Sintomas de podridão e quebramento de hastes em soja se expandem na safra 2024
Por Flávia Elis de Mello, Sandra Marisa Mathioni, Stephane Pereira de Jesus, Eric Hirata e Douglas Braga Marques
Há algum tempo, o termo veículo global tem sido utilizado para designar automóveis que transcendem vários mercados e são comercializados em diversos países com a mesma especificação de modelo e características técnicas iguais. No Brasil, sempre foi tradição produzirem-se veículos bem particulares, com projeto próprio. Em alguns casos, algumas montadoras baseavam-se em modelos produzidos no exterior, que traziam particularidades semelhantes, porém com nome do modelo diferente e características técnicas adaptadas às condições do nosso país. Atualmente, esta realidade mudou e vários modelos de carros comercializados no nosso país, importados diretamente dos países de origem ou fabricados aqui, possuem as mesmas características e tecnologias.
Com os tratores não é diferente. A partir do início da produção de tratores agrícolas no país, no começo da década de 1960, ou seja, há pouco mais de 60 anos, saímos de uma condição de importação total, para uma capacidade de produção acima da demanda. E, na formação da oferta de cada fabricante, resultou por muitos anos a produção de modelos próprios, desenvolvidos para as nossas características agrícolas. Durante muitos anos, perdurou a crítica de que os nossos tratores eram muito simples, até básicos, e representavam um estágio adequado para as nossas condições, mas bem menos tecnológicos e seguros do que os produzidos no exterior. Sempre andamos atrás na questão tecnológica, adotando recursos ergonômicos e técnicos em defasagem com a situação dos países desenvolvidos, como aqueles aspectos ligados a conforto (cabina, comandos etc.), mas também com respeito à alta tecnologia embarcada, como conexão lógica e os recursos de agricultura de precisão, para mencionar alguns.
Com o aumento do uso da tecnologia no campo, os produtores, principalmente ligados ao agronegócio, passaram a pressionar as empresas fabricantes e montadoras a incluir nos modelos em oferta um grande número de dispositivos, para utilização de itens perfeitamente absorvidos pelos usuários, como a telemetria, o piloto automático, o sistema de injeção eletrônica, as cabinas premium, a intensa utilização do sistema hidráulico, as suspensões ativas, entre tantas melhorias.
Esta nova realidade gerou demanda e oportunizou aos fabricantes a inclusão de itens que anteriormente eram somente utilizados no mercado internacional, nos países mais desenvolvidos. Um novo padrão de trator foi nascendo aos poucos e aqueles modelos tradicionais foram sendo relegados a um nicho especial de mercado, cada vez mais restrito. De outra parte, esta maior e mais qualificada demanda passou a exigir um trator mais tecnológico e cada vez mais próximo do que se ofertava em mercados mais ricos.
Desta nova realidade, para o aumento da importação e produção no país de modelos globais foi um passo pequeno e que hoje é realidade nos portfólios de quase todas as empresas que atuam no Brasil. Para dimensionar esta realidade, saímos em busca dos tratores globais que estão sendo oferecidos no nosso país.
Para caracterizar tais modelos e possibilitar a avaliação, tivemos que utilizar alguns critérios restritivos. Em primeiro lugar, nos obrigamos a limitar o nosso campo de análise, restringindo o número de marcas a considerar. Pela dificuldade em obter números confiáveis de produção e vendas de todos os fabricantes, conhecendo o “share” de cada marca, decidimos envolver apenas marcas tradicionais com fábrica própria no nosso país e que estivessem entre os líderes de comercialização no Brasil. Desta forma, limitamos a pesquisa às marcas Case IH, John Deere, Massey Ferguson, New Holland e Valtra. Também limitamos a busca de informações a quatro mercados internacionais, Brasil, Estados Unidos, Espanha e França, ou seja, o mercado brasileiro, o estadunidense e o europeu, este representado por dois países.
Esperamos compreensão do nosso leitor, pois ampliar mais o estrato de marcas e mercados resultaria em um trabalho de difícil aquisição da informação e análise.
Para a definição do que seria um modelo global, utilizamos dois critérios: a designação do modelo e a potência máxima do motor. Para que um trator seja considerado global, no nosso critério, deve ser igual em especificação do modelo e na potência do motor. Mesmo assim, analisamos, não como globais, mas com características semelhantes, diversos outros modelos. São casos de tratores que são fabricados nos quatro mercados, porém, com modelo ou potência do motor diferente.
Neste ponto, há que se fazer referência a um tema muito importante que é a legislação de emissões, de particular cumprimento em cada país. O padrão estadunidense é o Tier; na Europa, a Euro e no Brasil, o Proconve MAR1. Isto pode provocar que os modelos dos tratores e seus motores sejam os mesmos, porém gerem diferentes potências, em função do nível de exigência da normativa que cumprem. É possível que ao aplicar diferentes normativas, sobre o mesmo motor, surjam diferentes limites de utilização e, por isto, resultem em diferentes valores de potências.
