O Brasil, com suas dimensões continentais e condições climáticas diversas, produz, exporta e consome frutas frescas tradicionais como o abacaxi, a banana, a manga, a maçã e a uva. Incluindo os sucos cítricos, nossas exportações, no ano de 2000, atingiram cifras superiores a 35 milhões de dólares e o nosso consumo per capita de frutas frescas aumenta a uma taxa de 10 a 13% ao ano.
O consumidor brasileiro, no entanto, pouco conhece as frutas consideradas raras como a lichia e o longan, cultivadas e exploradas com sucesso em muitos outros países. Recentemente, perguntamos a alguns amigos consumidores de frutas qual era a opinião deles quanto à lichia e ao longan. De imediato, todos indagaram: “Que frutas são essas ?”
A lichia
A lichia (
Sonn.) é uma fruta chinesa da familía Sapindaceae e chegou ao Brasil ainda no império de D. Pedro I, que a recebeu de presente do imperador chinês. A lichieira é uma planta de clima subtropical alcançando, quando adulta, porte acima de 12 m. O início de produção ocorre entre o terceiro e o quinto ano do plantio, quando propagada vegetativamente. Embora a safra da lichia varie um pouco de ano para ano, o florescimento geralmente ocorre entre agosto e setembro e a colheita entre dezembro e janeiro.
A propagação por semente não é recomendada, pois não fixa as características da planta-mãe, e a planta inicia a produção após 10 anos do plantio. Além disso, a semente deve ser semeada logo após retirada da polpa, pois perde o poder germinativo rapidamente. A propagação vegetativa pode ser feita por enxertia (garfagem ou borbulhia), porém resulta em baixo sucesso no pegamento do enxerto. Atualmente, os processos de propagação por mergulhia ou alporquia são os mais usados. As folhas são compostas, com até 7 pares de folíolos de forma elíptica. A inflorescência é do tipo panícula terminal, com flores perfeitas (hermafroditas) e masculinas na mesma panícula, produzindo as frutas em cachos ao redor da copa.
A fruta é uma drupa de forma arredondada a reniforme, alcançando até 5,0 cm de comprimento; a casca é coriácea, quebradiça e de coloração vermelha intensa, passando a castanho-escura, quando madura. A polpa ou arilo é translúcida, sucosa e muito saborosa, assemelhando-se a algo entre a jaboticaba e a uva moscatel. Além do sabor, a lichia é bastante energética e com aceitável teor de proteína. As variedades comercializadas no mercado asiático com frutas de excelente qualidade são a Haak Ip, Wai Chi, No Mai Chi, Hong Huai, Kim Cheng, O Hia e a Chakraphat.
O longan
O longan [
(Lour) Stued.] é uma fruta tropical originária da Índia, sendo espécie afim da lichia, uma vez que também pertence à família Sapindaceae. Essa fruta está bastante dispersa nas regiões tropicais e produz extensivamente em vários países asiáticos, como a China e a Tailândia. A planta, quando adulta, tem a aparência da lichia na forma de copa e no porte elevado. O início de produção é também tardio, ou seja, depois dos 4 anos, mesmo quando a planta é enxertada. Similar à lichia, o longan floresce, geralmente, entre agosto e setembro, e sua produção ocorre entre dezembro e janeiro. Dependendo das condições climáticas e da adubação, a planta mostra-se bastante irregular em produção de ano para ano. As variedades tailandesas Bieo Khieo, Do e Si Chomphu são bastante comercializadas na Ásia. No Brasil, a variedade Kohala foi lançada pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), devido a sua excelente produção e qualidade da fruta
Os problemas e os métodos de propagação são muito semelhantes ao da lichia. As folhas são também compostas, mas com apenas 2 a 3 pares de folíolos. Igualmente à lichia, a inflorescência é uma panícula terminal, produzindo cachos na periferia da copa. As flores apresentam-se masculinas e femininas, também distribuídas em toda panícula. As plantas apresentam elevada auto-incompatibilidade na polinização, necessitando de um número abundante de insetos polinizadores para uma aceitável polinização cruzada e rendimento. As plantas de “pés-francos” (originada de semente) apresentam grande variabilidade no rendimento, na forma e na coloração das frutas.
