O trigo, um dos cereais mais produzidos no mundo, e graças ao seu aprimoramento genético, possui atualmente uma ampla adaptação edafoclimática, sendo cultivado desde regiões com clima desértico, em alguns países do Oriente Médio, até em regiões com alta precipitação pluvial, como é o caso da China e Índia. No Brasil, pode ser cultivado com sucesso desde a Região Sul do país até a Região de Cerrados, no Brasil Central. Nessa região, com abrangência nos estados de Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais, a triticultura mostrou seus primeiros resultados no final da década de 60 e no início dos anos 70, em experimentos conduzidos em várzeas em Minas Gerais, onde, sob irrigação, foram atingidas produtividades de até 5 mil kg/ha. Entretanto, a consolidação técnica e o apoio necessário à expansão da cultura através do governo e dos órgãos de crédito somente começou a ganhar corpo em meados da década de 70, quando resultados de pesquisas demonstraram, de forma definitiva, a viabilidade da cultura de trigo na região.
Motivados por esses resultados, diversos trabalhos sobre o cultivo de trigo irrigado e em regime de sequeiro foram conduzidos em outros pontos do Brasil Central, com a participação da Embrapa e de outras Instituições de pesquisa na região. Mas foi somente em 1982, com a criação do programa de financiamento da triticultura irrigada (PROFIR), que se iniciou a melhor fase da triticultura nesta região. Como conseqüência desse programa, ao mesmo tempo em que as lavouras eram equipadas com irrigação por aspersão, surgiram novas cultivares de porte mais baixo e mais tolerantes às doenças, desenvolvidas pela rede pública de pesquisa. Paralelamente, novas práticas culturais foram incorporadas aos sistemas de produção. Com isso, a produtividade da lavoura irrigada já alcançava o patamar dos 6 mil kg/ha em MG e DF.
Ao mesmo tempo, nos campos experimentais da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), a produtividade rompia a barreira dos 8 mil kg/ha sob irrigação com pivô central. Nessa mesma década, em 1987, o país produziu mais de 6 milhões de toneladas, chegando próximo da auto-suficiência de trigo, sendo um produto de interesse nacional, subsidiado e com o mercado totalmente controlado pelo Governo Federal. O preço médio de trigo pago aos produtores, nessa época variava em torno de US$ 210 a 215/tonelada, e vendido aos moinhos a uma média de US$ 90/tonelada, enquanto no mercado internacional o produto era comercializado na faixa de US$ 142/tonelada. Na mesma proporção, a indústria aumentava sua capacidade de moagem e a pesquisa criava cultivares adaptadas à região com prioridades concentradas no rendimento de grãos, sem maior preocupação com o mercado, formado por um único comprador, o Governo Federal. Nessa época a região passava a contar com mais de 250 mil hectares de áreas irrigadas, tornando-se potencialmente um gigante na produção de grãos.
A região tornou-se uma espécie de terra prometida, com estabilidade climática e com uma estação seca, a agricultura irrigada com os elevados tetos de rendimento de grãos obtidos poderia produzir mais de 1,5 milhão de toneladas de trigo de excelente qualidade, destinado para qualquer setor da indústria moageira nacional.
No entanto, a área cultivada com trigo no Cerrado Brasileiro não conseguiu superar a faixa de 25 mil hectares, enquanto o feijão passava a ocupar mais de um terço de suas áreas equipadas com irrigação, além de tornar-se a cultura “cash” da agricultura irrigada da região.
Com a globalização da economia a partir do início dos anos 90, e com a formação de blocos econômicos, o mercado de trigo no Brasil sofreu mudanças radicais. Extinguiram-se os subsídios da cultura, que, de repente, ficou à mercê do livre comércio. Essas mudanças rápidas desestruturaram o setor tritícola, que poderia ser mais bem preparado pelo governo brasileiro para entrar na guerra da globalização. Alguns resultados dessa situação colocaram o Brasil, atualmente, como o maior importador mundial de trigo, desbancando a populosa China.