Mais uma questão importante se refere a outras marcas, além das que analisamos, e também alguns modelos destas cinco marcas e de outras que são fabricadas em outros mercados que não os que analisamos, Estados Unidos, Europa e Brasil. Pedimos compreensão aos leitores e interessados.
Depois de analisadas as ofertas nestes quatro países, surge um quadro bastante interessante, representativo do processo de produção agrícola de cada um destes locais, ou seja, a oferta depende em muito do tipo de agricultura praticado em cada lugar, mas também do mercado que a marca atinge a partir do país analisado. Para iniciar a busca dos modelos de tratores globais, faremos uma análise por marca e país.
A Case IH comercializa tratores nos quatro países analisados. Nos EUA oferece 83 modelos que vão dos menores a partir de 24,4 HP (unidade de potência utilizada nos EUA, 1 cv é igual a 1,0139 HP) até os 715 HP. Lá são oferecidas as séries Farmall Compact, Farmall Utility, Farmall, Vestrum Maxxum, Puma, Magnum, Optum e Steiger. No Brasil, a faixa de potência oferecida vai dos 80 cv aos 629 cv, com as séries Farmal, Puma, Magnum, Steiger e Quadtrac. Na França, são oferecidas as séries Quantum, Farmall, Vestrum, Maxxum, Puma, Optum, Magnum, Steiger e Quadtrac, com potência entre 75 cv e 715 cv. Por último, na Espanha são oferecidos 84 modelos de potência entre 55 cv e 715 cv, das séries Farmall, Vestrum, Puma, Optum, Magnum, Steiger e Quadtrac. Há várias séries ofertadas no exterior que não estão oferecidas no mercado brasileiro.
Portanto, analisando os quatro mercados, verifica-se que há vários modelos que são oferecidos nos quatro países, constituindo-se a marca Case IH como uma das que mais tratores globais oferecem. Da série Puma, os modelos Puma 185 e Puma 200; da série Magnum, os modelos Magnum 340, Magnum 380 e Magnum 400 são modelos globais, assim como o modelo Steiger 525.
A marca John Deere oferece modelos nos quatro mercados analisados. No mercado estadunidense, origem da marca, a John Deere oferece 103 modelos entre 21,5 HP e 830 HP, entre as séries 5000, 5100, 600, 6M, 6MH, 6R, 7R, 8R, 8RT, 8RX, 9R, 9RT e 9RX. No Brasil, as séries oferecidas se iniciam com a exclusiva para o nosso país, a 3000, com o modelo 3036EN, de apenas 36 cv, a 6100, 7200, 7M, 8000, 8R, 9R e 9RX, chegando a uma potência máxima de 819 cv, com um total de 46 modelos. Na França, a faixa de potência oferecida vai de 49 cv a 691 cv e engloba as séries 5000, 5100, 6M, 6MH, 6R, 7R, 8R, 8RT, 8RX e 9RX, com um total de 81 modelos. A John Deere espanhola oferta um total de 94 modelos diferentes de tratores, entre 49 cv e 913 cv, este o trator de maior potência da marca. As séries oferecidas são 5000, 5100, 6M, 6MH, 6R, 7R, 8R, 8RT, 8RX, 9R, 9RT e 9RX.
Analisando-se a oferta dos tratores globais da marca, verifica-se que os modelos 8R 410, 9RX 590 e 9RX 640, os de maior potência do portfólio da marca, são efetivamente globais, oferecidos em todos os mercados analisados.
O fabricante Massey Ferguson oferta modelos de tratores nos quatro países analisados. Nos EUA, são ofertados 62 modelos com opções de potência entre 22,5 HP e 425 HP, divididos entre as séries 1526, GC1700, 1800E, 1800M, 2600H, 2800E, 2800M, MF 3, 4700, 5700, 6700, MF 5M, 5S, 6S, 5M, 5S, 6S, 7S, 8S, 8700 S e 9S. No Brasil, são disponibilizados no mercado 39 modelos com potência entre 57 cv e 370 cv, que compreendem as séries 3300 Xtra, 3400, 4300, 4700, 5700, 6700, 6700R Dyna-4, 7300 Dyna-3, 7700 Dyna-6, 8700 S e 8S. Já na França, a fabricante oferece 61 modelos com potência entre 20 cv e 425 cv, nas séries 1500, 1700E, 1700M, MF 3, 4700M, 5700M, 5S, 5M, 6S, 7S, 8S, 8700 S e 9S. Por último, a marca oferece para o mercado espanhol 63 modelos de tratores, disponíveis nas potências entre 35 cv e 425 cv, distribuídos nas séries 1700E, 1700M, MF 3, 4700M, 5700M, 5S, 5M, 6S, 7S, 8S, 8700 S e 9S. As séries 4700, 5700 e 6700 são ofertadas no mercado brasileiro e no estadunidense. Na Europa, a série é designada com a letra M. Há informações de que esta série que é considerada global pela marca também é oferecida em outros países que não fizeram parte da nossa avaliação.
