidas registrados no Brasil para controle da rizoctoniose da batata

Fungicida

Grupo químico

Mobilidade na planta

Modo de ação

Época de

aplicação

Risco de resistência

fluazinam

dinitro-anilina

contato

desacoplador da fosforilação oxidativa

sulco de plantio e amontoa

baixo

piraclostrobina + metiram

estrobilurina+ ditiocarbamato

mesostêmico/

contato

inibição da respiração Complexo III

sulco de plantio

alto/baixo

fludioxonil

fenilpirrole

translaminar

transdução do sinal

tratamento de semente e sulco de plantio

baixo a médio

pencicuron

feniluréia

contato

divisão celular

tratamento de semente

desconhecido

flutolanil

fenil-benzamida

sistêmico

inibição da respiração

tratamento do sulco de plantio

médio a alto

trifluzamida

carboxanilida

sistêmico

inibição da respiração Complexo II

tratamento de semente ou sulco de plantio

médio

procimidona

dicarboximida

translaminar

transdução do sinal

tratamento do sulco de plantio

médio a alto

Fungicida

Grupo químico

Mobilidade na planta

Modo de ação

Época de

aplicação

Risco de resistência

fluazinam

dinitro-anilina

contato

desacoplador da fosforilação oxidativa

sulco de plantio e amontoa

baixo

piraclostrobina + metiram

estrobilurina+ ditiocarbamato

mesostêmico/

contato

inibição da respiração Complexo III

sulco de plantio

alto/baixo

fludioxonil

fenilpirrole

translaminar

transdução do sinal

tratamento de semente e sulco de plantio

baixo a médio

pencicuron

feniluréia

contato

divisão celular

tratamento de semente

desconhecido

flutolanil

fenil-benzamida

sistêmico

inibição da respiração

tratamento do sulco de plantio

médio a alto

trifluzamida

carboxanilida

sistêmico

inibição da respiração Complexo II

tratamento de semente ou sulco de plantio

médio

procimidona

dicarboximida

translaminar

transdução do sinal

tratamento do sulco de plantio

médio a alto

Agrofit (10/6/2014) Frac (www.frac.info)

Importância da batata

Alimento universal, a batata (Solanum tuberosum L.) possui excelente valor nutritivo, sendo importante fonte de energia, vitaminas e minerais. A bataticultura tem grande importância econômica e social no cenário agrícola brasileiro, possuindo alto nível tecnológico, características empresariais bem definidas e presença marcante na agroindústria.


Este artigo foi publicado na edição 87 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas. Clique aqui para ler a edição.

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