Setor mais fraco da cadeia, a lavoura de trigo no país entrou em colapso, havendo uma redução drástica na área plantada nos últimos anos. Nos Cerrados não foi diferente, a área média plantada com trigo, no período de 92 a 98, despencou, não passando da faixa de 10 a 15 mil hectares. Frente ao novo cenário, a indústria da região passou a operar com ociosidade e, ao mesmo tempo, exigir melhor qualidade industrial do trigo nacional, na medida em que o acesso ao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e ao mercado internacional encontrava produto com qualquer especificação industrial e com preços convidativos, muitas vezes até subsidiados na origem.
Diante da situação, a cadeia produtiva de trigo vem tentando reestruturar-se, da porteira aos moinhos, buscando competitividade e sustentabilidade. A pesquisa redirecionou seus objetivos, na tentativa de atender as demandas da indústria moageira local, e a Embrapa colocou no mercado cultivares com qualidade industrial excelente para a panificação, nos mesmos padrões de qualidade daquelas importadas da Argentina. No entanto, o trigo não tem conseguido ocupar um lugar de destaque no sistema agropecuário da região, deixando de explorar o grande potencial que a cultura teria, através de mais de 20 anos de pesquisas.
Se pensarmos que o trigo poderia ocupar um lugar em sucessão à cultura de feijão, irrigado por pivô central, a região produziria rapidamente mais de 500 mil toneladas de trigo anualmente, e colhidos em uma época de escassez de trigo no mercado em agosto-setembro, quando os preços de mercado geralmente estão com os valores máximos. A grande vantagem dessa produção é a estabilidade em termos de quantidade, pois nas condições irrigadas, as variações de rendimento de grãos são pequenas, e a região poderia funcionar como reguladora de estoques.
O Governo poderia ter ações de política agrícola para o desenvolvimento da cultura na região, explorando seu potencial. Fundamentalmente, a região do Brasil Central (Cerrados) é um oásis nacional para trigo, transformado em terra prometida, que com segurança e estabilidade poderia produzir uma parcela significativa do trigo consumido no país, com qualquer especificação de qualidade industrial, desejada pela indústria moageira nacional.
Na década de 80, entidades de pesquisa, de extensão e cooperativas formaram a Comissão Centro-Brasileira de Pesquisa de Trigo, que, lideradas pela Embrapa, através do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo) e do Centro Nacional de Pesquisa dos Cerrados (Embrapa Cerrados), desenvolveram tecnologias para produção de trigo na região do cerrado brasileiro, nos estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e uma pequena parte ao sul de Mato Grosso, sob condições de sequeiro e irrigado. Desse trabalho conjunto de várias Instituições, Centros de Pesquisa da Embrapa, Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO), pesquisa estadual (Emgopa hoje extinta, Epamig, Emater), Universidades e Cooperativas foram geradas as tecnologias básicas (recomendações) para produção de trigo na região. Nessa época, a contribuição e intercâmbio com o CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo), situado no México, foi de grande importância, na medida em que seu germoplasma de trigo era e ainda é aproveitado diretamente pelas Instituições de pesquisa na Região, que após selecionado, era repassado aos agricultores, na forma de cultivares.
Hoje, vinte anos depois, a Embrapa Trigo junto com as Unidades de Pesquisa da Embrapa da região, Embrapa Cerrados e Embrapa Arroz e Feijão, sentiram a necessidade de adequar essas parcerias às novas demandas de trigo no Brasil Central, redirecionando o foco da pesquisa para o mercado local. Foram conclamados vários setores da cadeia produtiva de trigo da região, Órgãos Estaduais de Pesquisa, Universidades, Cooperativas, Associações de Produtores, indústria de insumos e indústria moageira que de certa forma estão avalizando a importância da cultura de trigo. Dentre as tecnologias geradas nesse período e as demandas futuras, destacam-se algumas, que resumimos a seguir e que julgamos de maior importância para o cultivo de trigo no Brasil Central.
