Avaliação de semeadoras mecânicas e sua eficiência no campo

Por Flávia Santos Moura, Antônio Tassio Santana Ormond e Antônio Augusto Nogueira Franco, da UEMG, e Fernando João Bispo Brandão, do IFMT

11.02.2025 | 16:06 (UTC -3)

As semeadoras-adubadoras exercem um papel fundamental em um sistema de produção agrícola, com as finalidades de dosar e depositar as sementes e o adubo no solo. São responsáveis pela operação de abertura do sulco e deposição das sementes e dos fertilizantes, e efetuam a cobertura dos sulcos para proteção das mesmas. Sobretudo, garantem agilidade na operação e melhor uniformidade do semeio, reduzindo a necessidade de grande demanda por mão de obra.

Dentre os tipos de semeadoras-adubadoras, os modelos de dosador e distribuidor de semente e adubo podem ser diferentes entre si. O modelo de distribuidor mecânico foi o que surgiu primeiro no mercado. Confere maior rusticidade, maior facilidade na manutenção e menor custo, quando comparado ao pneumático. Porém, é um sistema mais propenso a ocasionar áreas falhas, onde não caem sementes, ou duplas, que serão plantas muito próximas uma da outra.

A mecanização agrícola, em particular o uso de semeadoras com distribuidor mecânico, desempenha um papel importante na economia de insumos durante a semeadura. Essas máquinas são projetadas para realizar a distribuição precisa e uniforme de sementes e fertilizantes no solo, garantindo um uso eficiente dos insumos agrícolas. Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho de uma semeadora-adubadora com distribuição mecânica dos insumos.

Trabalho de avaliação

A avaliação da semeadura ocorreu na Fazenda Nova, que compreende uma extensão de 84 hectares cultiváveis, localizada no município de São José da Barra (MG), no sudoeste do estado, com uma altitude média de 765 metros e declividade média de 12%. A semeadura foi realizada no dia 24 de outubro de 2022, por uma semeadora-adubadora Guerra Magnum JM7090PD, contendo 14 linhas de plantio espaçadas em 50 cm de distância e distribuidor mecânico. A semeadora foi acoplada a um trator da série 7J - modelo 7215J, com potência de 215 cavalos. 

O espaçamento adotado para a população de plantas na área foi de 7,15 cm de distância entre plantas, contabilizando 14 sementes por metro, e 50 cm entre linhas, sendo o objetivo final obter uma população de 280 mil plantas/ha. A velocidade média de deslocamento do conjunto mecanizado foi de 6,5 km/h, sendo gastos dois dias úteis para finalizar a semeadura nos 84 hectares cultiváveis. 

Para a realização da análise de desempenho do conjunto, foram geradas cartas de controle, pois esse tipo de estatística consegue apresentar com clareza possíveis pontos em que ocorrem erros, e que podem ser corrigidos em operações posteriores. Dessa forma, o delineamento experimental empregado para avaliação dos dados seguiu as premissas do Controle Estatístico de Processos (CEP), por meio do uso de cartas de controle de valores individuais; tais cartas foram geradas no programa estatístico Minitab 2021.

Os dados fornecidos para avaliação foram exportados da plataforma de agricultura digital Climate FieldViewTM, com usuário e senha fornecidos pelos proprietários da fazenda. Tal plataforma fornece todos os parâmetros decorrentes das operações realizadas, e se faz presente na gestão da propriedade. Ao acessar a plataforma com todos os dados, os mesmos foram exportados para um arquivo zipado, e somente com o aplicativo SMS Advanced de agricultura de precisão foi possível convertê-lo em planilha de Excel. Por fim, com os dados em mãos, foram analisados aproximadamente 39 mil pontos determinados pelo programa, sendo possível a interpretação. Para a avaliação do desempenho operacional, foram considerados apenas 80 pontos escolhidos aleatoriamente.  

