Frutos enegrecidos: manejo da podridão-preta-do-fruto do maracujá
Causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae a podridão-preta-do-fruto em maracujazeiro favorece a ocorrência de problemas pós-colheita
A ramulária, causada pelo fungo Ramularia aréola Atk, também registrada como míldio, falso oídio ou mancha branca, considerada há dez anos como doença de ocorrência no final de ciclo na cultura do algodão, tem ocorrido nas fases iniciais da lavoura e ocupa atualmente o status de uma das doenças de maior importância da cultura no Cerrado, exigindo elevado número de aplicações de fungicidas muitas vezes sem o sucesso esperado.
Os sintomas se manifestam em ambas as faces da folha, de início, principalmente na face inferior, com lesões angulosas entre as nervuras, medindo, geralmente, de 1mm a 3mm, inicialmente de coloração branca-azulada na face inferior das folhas mais velhas, posteriormente amarelada e de aspecto pulverulento, caracterizado pela esporulação do patógeno. No caso de alta severidade, as manchas coalescem e provocam a queda precoce das folhas. A dispersão do patógeno é bastante rápida e perdas significativas podem ocorrer se intervenções de controle não forem adotadas em tempo hábil.
Com o aumento da área plantada com algodão no Cerrado, a ramulária passou a ocorrer mais cedo, principalmente quando a copa da planta começa o sombreamento intenso das folhas mais velhas, aliada às condições de alta umidade e de provável acúmulo de inóculo primário.
O fungo R. areola tem encontrado, no modelo produtivo adotado no Cerrado do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, condições favoráveis para sua sobrevivência e desenvolvimento. Sua ocorrência cada vez mais precoce em lavouras comerciais, a ausência de genótipos com alta resistência, o escasso volume de informação quanto à sua epidemiologia e a intensidade da desfolha provocada têm direcionado o controle de R. areola ao uso de fungicidas sistêmicos. As poucas informações sobre a sobrevivência do patógeno dão conta da observação de importante produção de esporos em folhas recém-caídas e da sua manutenção em plantas voluntárias no período da entressafra. É provável que o fungo possa sobreviver em condição saprofítica em restos de cultura. Este inóculo primário estará disponível à cultura nas fases precoces da safra seguinte, desde que condições de má destruição de soqueira e umidade elevada sejam observadas.
A ramulária tem alcançado níveis de precocidade alarmantes em lavouras de algodão do Oeste baiano e no Médio-Norte mato-grossense, tendo sido registrada nas últimas três safras nas fases de folha cotiledonar e unifoliada (folhas cordiformes). Essa condição, tipicamente associada ao cultivo contínuo do algodão e à destruição parcial das soqueiras resultando em acúmulo de inóculo de R. areola, tem levado produtores a realizarem número excessivo de pulverizações com baixa eficiência na contenção do inóculo inicial. Em consequência dessa alteração no padrão epidemiológico da doença, o controle químico desponta como uma das táticas de manejo mais procuradas na redução da taxa de progresso da doença no campo.
Controle químico
O uso de fungicidas para a redução do inóculo de R. areola tem sido a medida mais utilizada por produtores de algodão no Centro-Oeste. A recomendação para o uso de programas de controle químico da ramulária em algodão indica que a 1ª aplicação de fungicidas deve ser feita quando ocorrer até 5% de área foliar infectada sem a característica esporulação pulverulenta no terço inferior das plantas, ainda que esta condição ocorra antes dos 40 dias a 45 dias após a semeadura.
Nas lavouras de algodão das regiões Norte, Sul e Centro-Sul de Mato Grosso são realizadas de seis a sete aplicações de fungicidas em programas de controle da ramulária, enquanto lavouras da região Médio-Norte do Estado (municípios de Sapezal, Campos de Júlio, Campo Novo do Parecis, Diamantino e Deciolândia) têm reportado cerca de 12 aplicações a 14 aplicações. Em variedades suscetíveis, a resposta da redução da severidade da ramulária à aplicação de fungicidas tem se mostrado linear até um máximo de seis aplicações, enquanto variedades com grau moderado de resistência respondem até a 3ª aplicação. Ganhos em produtividade em algodão têm sido obtidos a partir de quatro aplicações calendarizadas de fungicidas ou com base no monitoramento da doença, estabelecido o limite de 5% de infecção na face dorsal das folhas do terço inferior das plantas como parâmetro para a pulverização.
A discrepância entre os resultados experimentais e a situação encontrada nas lavouras comerciais pode, possivelmente, ser creditada ao monitoramento inadequado do quadro sintomatológico da doença, a um estreito intervalo entre aplicações com sobreposição de efeito residual dos princípios ativos utilizados nos programas e ao uso de produtos de baixa eficiência de controle.