A região dispõe de duas opções de cultivo para trigo, dependendo da época em que será semeado: o cultivo de sequeiro e o cultivo irrigado. É importante no planejamento da lavoura, o agricultor definir a opção de cultivo, pois dela dependerá toda a seqüência de tecnologias a serem usadas, desde a região de melhor adaptação até a cultivar adotada. Esse privilégio passa despercebido, se olharmos as áreas semeadas com trigo na região, tanto em cultivo de sequeiro como irrigado, as quais não passaram de 15 mil hectares na safra de 2000.
O cultivo de trigo de sequeiro é indicado em áreas com altitude acima de 800 metros, visando temperaturas médias não superiores a 25ºC, durante o desenvolvimento da cultura. Em altitudes menores os riscos aumentam, na medida em que as temperaturas médias também aumentam, exigindo da cultura maior tolerância ao calor e às manchas foliares. A pesquisa vem trabalhando no sentido de ampliar o horizonte da cultura de trigo para áreas de menores altitudes, desenvolvendo cultivares mais tolerantes a esses estresses, característicos do cultivo de sequeiro. Nesse tipo de cultivo, o potencial de rendimento da cultura está associado à quantidade de chuvas que ocorrerão durante o ciclo da mesma, sem considerar a cultivar adotada.
O plantio direto vem crescendo na região, sendo adotado mais no cultivo de trigo de sequeiro em que a retenção de água no solo é importantíssima, além do trigo ser uma cultura com razoável produção de palha para o sistema. Numa expectativa de poucos anos, talvez o trigo se torne a locomotiva do plantio direto no sequeiro na região, pelas suas características intrínsecas e, ao mesmo tempo, promovendo sustentabilidade para o sistema agrícola do cerrado.
No caso do cultivo de trigo irrigado por pivô central, é indicado usar áreas acima de 400 metros de altitude. Esse tipo de cultivo poderia ser uma rotina no sistema de rotação de culturas sob pivô central usado na região, uma vez que o trigo “quebraria” o ciclo das chamadas “cash crops”, como é o caso do feijão e de algumas olerícolas, tais como alho, cenoura, cebola, batata. A vantagem do cultivo irrigado é de que os riscos são mínimos, desde que o agricultor use a tecnologia disponível para trigo. O potencial de rendimento de grãos é elevado, sendo um determinante importante para a lucratividade da lavoura de trigo irrigado. Normalmente os agricultores experientes têm obtido produtividade acima 5 mil kg/ha com as cultivares disponíveis no mercado atualmente. Depoimentos desses agricultores se resumem em excelente lucratividade com a lavoura de trigo irrigado no Brasil Central, muitas vezes maiores do que com a lavoura de feijão irrigado.
Além desses dois sistemas de cultivo, existem variantes dos mesmos, adotados pelos próprios agricultores de acordo com a sucessão de culturas usada na propriedade, época de semeadura alternativa àquelas indicadas pela pesquisa, e que de certa forma tem tido bons resultados, pelo uso da irrigação racionalizada como garantia de colheita de trigo.
O manejo da água no cultivo de trigo irrigado exige acompanhamento criterioso da assistência técnica ou de profissional especializado, uma vez que representa fator importante no custo de produção e também pelo tipo de solos predominantes na região de Cerrados, os quais apresentam baixa retenção de água.
