Controle químico do inseto vetor do greening

Na luta contra o Greening, a doença mais destrutiva já registrada em citros no Brasil, o combate químico ao inseto vetor é uma das principais ferramentas disponíveis

07.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

O Greening (Huanglongbing/HLB), a mais destrutiva doença dos citros no Brasil, tem recebido destaque na última década. Isso pode ser explicado pela importância econômica da citricultura para o Brasil e pela inexistência de variedade comercial de copa ou porta-enxerto resistente à doença. Por outro lado, a impossibilidade de cura para as plantas contaminadas contribui para que a doença seja responsável por severas perdas na citricultura atualmente.

O HLB afeta tanto o custo operacional do citricultor, que implica em mais gastos para manter o controle da doença com inspeções, pulverizações, erradicações e replantio, quanto na receita, porque limita a produtividade dos pomares.

É uma doença causada pela bactéria gram-negativa do gênero Candidatus Liberibacter, restrita ao floema das árvores, que possui dois hospedeiros nos quais se multiplica: a planta e o inseto vetor (Diaphorina citri). Estas bactérias são patogênicas às plantas e causam poucos danos aos insetos hospedeiros. Atualmente, são conhecidas três raças de bactérias causadoras do Greening: asiática (Candidatus Liberibacter asiaticus), africana (Candidatus Liberibacter africanus) e americana (Candidatus Liberibacter americanos).

No Brasil, o primeiro relato da doença, bem como o primeiro caso das Américas, ocorreu em março de 2004, no município de Araraquara, São Paulo, sendo diagnosticada a bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus e, posteriormente, o descobrimento da nova espécie, até então desconhecida, Candidatus Liberibacter americanos.

DANOS

Os prejuízos nas árvores de citros são variáveis, podendo atingir e se manifestar apenas em alguns locais com pequenos danos. Mas em outros casos pode atacar a planta inteira, ocasionando a perda total da produção, inclusive a morte da planta. Os sintomas nas folhas podem ser de dois tipos: primários, caracterizados pelo amarelecimento ao longo das nervuras e às vezes com desenvolvimento de manchas irregulares; e secundários, com o surgimento de folhas pequenas, verticais e com clorose similar à deficiência de zinco e de ferro. Os frutos são reduzidos, assimétricos e de sabor amargo, provavelmente pela alta acidez e baixa quantidade de açúcar. Apresentam queda prematura e os que continuam na árvore não desenvolvem a coloração madura, permanecendo verdes. Outro ponto prejudicado são as raízes, que apresentam pequeno desenvolvimento.

Controle

A estratégia de manejo mais utilizada atualmente consiste no controle do vetor da doença, Diaphorina citri Kuwayama (Hemiptera: Psyllidae). Entre as principais técnicas de combate ao inseto está o controle químico, considerado como ferramenta importante para reduzir a disseminação e transmissão dos patógenos. Contudo, o controle biológico tem se mostrado promissor, além de ser uma alternativa sustentável que permite reduzir os danos causados pelo inseto vetor.

Em pesquisas realizadas pelo Instituto Biológico de São Paulo (Laboratório de Controle Biológico) em Campinas (SP) a patogenicidade do fungo Beauveria bassiana a ninfas de Diaphorina citri foi realizada com o uso do isolado IBCB 66, nas concentrações de 5x106, 1x107, 5x107, 1x108, 5x108 e 1x109 conídios/ml para se estimar a CL50/90 e TL50/90.

O entomopatógeno Beauveria bassiana IBCB 66 foi confirmado como potencial agente de controle biológico de ninfas de D. citri, pois além de causar mortalidade acima de 40% em todas as concentrações, afetou a fisiologia do inseto e causou mortalidade durante o processo de ecdise. As maiores concentrações de inóculo causaram também as taxas mais altas de mortalidade, confirmadas pela visualização dos tegumentos encurvados, bem como pela não fixação das pernas e aparato bucal na planta hospedeira, tendo se notado sintomas de desidratação, demonstrados pelo arqueamento ventro-dorsal, e visível perda de volume dos corpos, ainda sem qualquer indício de esporulação do fungo. Os insetos que apresentaram colonização pelo patógeno e crescimento micelial foram considerados mortos pelo fungo. A concentração que provocou a morte de 50% (CL50) dos insetos de uma população, após dez dias avaliação, foi a de 0,4x107 conídios ml1. O menor tempo letal (TL50) foi de 5,7 dias, obtido com a maior concentração (1x109).

Compatibilidade

Neste mesmo trabalho foi avaliada a compatibilidade de Beauveria bassiana com produtos fitossanitários, sendo avaliados tanto em condições de laboratório quanto em casa de vegetação cinco inseticidas (malationa 1000 EC, imidacloprido 200 SC, tiametoxam 250 WG, piriproxifen 100 EC e esfenvalerato 150 SC e um extrato vegetal (Azadirachta indica), observando-se o crescimento vegetativo, conidiogênese e viabilidade do fungo.

A malationa foi o produto mais prejudicial ao crescimento de B. bassiana em meio de cultura, com 35,67% de redução da viabilidade. Imidacloprido, tiametoxam, piriproxifen, esfenvalerato e extrato de nim reduzem o crescimento do isolado IBCB 66 em condições de laboratório, mas não afetam a sobrevivência do fungo nas plantas de citrus, em casa de vegetação, ou seja, todos os produtos se mostraram compatíveis com o fungo. Quanto aos índices biológicos e a classificação dos produtos, o imidacloprido, nim, tiametoxam, esfenvalerato e piriproxifen foram classificados como moderadamente tóxicos (MT), e malationa como tóxico (T). Observou-se que a toxicidade dos produtos foi maior nos ensaios com meio de cultura que nos ensaios em casa de vegetação. Isto ocorre porque a homogeneidade do meio facilita a distribuição do produto e promove ação rápida e efetiva sobre o fungo, o que provavelmente não ocorre no ambiente. No meio de cultura, há contato permanente do patógeno com a elevada concentração do produto e não ocorre degradação do produto químico pela incidência de radiação solar.

O estudo de compatibilidade, para simular a aplicação real a campo, evidenciou que os produtos não afetaram a sobrevivência do inóculo nas plantas, quando aplicados anteriormente a B. bassiana. O estabelecimento do tempo mais adequado para a aplicação é importante para programas de controle biológico, manejo integrado de pragas ou produção integrada de frutas.

A demanda crescente pela proteção ambiental tem despertado o interesse pela adoção de métodos mais sustentáveis no controle de pragas, em prol da redução do uso abusivo dos agroquímicos e da diminuição dos riscos de contaminação ambiental.

O controle microbiano do vetor do HLB surge como uma alternativa promissora, que auxiliará na recuperação do equilíbrio do ecossistema e contribuirá juntamente com outros métodos para a diminuição dos focos da doença.

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