Desempenho operacional

Em consideração à velocidade de deslocamento (Figura 1), ela foi estimada para manter uma aceleração de 6,5 km/h. Como foram gastos dois dias úteis para a finalização da semeadura, no primeiro dia da operação, dos primeiros 40 pontos avaliados aleatoriamente, oito deles mostraram-se fora dos limites de controle. Os pontos de números 4, 5, 6 e 7 iniciais estão em oscilação para valores menores do que o LIC (Limite Inferior de Controle), os quais atribuíram quantias por volta de 3 km/h a 3,5 km/h. Já os quatro pontos finais avaliados, de números 37, 38, 39 e 40, oscilaram para valores maiores do que o LSC (Limite Superior de Controle), atribuindo velocidades de 4,7 km/h a 5 km/h. 

Influência do terreno

Mesmo que a média da operação tenha sido de 6,5 km/h, os valores estiveram muito abaixo do estimado para o deslocamento. Isso se deve ao fato de que, no início da operação de semeadura, os operadores começaram o semeio na área mais íngreme da fazenda, provocando, assim, uma maior dificuldade no deslocamento; a média de declividade do local chega a 12%. Passando o trecho mais trabalhoso, no segundo dia de trabalho, como percebido nos outros 40 pontos avaliados pela carta, a operação ocorreu com uma formidável estabilidade, mantendo-se os valores dentro dos limites ideais, com velocidades na média dos 6 km/h.

Capacidade de trabalho das máquinas

Outro parâmetro fornecido pelo sistema foi capacidade de campo (Figura 2), que se trata da capacidade de trabalho de uma máquina e fornece a quantidade de trabalho que a mesma pode realizar em uma determinada unidade de tempo (km/h). Desse modo, a velocidade de deslocamento é um parâmetro crucial no desempenho operacional do conjunto mecanizado. Os valores apresentados na carta de controle da capacidade de campo comprovam a total relação da velocidade de deslocamento com o desempenho operacional da semeadura. Como observado, no primeiro dia da operação, os mesmos pontos anteriormente avaliados seguiram a conformação da carta de controle da velocidade. Simultaneamente, no segundo dia de trabalho, como percebido nos outros 40 pontos avaliados pela carta, a operação ocorreu com uma excelente estabilidade no processo, mantendo-se os valores dentro dos limites ideais.

Estimativa de população de plantas por hectare

Para a estimativa de população de plantas por hectare (Figura 3), tendo em vista que o objetivo era alcançar uma população de 280 mil plantas, notou-se que ocorreram algumas variações dos valores no primeiro dia de semeadura. Os pontos de números 2, 3, 32 e 33 apresentaram-se abaixo do LIC, com valores de 210 mil a 220 mil plantas/ha. E o ponto de n° 25 apresentou-se com valor acima do LSC, alcançando 290 mil plantas/ha. Isso ocorreu pelo fato de que, no momento da operação, foram depositados outros valores a não ser o valor estimado de 14 sementes por metro. De tal modo que, nos pontos abaixo do Limite Inferior de Controle, foi depositado um valor menor do que as 14 sementes/m, de onde, então, não seria possível obter uma população final de 280 mil plantas/ha. Já para o valor acima do LSC, foi depositada uma quantia maior do que 14 sementes/m, contabilizando um estande final com população maior do que a esperada.

Desempenho

A semeadora apresentou desempenho adequado. Verificou-se que os principais parâmetros que afetam a qualidade das operações agrícolas estão ligadas aos fatores 6 Ms, que são: mão de obra, matéria-prima, métodos, medição, máquinas e meio ambiente. São de extrema importância a análise e a interpretação de forma adequada dos parâmetros fornecidos pelas máquinas, para que se alcance uma semeadura perfeita.

*Por Flávia Santos Moura, Antônio Tassio Santana Ormond e Antônio Augusto Nogueira Franco, da UEMG, e Fernando João Bispo Brandão, do IFMT

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