As cultivares de trigo indicadas para a região do Brasil Central estão apresentadas na Tabela 1
, conforme estado, tipo de solo e tipo de cultivo (sequeiro ou irrigado), além de algumas características agronômicas, enquanto na Tabela 2 são informadas as reações a presença de alumínio tóxico no solo e à algumas doenças fungicas. Um dos problemas enfrentados pelos agricultores na região Central do Brasil, é quanto à disponibilidade de sementes das cultivares indicadas. Para muitas não há disponibilidade de semente no mercado, por diversas razões. Entre elas, referimos a falta de confiança do produtor de semente da região na comercialização da próxima safra, entregando muitas vezes a totalidade de sua produção de trigo para a indústria. O preço da semente em geral é caro, R$ 100 a 130/ha, comparado com outras regiões do país. A falta de informações sobre as cultivares constitui outro fator de desestímulo, associado à falta de planejamento da lavoura de trigo, levando em conta o destino da mesma para a indústria moageira. A região é grande e abrangente em termos geográficos, necessitando incentivos do governo federal. A conjuntura atual da cadeia produtiva de trigo exige, do setor como um todo, maior integração desde a porteira até a indústria moageira. A Embrapa vem trabalhando no sentido de atuar mais intensamente com a cadeia produtiva de trigo na região, melhorar as relações entre seus integrantes, que na maioria das ocasiões não se conhecem. Ao mesmo tempo, a pesquisa vem procurando ajustar a criação de cultivares à nova realidade de mercado, com maior competitividade e melhor regionalizadas.
Entre as cultivares com semente disponível no mercado e, portanto, que podem ser adquiridas pelos agricultores da região, temos para cultivo de sequeiro: BR 26 (São Gotardo) e IAC 350 (Goiapá), que podem ser encontradas na região de São Gotardo (MG), com a Coopadap. A cultivar Embrapa 21 pode ser adquirida na Embrapa através do Serviço de Negócios Tecnológicos, na unidade de Brasília (DF). Na região do Sudoeste Goiano, entraram cultivares para cultivo de sequeiro de outras regiões do país, do Mato Grosso do Sul e Norte do Paraná, que não foram indicadas pela pesquisa, pois havia falta de resultados de testes das mesmas nessa região, mas por outro lado tinham a garantia de comercialização com a indústria moageira local. No caso do cultivo irrigado, há disponibilidade de semente de cultivares como EMBRAPA 22, que pode ser encontrada na Embrapa e na região de Unaí e Paracatu, em Minas Gerais, e BR 26 São Gotardo e IAC 289 Marruá na Coopadap, em São Gotardo, MG. A cultivar EMBRAPA 42 está polarizada no eixo Distrito Federal e sudoeste Goiano, podendo ser encontrada também na Embrapa e na COOPA-DF, Cooperativa localizada no Plano de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, na BR 251.
Constitui-se ferramenta de extrema importância para o sucesso da lavoura de trigo na região do Brasil Central. As indicações de época de semeadura são baseadas nas características de cada região e no regime de cultivo de sequeiro ou irrigado.
Para trigo de sequeiro, em que se indica a semeadura em altitudes superiores a 800 metros, para MG, DF, GO e MT, recomenda-se a semeadura de 15 de janeiro até o final de fevereiro, prolongando-se esta época até 10 de março para o Alto Paranaíba (MG). Para a região do Projeto de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), São Gotardo, MG, a data de plantio poderá se estender até 25 de março.
Para cultivo de trigo irrigado e trigo irrigado em várzeas pode-se indicar a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, em altitudes acima de 400 metros, nos estados de Minas Gerais e Bahia; acima de 500 metros para Goiás e Distrito Federal; e acima de 600 metros para Mato Grosso. Na Bahia, na região de Barreiras, dentro do Projeto de Irrigação São Desidério, indica-se o plantio a partir de 10 de abril a 31 de maio.
Para cultivo de trigo irrigado em áreas de várzeas, deve-se obedecer as seguintes condições: altitude mínima de 400 m, para MG e BA, de 500 m para GO e DF e de 600 m para MT; várzeas com boa drenagem; adubação com Boro, de acordo com a recomendação; utilização das demais recomendações técnicas para trigo irrigado; exclusão das várzeas com solos orgânicos ou turfosos e das regiões com ocorrência de geadas freqüentes.
Nessas áreas, indica-se a semeadura de 15 de janeiro até final de fevereiro, prolongando-se até 10 de março para o Alto Paranaíba (MG). Para a região do Projeto de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), São Gotardo, MG, a data de plantio poderá se estender até 25 de março.