Desse modo, com os modelos organizados nestes quatros países, observa-se que os tratores globais da marca, segundo o nosso critério, são os da série 8S, modelos MF 8S.245, MF 8S.265, MF 8S.285 e MF 8S.305, bem como os da Série 8700 S, que compreende os modelos MF 8732 S e MF 8737 S.
A New Holland também oferece modelos nos mercados dos quatro países estudados. Nos EUA, disponibiliza em seu portfólio 64 modelos de tratores com potência entre 35 HP e 645 HP, divididos nas séries Workmaster, Boomer, T3F, T4, TK4, PowerStar, T5, T6, T7, T8 e T9. No Brasil, a marca oferece 41 modelos de diferentes potências, que vão de 55 cv a 646 cv, distribuídos nas séries TT, TTF, T3F, T4, TT4, TK4, TL5, 30, T5, T6, T7, T8 e T9. Já no mercado francês, são ofertados 104 modelos de tratores com opções de potência entre 24,7 cv e 435 cv, nas séries Boomer, T3F/LP, TK4, T4, T5, T6, T7 e T8. Por outro lado, na Espanha a empresa disponibiliza ao mercado 130 modelos com potência entre 24 cv e 417 cv, divididos nas séries Boomer, T3F/LP, TK4, T4, T5, T6, T7 e T8. Verifica-se que nas séries de alta gama de potência há um alinhamento entre os mercados estudados.
Ao observar a oferta da fabricante de tratores nestes quatro países, evidencia-se que o trator global é o modelo T7.260, que está presente na faixa de potência intermediária, entre os tratores comercializados.
A Valtra também está presente com oferta de tratores nos quatro países analisados. No mercado estadunidense, são disponibilizados 39 modelos de tratores com potência entre 75 HP e 425 HP, distribuídos nas séries F, A, G, N, T, Q e S. No Brasil, a marca está disponível em 44 modelos de tratores de diferentes potências, que vão de 57 cv a 375 cv, com as séries A2s, A2R, A3F, A4s, BM, A4, A4 HiTech, BH G4, BH HiTech, T CVT, Q e S. Na França, são ofertados 40 modelos de tratores com potência entre 75 cv e 425 cv, divididos nas séries F, A, G, N, T, Q e S. No mercado espanhol, a fabricante disponibiliza 36 modelos com potências que vão de 75 cv a 425 cv, nas séries F, A, G, N, T, Q e S. Verifica-se que a designação de uma só letra para as séries da Valtra é realidade em três dos mercados analisados e parece ser um alinhamento mundial, o que não ocorre no Brasil.
Considerando todos os modelos comercializados pela fabricante nos quatro países analisados, verifica-se que os modelos globais são da série Q, que correspondem aos modelos Q.265, Q.285 e Q.305.
Cabe a análise de uma marca em particular, fora do nosso comparativo, que é a Fendt. Aqui no Brasil a marca oferece quatro modelos importados, Fendt 1100 Vario MT, Fendt 1000 Vario, Fendt 900 Vario e Fendt 700 Vario Gen7. Todos estes modelos são produzidos no exterior e comercializados nos outros três mercados que analisamos. Embora não estejam enquadrados no nosso critério básico, há que reconhecer que são modelos globais, por comercialização.
O mercado de tratores agrícolas no Brasil sofreu uma transformação nos últimos anos, trazendo, para a oferta de várias marcas, alguns modelos oferecidos em vários países do mundo.
Este compartilhamento de modelos alinha o mercado nacional com outros mais desenvolvidos e com maior poder de compra, introduzindo no país algumas tecnologias que antes eram difíceis de se encontrar no nosso campo.
Este estudo foi desenvolvido a partir da oferta explícita nas páginas web das cinco marcas envolvidas, no mês de janeiro de 2025. Evidentemente, esta realidade poderá se alterar nos próximos meses e a partir de novos lançamentos nas feiras agrícolas nacionais, principalmente no Agrishow, de Ribeirão Preto.
Por último, ressalta-se a existência de outros modelos das marcas analisadas que são produzidos em outros países diferentes dos que foram selecionados para a pesquisa e que não se enquadraram no critério utilizado.
José Fernando Schlosser,
Henrique Eguilhor Rodrigues,
Natália do Nascimento Garcez,
Angelo Scremin Rizzatti,
Alexandre Manfio Cancian,
UFSM
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