As frutas são de forma arredondada a ovóide com cerca de 2,5 cm de diâmetro, casca lisa de coloração amarela-cinza, pouco atrativa e muito semelhante à pitomba (Talisia esculenta Radlk.), fruta encontrada no Nordeste brasileiro. A polpa ou arilo é também translúcida, porém menos sucosa e saborosa que a lichia. A semente do longan possui coloração marrom-escura e brilhosa com comprimento variando de 7 a 9 mm. Na França, o longan é comumente chamado de “fruta do olho de dragão” devido ao formato e à coloração de suas sementes. A fruta é muito rica em cálcio e fósforo.
Quando se fala sobre frutas raras, é comum alguém indagar se elas têm potencial de adaptação e de cultivo na região a ser introduzida. Portanto, é importante comentar sobre as principais exigências dessas fruteiras, quanto ao solo, clima e manejo, nas condições do Cerrado.
Solo, clima e manejo
Tanto a lichia como o longan são fruteiras que exigem e se adaptam muito bem em solos ácidos típicos do Cerrado. No entanto, solos sílico-argilosos profundos, bem drenados e com boa fertilidade, são mais exigidos por essas fruteiras.
O clima apropriado para lichia é o subtropical, mas ela adapta-se bem ao tropical úmido. Já o longan requer clima tropical. As noites mais frias e o período seco de maio a agosto são fatores climáticos limitantes para o longan. Em plantio de sequeiro, tanto a lichia como o longan exigem precipitações anuais por volta de 1500 mm, desde que sejam bem distribuídas. Portanto, o uso da irrigação é indispensável para o crescimento e produção aceitáveis dessas duas frutas, principalmente durante o período seco.
O plantio dessas fruteiras deve ser feito durante o período chuvoso (outubro a fevereiro), em covas com dimensões de 60 x 60 x 60 cm. Atualmente, o espaçamento recomendado é o de 10 x 10 m (100 plantas/ha). Porém, com o uso de podas de formação o adensamento de plantio pode ser reduzido, elevando a densidade para 250 plantas por hectare (espaçamento de 8 x 5 m).
A adubação de plantio e crescimento da planta deve ser planejada com base nas análises de solo. Na fase adulta e produtiva, a adubação baseia-se não somente nas análises de solo, mas também nas análises de tecidos de folhas e na extração de nutrientes pelos frutos produzidos. A plantas de lichia e longan, quando adultas, respondem muito bem às adubações organo-minerais, preparadas com a mistura de esterco curtido, macro e micronutrientes, desde que bem parceladas ao longo do período chuvoso. Atualmente, com o advento da fertirrigação, o parcelamento de macronutrientes como o nitrogênio e o potássio, permite melhor produção e qualidade das frutas.
De nada adianta atender às exigências de solo e clima e ter um planejamento adequado de manejo se, por algum motivo, a resposta da produção e a comercialização das frutas não forem bem sucedidas.
Produção e mercado
A produção anual da lichia e do longan é irregular e depende muito da variedade, da adubação e das condições climáticas. Na China, o rendimento de 100 a 150 kg de frutas por planta, tanto de lichia como de longan, é muito comum nas melhores variedades. Há, no entanto, informações de que lichieiras adultas no Havaí produzem cerca de 500 kg de frutas.
A oferta de mudas de lichia é escassa e o preço de uma planta produzida por alporquia varia de R$ 25,00 a 30,00. Como não há oferta de mudas de longan no mercado local, informações sobre preço praticamente inexistem.
A lichia no mercado varejista brasileiro varia de R$ 5,00 a 6,00 por quilo da fruta fresca, o que corresponde entre 25 e 30 vezes o preço da manga variedade Tommy Atkins, comercializada na mesma época (dezembro-janeiro). Com o adensamento tradicional de 100 plantas /ha e um rendimento médio de 125 kg de frutas por planta, estima-se uma renda bruta da ordem de R$ 62,5 mil, por hectare de lichia cultivada.
Portanto, a difícil propagação e produção da muda, seu longo período para o início de produção, a raridade na oferta aliada à excelente qualidade da fruta, são fatores que influenciam a grande demanda e o alto valor de mercado da lichia e do longan, consideradas como novo filão no mercado de frutas raras.
Alberto Carlos de Q. Pinto
Embrapa Cerrados
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