Sugere-se atenção quando do planejamento da lavoura de trigo quanto às épocas de semeadura indicadas, tanto no sequeiro como no irrigado, pois quanto mais cedo for estabelecida a lavoura dentro da época indicada, maior o potencial de rendimento de grãos.
A densidade recomendada para trigo de sequeiro é de 350 a 450 sementes aptas por metro quadrado. Em solos de adequada fertilidade, sem alumínio trocável, deve-se usar 350 sementes aptas por metro quadrado.
O espaçamento recomendado para trigo de sequeiro é de 12 a 18 cm, entre linhas, dando-se preferência aos espaçamentos menores dentro desse intervalo. A profundidade de semeadura não deve ultrapassar 5 cm. Deve-se dar preferencia à semeadura em linha, pela melhor uniformidade na distribuição de sementes e pela melhor eficiência no aproveitamento do fertilizante pelas plântulas.
Muitos agricultores têm semeado trigo com espaçamentos maiores que os indicados, pela falta de semeadoras apropriadas. Nessas condições, o trigo levaria mais tempo para cobrir o solo, que em cultivo de sequeiro as perdas de água do solo seriam maiores.
A monocultura contínua, com o passar dos anos, provoca queda de produtividade, não só por alterar características do solo, como também por proporcionar condições mais favoráveis ao desenvolvimento de doenças e à ocorrência de pragas e de plantas invasoras.
Em áreas de monocultivo de tomate, feijão, e outras leguminosas, a incidência de doenças como a Esclerotínia, Rizoctoniose e Fusariose, tem provocado queda significativa na produtividade dessas culturas e aumento em seus custos de produção. O trigo, por não ser hospedeiro dessas doenças, constitui-se, no momento, na principal alternativa para a rotação de culturas, no período de inverno, com o tomate, com o feijão e com outras leguminosas.
O cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada varia em função do pH do solo e de outros fatores, como, por exemplo, do teor de argila. Assim, em solos com teor de argila acima de 20%, o cálculo é baseado nos teores de Cálcio (Ca), de Magnésio (Mg) e de Alumínio (AI) trocáveis do solo. Do ponto de vista econômico, a calagem deve ser considerada como investimento. Assim, no cálculo de sua economicidade, devem ser considerados períodos de amortização ao redor de 5 a 6 anos. Essa prática corresponde entre 12 a 15% do custo global do investimento para “construção” da fertilidade do solo. Por esta razão, essa operação deve ser efetuada corretamente, seguindo-se todas as recomendações. Deve-se ter em mente que o uso de doses inferiores das recomendadas podem resultar na queda da produtividade, requerendo reaplicações mais freqüentes.
Para obtenção de elevada produtividade com a cultura de trigo na região de Cerrados, é imprescindível proceder-se a uma adubação equilibrada. Como os solos dessa região são pobres em fósforo e em potássio, torna-se necessária a aplicação de grandes quantidades destes nutrientes. Para se fazer uma recomendação criteriosa de adubação fosfatada, deve-se conhecer o plano de utilização da propriedade, incluindo a seqüência de culturas, o prazo de utilização das áreas e a expectativa de produção, devendo-se consultar um engenheiro agrônomo.
A adubação nitrogenada deve ser feita em duas etapas: no plantio e no início do estádio de perfilhamento, quando ocorre o processo de diferenciação da espiga. Este estádio ocorre cerca de 14 dias após a emergência das plântulas. Tanto para trigo de sequeiro quanto para trigo irrigado, recomenda-se a aplicação de 20 kg de nitrogênio por hectare, por ocasião da semeadura. Para o trigo de sequeiro, cujo potencial de rendimento é menor que o irrigado, recomenda-se a aplicação de 20 kg/ha, em cobertura, no perfilhamento, exceto para a cultivar BR 26, cuja dose deve ser de 40 kg/ha.
