Na batida certa: distribuição de plantas na área de cultivo
Por Eduardo Lima do Carmo, Carlos Eduardo Leite Mello, Luiz Fernando Ribeiro Júnior, João Vitor Alves de Sousa e Gustavo André Simon, da Universidade de Rio Verde
11.01.2024 | 15:40 (UTC -3)
O cultivo de soja em sistema de plantio direto associado às plataformas tecnológicas de manipulação varietal modificaram, consideravelmente, o cenário agrícola brasileiro. Todavia, o aumento da produtividade se faz necessário, pois é fator crucial para o suprimento alimentar animal e humano e sustentabilidade do agronegócio, sobretudo, o aperfeiçoamento das técnicas de cultivo. Dentre essas, por exemplo, a distribuição espacial de plantas na área agricultável, a qual pode ser modificada pelo número dessas na linha de cultivo, assim como a distância entrelinhas de semeadura.
Há vários arranjos espaciais de implantação da soja, como o adensado, cruzado, fileiras duplas e o tradicional (Figura 1). Para o segundo, particularmente, não só a mudança na densidade e espaçamento entrelinhas, mas o sentido de semeadura também é variado. Técnicas designadas ao arranjo de plantas, dentre outros aspectos, podem inferir em melhor captação de luz, permitindo maior interceptação da radiação nas folhas da parte inferior da planta na fase inicial de desenvolvimento. Com isso, ocorrerá maior aproveitamento da luz para o processamento de fotossíntese com aumento significativo de fotoassimilados e, consequentemente, a obtenção de maiores produtividades de grãos (Rambo et al., 2003).
O espaçamento entrelinhas de semeadura, por sua vez, é um dos principais fatores que alteram a distribuição de plantas no campo. Contudo, seu estreitamento pode estabelecer características diferenciadas do ponto de vista da fisiologia da planta, patogênese e tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas (Madalosso et al., 2010).
Independentemente do arranjo espacial empregado, alterações na densidade de plantas podem resultar em impacto na relação artrópode-planta. A variação do número de plantas por área, por exemplo, poderá modificar o ambiente em que estão inseridas interferindo sobretudo, na intensidade dos raios solares que atingirão as folhas dos terços médio e inferior, influenciando no microclima (umidade e temperatura) que é um fator preponderante para o desenvolvimento de uma população de pragas (Rodrigues, 2011).
Portanto, o monitoramento das pragas por diferentes métodos de amostragem é fundamental para que a decisão de controle seja tomada no momento correto, evitando-se possíveis prejuízos à produtividade. As vistorias das lavouras devem ser periódicas e, na soja, o método mais utilizado para monitoramento dos principais insetos da parte aérea é o pano de batida, que inicialmente foi introduzido nos EUA, sendo mais tarde modificado para as condições brasileiras.
Sendo assim, há necessidade de analisar a interação entre os arranjos de plantas e pragas. Isso poderá ser utilizado como ferramenta pelo produtor rural no manejo da cultura, favorecendo a sustentabilidade econômica da atividade agrícola. Para tanto, realizou-se uma pesquisa com objetivo de avaliar a infestação e controle de lagartas e deposição de calda em soja cultivada em diferentes arranjos espaciais de plantas.
O experimento foi instalado em área experimental da Universidade de Rio Verde, Goiás, na safra 2015/16 e conduzido no delineamento experimental de blocos completos casualizados com quatro repetições, constituídos por quatro arranjos de plantas: tradicional (0,5 m entrelinhas de semeadura); cruzado (0,5 m entrelinhas e 0,5 m entrelinhas em sentido perpendicular à primeira semeadura); fileiras duplas (0,25 m / 0,75 m de espaçamento dentro e entre as fileiras duplas, respectivamente) e adensado (0,25 m entrelinhas). A cultivar implantada foi Anta 82 RR (semi-determinada) em população de 500.000 plantas ha-1.
Após a emergência das plantas, iniciou-se o monitoramento semanal de lagartas, com uso do método de pano de batida (1,0 m de comprimento), em quatro pontos distintos por parcela (8 m x 8 m). Uma vez que os arranjos, adensado e cruzado, apresentavam o dobro de linhas de semeadura, e consequentemente, metade do número de plantas por metro linear, atribui-se o fator de multiplicação ao número de lagartas igual a 2, como forma de não subestimar o número de insetos. Para adoção das medidas de controle de lagartas levou-se em consideração a ocorrência dessas no arranjo tradicional, com 20 lagartas maiores que 1,5 cm por metro linear de semeadura e 15% de desfolha no período reprodutivo. Avaliou-se, também, a deposição de calda de pulverização (150 L ha-1) pelo emprego da metodologia de aplicação de traçador (corante alimentício azul brilhante FDC 1).
Inicialmente, a infestação de lagartas por metro linear de cultivo nos arranjos cruzado e adensado foi maior (Figura 3). Provavelmente, isso pode ser atribuído à melhor equidistância das plantas, que por sua vez, proporcionaram o fechamento mais rápido das entrelinhas no início do período reprodutivo, criando assim, microclima mais atrativo aos lepidópteros. É oportuno ressaltar que para avaliação de pragas nos arranjos cruzado e adensado, os valores foram multiplicados pelo fator 2. Diante disso, deve-se tomar cuidado quanto ao monitoramento de insetos, pelo método do pano de batida, quando a soja é cultivada em diferentes arranjos de plantas em relação ao tradicional (0,5 m entrelinhas). A subestimação da quantidade de pragas poderá mascarar o nível de controle, ocasionando prejuízos ao produtor rural.
Aos 57 DAE foi realizada a aplicação de teflubenzuron (18 g i.a.) para o controle de A. gemmatalis. Logo após, ocorreu uma pressão de infestação de C. includens, uma vez que foram necessárias três aplicações (semanais) para o seu controle. Após a aplicação de espinosade (24 g i.a.) aos 64 DAE observou-se efeito de igualdade de controle da praga entre as diferentes distribuições espaciais de plantas. O mesmo comportamento permaneceu semelhante após aplicações posteriores (71 e 78 DAE).
Embora os distintos arranjos de plantas de soja proporcionarem fechamentos de entrelinhas extemporâneos, não foram verificadas diferenças significativas do volume de calda depositado nos diferentes extratos do dossel. Tal fato, associado com o comportamento populacional das lagartas e, observado o controle semanal com aplicações de inseticidas, confirma a igualdade de ambiente condicionada pelos arranjos de plantas. Ou seja, para uma mesma população de plantas não houve diferença de ambiente para controle de lagartas, visto os diferentes arranjos espaciais de plantas.
De acordo com as pesquisas entomológicas, a ferramenta pano de batida possui medidas padronizadas, porém sua utilização deve ser repensada em alguns casos. Por exemplo: o esquema representa a situação de uma população de plantas estabelecida (400.000 plantas ha-1) em quatro diferentes distribuições espaciais e essas relacionadas com a técnica de batida de pano. Entre o tradicional e fileiras duplas não há distinção de aplicação da técnica, visto que se trata do mesmo número de plantas por metro linear. O mesmo raciocínio não pode ser utilizado para os demais (cruzado e adensado), pois o pano sobrepõe parte de linha(s) de cultivo. Dessa forma, as amostragens serão subestimadas, visto o menor número de plantas (metade). Portanto, há necessidade de empregar o fator de multiplicação 2 ou, dobrar o número de batidas de pano nesses arranjos.
*Por Eduardo Lima do Carmo, Carlos Eduardo Leite Mello, Luiz Fernando Ribeiro Júnior, João Vitor Alves de Sousa e Gustavo André Simon, da Universidade de Rio Verde
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