Tratamento de sementes
As sementes de algodão apresentam papel fundamental no estabelecimento da lavoura, sendo também o principal veículo de disseminação e sobrevivência de vários patógenos de importância para a cultura. O uso de sementes livres de contaminações e infecções ou dentro de padrões de tolerância estabelecidos para a cultura é o método mais adequado para reduzir a sobrevivência e a disseminação de patógenos veiculados através das sementes. Nesse sentido, considera-se a semente ideal aquela livre de qualquer patógeno, seja pela condução rigorosa, do ponto de vista fitossanitário, das áreas de produção de sementes, seja pela aplicação de tratamento químico ou biológico adequado.
O fungo R. areola ainda não foi relatado sobrevivendo sobre ou no interior de sementes de algodão. Contudo, sua possível presença como inóculo inicial em restos de cultura e em condições climáticas adequadas pode favorecer a infeção nas fases iniciais de desenvolvimento das sementes, infectando folhas cotiledonares, cordiformes ou lobadas nas primeiras semanas após a emergência da cultura. Neste caso, o aumento do número de aplicações de fungicidas e a elevação do custo de produção são consequências inevitáveis. Em muitas lavouras do Cerrado do Centro-Oeste e Nordeste, a ramulária tem sido detectada entre sete e 14 dias após a emergência, período extremamente precoce para uma infecção que normalmente deve ser observada a partir de 40 dias.
Com o objetivo avaliar o efeito de fungicidas aplicados às sementes de algodão na ocorrência da infecção precoce provocada por R. areola em condições favoráveis, foi conduzido um experimento em área de cultivo de algodão no município de Jaciara, Mato Grosso, no ano agrícola 2013. Naquela oportunidade, a lavoura apresentava sintomas de ramulária aos sete dias após a emergência e já havia recebido duas aplicações de fungicidas (quatro e sete dias). Ainda sob intensa precipitação, foram semeadas nas mesmas linhas de plantio da lavoura sementes tratadas com diferentes fungicidas tradicionalmente utilizados ou diferentes combinações de ingredientes ativos ainda não registrados para aplicação em tratamento de sementes na cultura, totalizando 12 tratamentos (Tabela 1) além de sementes não tratadas (testemunha).
A partir da emergência foram avaliados o estande inicial (sete dias após a emergência), o final (14 dias após a emergência), a incidência (porcentagem de plantas sintomáticas) e a severidade (porcentagem de tecido infectado) da doença a cada semana até os 56 dias após a emergência.
O estande inicial não foi influenciado pelos tratamentos aplicados às sementes. Contudo, aos 14 dias após a emergência, todos os tratamentos promoveram aumento do número de plântulas emergidas em relação à testemunha. O maior estande final foi proporcionado pela mistura tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes).
A incidência de sintomas de ramulária foi observada nas parcelas plantadas com sementes não tratadas a partir de 14 dias após a emergência. A aplicação da mistura dos ingredientes ativos pyraclostrobin + epoxiconazole + fluxapyroxad (200ml/100kg de sementes) ou bixafen (60ml/100kg de sementes) proporcionaram um atraso na incidência dos primeiros sintomas da ramulária de 35 dias. Estes dois tratamentos, além da mistura registrada tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes), foram responsáveis pelas menores incidências de plantas sintomáticas durante o período de avaliação.
A severidade da doença, expressa pela porcentagem de tecido lesionado, foi menor até os 56 dias nas plantas oriundas de sementes tratadas com tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes) e com as misturas carbendazim + trifloxystrobin (100 + 20ml/100kg de sementes) ou pyraclostrobin + epoxiconazole + fluxapyroxad (100 ml/100kg de sementes). É importante ressaltar que todos os tratamentos aplicados às sementes mantiveram a severidade da ramulária inferior a 5% de tecido lesionado até os 35 dias após a emergência, sem a necessidade de suplementação de fungicidas na parte aérea. Aos 42 dias, esta condição ainda foi proporcionada pelos tratamentos tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes), carbendazim + trifloxystrobin (100 + 20ml/100kg de sementes), tolyfluanid + carbendazim + triadimenol (100 + 100 + 200ml/100kg de sementes) e pyraclostrobin + epoxiconazole + fluxapyroxad (100ml/100kg de sementes).
Estes resultados revestem-se de importância no manejo da ramulária nas condições de cultivo do algodão no Cerrado, permitindo uma maior adequação do uso de fungicidas na parte aérea da cultura e, consequentemente, uma redução dos custos de produção. Vale lembrar ainda que alguns dos princípios ativos utilizados neste trabalho não estão registrados para o tratamento de sementes de algodão e, portanto, os resultados obtidos não se constituem em recomendação.
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