Para trigo irrigado, cujo potencial de produção é mais elevado, recomenda-se doses maiores em cobertura, respeitando-se as características de cada cultivar em relação ao acamamento, ao manejo da água de irrigação e aos cultivos anteriores. Após a cultura de soja, a adubação de nitrogênio para algumas cultivares indicadas na Tabela 1 deve ser de: 60 kg/ha para EMBRAPA 22, EMBRAPA 42 e BR 26 São Gotardo; e 100 kg/ha para BR 33 Guará. Quando trigo é plantado após a cultura de milho, sugere-se que a adubação em cobertura seja acrescida em 30%.
Chama-se a atenção sobre os solos da região que são pobres em boro, podendo causar o chamado “chochamento” em trigo, pela esterilidade masculina ou do pólen. Esse problema pode ser evitado pela aplicação de boro via adubação, incorporando-o no adubo por ocasião da semeadura, na dose de 0.65 a 1.3 kg/ha de boro, devendo-se considerar o efeito residual do boro que é de 2 a 3 anos, dependendo da fonte usada.
As doenças mais comuns da cultura de trigo em cultivo de sequeiro e irrigado na região do Brasil Central são oídio, ferrugem da folha e manchas foliares. Podem ocorrer outras doenças, evidentemente, dependendo das condições de solo, ano e sistema de produção usado. É importante o tratamento de sementes, devendo ser realizado tanto no cultivo de sequeiro quanto no irrigado. Em aplicações na parte aérea deve-se seguir um monitoramento criterioso da lavoura, devendo-se ter acompanhamento da assistência técnica, pois o custo de cada aplicação situa-se em torno de R$ 30/ha. No cultivo de sequeiro as manchas foliares são doenças mais importantes. A mancha marrom e a bronzeada podem prevalecer. No cultivo irrigado pode ocorrer oídio e ferrugem da folha.
Já em termos de pragas, podem aparecer pulgões na fase de emergência até o emborrachamento do trigo. As lagartas podem aparecer durante o ciclo da cultura. Na emergência, prejudicam o estabelecimento da cultura; no espigamento e final de ciclo, prejudicam a área foliar e as espigas, dependendo do tipo de lagarta ocorrente. O controle de pragas deve ser acompanhado pela assistência técnica.
Superados os desafios inciais no passado, quando a pesquisa desenvolveu o pacote tecnológico para produção de trigo em regiões não tradicionais, como o Brasil Central, predominando o Cerrado, enfrenta-se hoje uma nova realidade. A indústria moageira apresenta demanda de trigo predominantemente com qualidade industrial para panificação. As cultivares de trigo atualmente usadas na região atendem parte da demanda da indústria, havendo necessidade de criação de novas cultivares. Com isso, a terceira onda de desafios estabelece, de forma clara, como prioridade para a pesquisa, obtenção de cultivares com alto padrão qualitativo para o fim industrial a que se destinam e um menor tempo e eficiência para atingir estes objetivos.
Nesse sentido, a Embrapa vem colocando em execução um projeto inovador em termos de pesquisa, em que técnicas de avaliação de parâmetros de qualidade através de marcadores bioquímicos e a técnica de produção de linhagens duplohaplóides estão sendo usadas, resultando na maior eficiência e rapidez de obtenção de novas cultivares de trigo.
No melhoramento genético de trigo, essas técnicas permitem acelerar o processo de criação varietal, com conseqüente ganho de tempo, aumento na eficiência da seleção e economia de recursos físicos, humanos e financeiros. Além disso, permite antecipar ganhos econômicos no lançamento de cultivares mais produtivas.
Na Embrapa Trigo, estas metodologias (haplodiploidização e marcadores protéicos) são inteiramente dominadas, fazendo parte, e com sucesso, da rotina dos diferentes projetos de melhoramento desta unidade de pesquisa.
Nessa expectativa, a Embrapa pretende atender melhor o sistema de produção de trigo do Brasil Central nesse inicio do novo milênio, disponibilizando ao agricultor e às indústrias, cultivares de trigo com características superiores àquelas do trigo importado.
e
Embrapa Trigo;
Embrapa Cerrados;
Embrapa Arroz e Feijão;
Embrapa Arroz e Feijão
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